Qual o motivo de termos horário de verão?

Prof. Carlos Tadeu Lauand - Engenharia FAAP

Por Carlos Tadeu Lauand*

Instituído no Brasil em 1931, com várias interrupções desde então, o Horário de Verão (Daylight Saving Time, ou DST, em inglês) tem como objetivo, principalmente nos países distantes da linha do Equador, a economia de energia. No Brasil essa economia não é grande, mas o horário de verão provoca um alívio do sistema elétrico nos horários de pico de demanda de energia, os chamados “horários de ponta”.

Para que possamos entender o motivo da adoção do horário de verão, vamos a um exemplo. No inverno, na cidade de São Paulo, o sol se põe, aproximadamente, às 17h30. Nesse horário, acendem-se as lâmpadas responsáveis pela iluminação das ruas das cidades. A iluminação pública representa uma carga considerável ao sistema elétrico. A situação se agrava pois nesse horário, escritórios, comércio e, principalmente, indústrias, ainda estão em funcionamento, consumindo energia com equipamentos, iluminação, refrigeração, etc. Uma grande parte do comércio, escritórios e indústrias para de funcionar somente às 18h00. Temos, portanto, uma grande demanda por energia elétrica nesse horário.

Agora, vamos analisar a mesma situação, mas no mês de janeiro, com horário de verão implantado. Em São Paulo, a iluminação pública será ligada aproximadamente às 19h30. Nesse horário, as indústrias, o comércio e escritórios, em sua grande maioria, já fecharam as portas, reduzindo a demanda por energia elétrica do sistema. A carga referente à iluminação pública, embora grande, não ocorrerá simultaneamente com as cargas industriais, aliviando o sistema.

Por que não podemos ter o horário de verão o ano inteiro?

Bem, imagine o horário de verão implantado no inverno. No período da tarde não teríamos problemas, mas no período da manhã sim. No inverno, na cidade de São Paulo, o sol nasce, aproximadamente, às 6h50 da manhã. Se o horário de verão estivesse em vigor, seriam 7h50. Nesse horário, fábricas e escritórios já estariam em funcionamento e a iluminação pública ainda estaria ligada, ocasionando uma grande carga ao sistema elétrico.

Por que o horário de verão é implantado apenas em alguns estados?

Nas regiões do planeta mais próximas da linha do equador, o sol se põe no mesmo horário o ano inteiro, ou existe muito pouca diferença entre o horário do pôr-do-sol no inverno e no verão. Nesses locais, a implantação do horário de verão não traria alívio ao sistema elétrico nem economia de energia.

Por que existe polêmica quanto aos benefícios do horário de verão?

Bem o horário de verão tem simpatizantes e não-simpatizantes na população. Alguns gostam de ter a iluminação natural até as 20h30 em janeiro e até aproveitam para fazer caminhadas e outros exercícios. Aqueles que são obrigados a acordar muito cedo, pois residem longe de seu local de trabalho, alegam que saem de casa ainda de noite, principalmente no mês de fevereiro, próximo à data de término do horário de verão.

O fato é que o nosso organismo demora pelo menos duas semanas para se adaptar aos novos horários de sono e de alimentação. Algumas pessoas, dependendo de seus hábitos, tem uma maior ou menor facilidade para se adaptar.

Tecnicamente, já se levantou a possibilidade de término definitivo do horário de verão. Existe uma alegação de que o horário de pico de demanda de energia elétrica mudou nos últimos anos. De fato, em 2014 e 2015 houve ocorrência de picos de demanda entre as 15h e as 17h. Mas essas ocorrências, ao que tudo indica, foram isoladas e ocorreram em dias muito quentes nas regiões sul, sudeste e centro-oeste, com temperaturas chegando próximas aos 40º C. O pico de demanda de energia se deu devido à utilização massiva de aparelhos condicionadores de ar nessas regiões. Se essas temperaturas persistirem, pode-se pensar em rever a implantação do horário de verão. Até lá, vamos aproveitar o nosso rei sol até altas horas.

 

*Carlos Tadeu Lauand é professor do curso de Engenharia da FAAP (Faculdade Armando Álvares Penteado). É formado em Engenharia Elétrica e é Doutor em Engenharia pela USP