Por Reginaldo A. de Paiva – O esquartejamento do poeta

Por REGINALDO A. DE PAIVA*

OBJETIVOS
Como Maanape, antigamente, buscamos restaurar as 12 peças do corpo do poeta, por ele mesmo sepultadas em vários pontos da cidade, segundo testamento de próprio punho, publicado às páginas tantas de suas Poesias Completas, no obituário da Lira Paulistana.

METAS
Homenagear o poeta Mario de Andrade, através da instalação de um “açougue cultural”, que recupere as práticas de Maanape, irmão de Macunaíma e do gigante Piaimã, comedor de gente e que ainda mora “num tejupar maravilhoso rodeado de mato no fim da rua Maranhão, olhando pra noruéga do Pacaembú” e que hoje se dedica a mastigar casas velhas e terrenos ociosos da Avenida Paulista. Como escreveu a vítima: “o herói picado em vinte vezes trinta torresminhos bubuiava na polenta fervendo, Maanape catou os pedacinhos e os ossos e estendeu tudo no cimento pra refrescar. Quando esfriaram a sarará Cambgique derramou por cima o sangue sugado. Então Maanape embrulhou todos os pedacinhos sangrando em folhas de bananeira, jogou o embrulho num sapiquá e tocou pra pensão. Lá chegando botou o cesto de pé assoprou fumo nele e Macunaíma veio saindo meio pamonha ainda, muito desmerecido, do meio das folhas. Maanape deu guaraná pro mano e ele ficou taludo outra vez”. (Macunaíma/Piaimã, Capítulo V)
Se a “peça acusatória”, apresentada neste documento, nos desvenda o aspecto das partes do poeta, as confissões da vítima, constantes dos Anexos I e II, nos falam de seu caráter irresponsável, brincalhão e irreverente. Nos fala do seu gênio. A recomposição urbana do corpo do poeta comporta um trajeto que se inicia pela visita ao seu joelho na Maria
Antônia e termina com a incorporação do seu espírito, na Praça da Sé. À noite podemos buscar seus olhos piscando, lá pras bandas do Jaraguá, atrás da desengonçada armação de seus óculos.
Esquartejado e deglutido o poeta, estaremos retornando às práticas dos nossos avós tupis que, com muita propriedade, entenderam que o melhor a fazer com missionários de nomes tão apetitosos com Dom Pero Fernandes Sardinha era assá-lo. E o fizeram, com muitos melhores conhecimentos culinários que os esquartejadores de Tiradentes, que esparramaram os pedaços do Mártir pelas estradas de Minas mas entenderam de salgar-lhe a casa (!). Nada entendiam da arte da churrascaria, como se vê.

Clique aqui para ler o artigo completo

_______________________________________________________________________

REGINALDO A. DE PAIVA*

Diretor secretário da Diretoria Executiva (2014/2015); representante do Instituto de Engenharia na Comissão Pré-Centro e na Operação Urbana Águas Espraiadas e na Comissão Licitatória de Concessões Rodoviárias (Secretaria de Estado dos Transportes); membro do Conselho Editorial da Revista Engenharia.

*Os artigos publicados com assinatura, não traduzem necessariamente a opinião do Instituto de Engenharia. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.