Balões levarão internet a áreas remotas

Na última semana, quando representantes da Google aterrisaram em Brasília para apresentar o projeto da empresa de usar balões para levar sinal de internet e telefonia a regiões isoladas do País, eles não sabiam, mas o assunto não era novidade. Em maio, o governo brasileiro acatou proposta formulada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), especialista em balões, e da Telebrás, responsável pela estrutura de internet no Brasil, de fazer exatamente o mesmo. Desde então, sem alarde, o governo contatou empresas brasileiras da área e já agendou o primeiro teste de transmissão de dados para o início de novembro.

“Usaremos um protótipo feito pela Altave, uma empresa de São Jose dos Campos”, disse o presidente da Telebrás, Caio Bonilha. “Vamos usar equipamentos ‘de prateleira’, ou seja, teremos que nos adaptar ao que vier. Depois, vamos definir os parceiros que farão um modelo nosso, adequado para o que queremos.” Sem se referir ao Google, Bonilha disse que o governo costuma “privilegiar” empresas nacionais e que evitam ao máximo importar equipamentos de eletrônica (“pesa na nossa balança comercial”), mas defendeu a plena competição, a fim de se chegar a um produto de melhor qualidade.

Independentemente de qual fabricante for escolhido, a intenção de levar conexão à áreas rurais distantes dos grandes centros é muito bem vista pelo governo. “O custo é muito menor do que o de uma torre de transmissão. A instalação é mais fácil e o alcance é maior”, disse o secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações (Minicom), Maximiliano Martinhão. Em geral, torres usadas em telecomunicações chegam a até 70 m de altura; já os balões podem ser içados até uma altura de 300 m e de lá cobrir áreas dentro de um raio de quase 100 km. “Poucas estruturas dessas cobrem uma área rural ampla, sem grandes gastos e de forma ágil”, pontua.

Pelo cronograma do governo, os testes serão realizados nos dias 12 e 13 de novembro, em Cachoeira Paulista, interior de São Paulo, onde o INPE possui uma unidade específica de balões. Lá, um balão ora fixado na terra, ora ancorado em um automóvel em movimento, emite sinal de internet para a prefeitura local e para uma escola.

A fabricante do balão deste projeto é também a Altave, startup formada há dois anos por dois engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Um deles, Bruno Avena de Azevedo, fez mestrado em um dos laboratórios da NASA e aprofundou suas pesquisas com balões para exploração planetária. Os sistemas da empresa equipados com câmera já foram utilizados pela Polícia Militar carioca durante o Carnaval e a Copa das Confederações.

“Trabalhamos experimentalmente com gás hidrogênio e estudamos formas de alimentar o balão por mais tempo. Hoje, a carga dura uma semana”, contou Azevedo. “Por isso, recebemos financiamento da Fapesp para pesquisar formas de prolongar esse período em áreas de zonas remotas e pretendemos aplicá-las assim que concluirmos o projeto, provavelmente daqui a um ano.”

Segundo Azevedo, o projeto já é viável hoje. Sua empresa chegou a fazer testes simulando a oferta de serviços de telecomunicações a partir de balões em caso de grandes desastres. “Isso já está maduro, mas depende do Ministério definir o que exatamente vai querer”, diz.

Após a realização dos testes, as etapas seguintes para o governo serão definir o modelo mais adequado, as empresas participantes que desenvolverão o protótipo “pré-industrial” (provavelmente até 2014) e, caso seja aprovado, o desenvolvimento do produto final para o mercado (em 2015). “Vamos fazer essa apresentação piloto e ver se a ideia realmente é válida. Depois, faremos pilotos mais completos, em geografias diferentes. Se tivermos sucesso, montaremos uma política para balões no Brasil”, garantiu Martinhão.

“O balão vai ampliar a área de cobertura a partir de onde conseguimos chegar com rede terrestre, como as regiões de fronteira”, diz Bonilha. “O que faltar, atenderemos com satélite. O objetivo é cobrir o Brasil todo e estamos bem próximos.”

Autor: O Estado de S.Paulo