Artigo – Mulheres nas ciências exatas e engenharia

Enedina Alves Marques, a primeira engenheira afrodescendente do País e a primeira mulher a ter essa graduação no estado do Paraná

No passado, as mulheres foram excluídas da ciência, recebendo como atribuições apenas tarefas domésticas. Estes costumes permaneceram até o século 19 e, em muitos países, as mulheres ainda eram proibidas de frequentar uma universidade. Mesmo estando em 2018, as ciências exatas e as engenharias são vistas como áreas predominantemente masculinas.

No Brasil, as pioneiras na engenharia começaram a conquistar seu espaço no início do século 20. Em 1917, formava-se na Escola Politécnica do Antigo Distrito Federal – hoje Escola Politécnica da UFRJ – a primeira mulher engenheira no Brasil: Edwiges Maria Becker Hom´meil, cujo centenário do pioneirismo foi comemorado o ano passado. Não se sabe o dia exato em que teria ocorrido a formatura, mas o mês indicado por boa parte das citações é março.

Isto faz com que haja uma feliz coincidência entre a declaração do “Dia Internacional da Mulher” (8 de março) e a graduação de Edwiges. Apesar de não haver uma coincidência entre os fatos, isso abre um caminho para mulheres que buscam os mais diversos ramos da engenharia.

Existem outras pioneiras na engenharia civil brasileira, entre elas Enedina Alves Marques, a primeira engenheira afrodescendente do país e a primeira mulher a ter essa graduação no Estado do Paraná. Em 1940, ingressou na Faculdade de Engenharia da Universidade do Paraná. Antes mesmo de entrar na graduação, já lecionava na “Escola da Linha de Tiro”.

Quando se formou, foi designada para trabalhar no Departamento Estadual de Águas de Energia Elétrica. Seu maior feito foi a Construção da Usina de Capivari – Cachoeira, atuando também no aproveitamento das águas dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçú. Apesar de ser vaidosa na vida pessoal, durante a construção da Usina ficou conhecida por usar macacão e portar uma arma na cintura. Era uma mulher cheia de energia, rigorosa, com postura firme e que se fazia respeitar em um ambiente majoritariamente masculino.

Outro caso relevante é o da engenheira Evelyna Bloem Souto (1926 – 2017), a primeira engenheira civil formada pela USP de São Carlos. No final dos anos 50, como bolsista na França, precisou se vestir de homem e até desenhar bigode e barba no rosto para conseguir visitar um canteiro de obras em um túnel na fronteira entre a França e a Itália.

O caminho das mulheres na engenharia foi árduo e repleto de obstáculos. Precisaram vencer preconceitos e impor seu estilo de liderança neste ambiente, ainda hoje, muito masculino. Algumas precisaram encarar situações constrangedoras para poder realizar o sonho de exercer a profissão.

Estudos atuais demonstram que o perfil da engenharia está mudando. Antes um curso predominantemente masculino, hoje atrai cada vez mais mulheres. Em algumas universidades o sexo feminino já ocupa 50% das vagas, contando com o apoio das famílias em mais de 85% dos casos.

O universo acadêmico também tem observado o aumento crescente de mulheres ocupando cadeiras no corpo docente das escolas de engenharia. Uma pesquisa recente divulgada pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) mostra que as mulheres já são maioria na obtenção de títulos de mestre e doutor. Isto faz com que elas ingressem na área acadêmica e, consequentemente, assumam papel relevante dentro dos cursos de engenharia.

Dados do INEP/MEC, de 2011, mostram que o número de mulheres cursando engenharia cresceu 67,8% nos últimos 20 anos, enquanto o número de homens matriculados cresceu apenas 38,7%. Conforme aponta o estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), entre 2003 e 2013, a participação das mulheres passou de 24 mil para 57 mil vagas de trabalho ocupadas em engenharia, equivalente a um aumento de 132%.

Felizmente, os tempos estão mudando e a presença feminina está cada vez maior. No exterior, as engenheiras, principalmente as que atuam no campo da tecnologia, ocupam posições de destaque. Isso demonstra que todo o esforço para tornar a engenharia um ambiente cada vez mais feminino está valendo a pena. As engenheiras têm cargos importantes em empresas como Google, Intel, Apple, Amazon, Dropbox entre outras. Muitas são ainda mais audaciosas e rompem barreiras ao fundar e gerenciar suas próprias empresas.

A partir destes exemplos é que, hoje, as mulheres entendem de motores, circuitos elétricos, robôs e tudo mais, coisa que até pouco tempo eram funções restritas ao universo masculino.

O dia 08 de março é só um lembrete das batalhas que já passaram e as que ainda estão por vir.

Professora Thelma Lascala
Coordenadora do cursos de Engenharia Civil
da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP)