Brasil vira alvo de engenheiros estrangeiros

Com as portas do mercado de trabalho fechadas pela crise europeia, engenheiros estrangeiros, principalmente de Portugal e Espanha, têm buscado emprego no Brasil. Uma amostra disso foi o que ocorreu no programa de trainees deste ano da Knijnik Engenharia, sediada em São Paulo. Dos 3 100 candidatos a uma das 15 vagas oferecidas pela empresa, 20% eram de estrangeiros. Cerca de 400 eram portugueses. Outros 180 candidaturas vieram da Espanha. A empresa recebeu ainda currículos de angolanos, argentinos e até de indianos.

“Percebemos que alguns respondiam em português usando o tradutor do Google”, conta Daniel Knijnik, presidente da empresa. Ele preferiu convocar apenas brasileiros para a seleção, realizada há um mês num hotel de São Paulo, por causa da necessidade de habilitação profissional no Brasil. O empresário atribui o interesse dos estrangeiros à internet, já que a empresa divulgou a seleção em redes sociais como Linkedin e Facebook tendo os brasileiros como alvo. Alguns dos estrangeiros que se candidataram já eram profissionais experientes, fora do perfil desejado de até dois anos de formado. “É um reflexo de como o desemprego é alto em países como Portugal e Espanha, sobretudo entre os jovens.”

Enquanto a crise deixa engenheiros sem trabalho na Europa e em outras partes do mundo, o relativo dinamismo da economia brasileira segue apontando a falta de profissionais qualificados como um dos principais gargalos da construção civil por aqui. Diante da dificuldade de contratar engenheiros preparados para tocar projetos estruturais, a Knijnik resolveu ela mesma treinar recém-formados para transformá-los em calculistas num curso de um ano, uma espécie de residência. Foi aí que a empresa descobriu que a falta de profissionais está ligada à baixa qualidade dos cursos de engenharia, que dão pouca ênfase ao cálculo estrutural. “A formação é muito generalista”, diz Daniel.

Ao oferecer o curso, o empresário conseguiu inverter o jogo. Se antes era difícil achar um calculista, teve que gastar um dia inteiro entre provas e entrevistas para tirar os seus 15 primeiros trainees de um auditório lotado. Desde 1° de julho, os eleitos ganham 5 mil reais mensais para frequentar as aulas dadas por alguns dos 60 engenheiros calculistas que a empresa já tem. Como a empresa precisa de mais, os trainees já têm emprego e promoção garantidos. Após os primeiros seis meses de curso, serão promovidos a engenheiro júnior com salário de 6 mil reais e estágio nas áreas da empresa. Se apresentarem bom desempenho, serão contratados como engenheiros plenos com salário de 8 mil reais.

Fundada há quatro décadas em Porto Alegre, a Knijnik vem dobrando de tamanho nos últimos anos seguindo a demanda da construção civil por projetos estruturais e de instalações. Faturou 15 milhões de reais no ano passado e já tem filiais em Recife, em São Paulo e no Rio, onde está trabalhando no projeto de várias instalações esportivas para a Olimpíada de 2016. A meta da empresa é fechar este ano com receita de 30 milhões de reais e dobrar o faturamento de novo até 2013.

Autor: Exame.com