Conferência internacional vai apresentar perspectivas do uso dos resíduos de construção e demolição

No dia 28 de abril acontece em são Paulo, no auditório do edifício Mário Covas, na Cidade Universitária, a conferência RCD (Resíduos de Construção e Demolição)como material de construção.

O evento surge num momento de investimento em construção sustentável pelo mercado nacional. Com isso, a demanda por agregados reciclados tende a aumentar. Em outros países, a reciclagem do resíduo de construção e demolição já tem tecnologia de processamento parcialmente consolidada, caso da Alemanha, Suíça e Holanda. 

Daí a intenção do evento, de apresentar uma perspectiva internacional sobre o uso dos resíduos de construção e demolição na visão de pesquisadores que participam do grupo técnico da Rilem (International Union of Laboratories and Experts in Construction Materials, Systems and Structures), além de pesquisadores brasileiros.

Em entrevista, os engenheiros Carina Ulsen e Sérgio Cirelli Ângulo, ambos pesquisadores do IPT e membros da comissão organizadora da Conferência, falaram à PINIweb sobre o evento, os avanços e o potencial do uso de resíduos de construção e demolição na País.

Qual o objetivo do evento e quais serão os principais aspectos tratados? 

Sérgio Cirelli Ângulo – O objetivo do evento é apresentar uma perspectiva internacional sobre o uso de resíduos de construção e demolição (RCD) como materiais de construção na visão de pesquisadores que participam do grupo técnico da Rilem. O evento vai discutir tecnologia de processamento, controle de qualidade e normalização de agregados reciclados de RCD, além de novos mercados de reciclagem.

O potencial de reciclagem no Brasil é aproveitado? 

Carina Ulsen – Definitivamente, não. Começamos a enxergar o problema gerado pelos resíduos há poucos anos. A partir de 2002, com a resolução 307 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), a reciclagem foi estimulada, mas ainda carece de infra-estrutura e investimento. A maior parte das cidades brasileiras não tem um sistema de gestão destes resíduos.
Ângulo – O índice de reciclagem é ainda pequeno e pouco explorado, menor que 5% do total gerado. É necessário ampliar áreas de triagem e de reciclagem, tanto públicas quanto privadas.

De que forma as construtoras podem tirar partido da reciclagem hoje? 

Ângulo – A construtora, que é uma grande geradora de RCD, pode triar o material no canteiro. Madeira, plástico e papel podem ser vendidos para recicladores nos centros urbanos, aumentando seus indicadores de sustentabilidade e reduzindo seus custos. As sobras de concreto, argamassa e cerâmica vermelha são potencialmente agregados reciclados sem, muitas vezes, requerer uma operação de britagem. Pode-se utilizar a criatividade encontrando aplicações dentro do canteiro. Além disso, as construtoras podem e devem consumir o agregado reciclado em base, sub-base de pavimentos, argamassa e concreto. Isso é ambientalmente correto, melhora os indicadores de sustentabilidade e é economicamente viável.

O mercado de agregados reciclados para pavimentos ainda não é muito atrativo para o investidor privado. O negócio poderia ficar mais interessante com a possibilidade de venda de agregados para argamassa e concreto? 

Ângulo – A situação está mudando aos poucos, pois cada vez mais empresas privadas se interessam pelo mercado da reciclagem. A atratividade no mercado de agregado reciclado para pavimento não depende só do valor de mercado do produto, mas também da escala de produção e da distância de transporte envolvida para recepção e fornecimento de matéria-prima. A produção em larga escala pode melhorar essa atratividade. Essa atratividade também melhora na possibilidade de venda de agregado reciclado para argamassa e concreto. O mercado consumidor é mais amplo e o produto tem maior valor agregado, sendo menos dependente da escala de produção.

A Escola Politécnica estava desenvolvendo uma forma de processamento que permitiria separar os agregados mais resistentes, adequados para a produção de concreto e argamassas dos menos resistentes, que continuariam explorando o mercado de pavimentos. Em que estágio se encontra essa pesquisa? 

Ângulo – A pesquisa testou algumas tecnologias de processamento da Engenharia Mineral, em escala laboratorial, e obteve agregado reciclado mais resistente, com menor quantidade de vazios. As propriedades do agregado reciclado ficaram mais parecidas com as do agregado natural. Isso implicou em concretos e argamassas recicladas com consumos de cimentos similares aos concretos e argamassas convencionais. Isso é economicamente muito interessante e atrativo para a indústria.
Carina – A pesquisa continua e os resultados são promissores. A próxima etapa é encontrar uma empresa interessada em aplicar o conhecimento aqui desenvolvido.

O que falta para tornar a reciclagem um negócio atrativo? 

Ângulo – Melhorar e controlar a qualidade do agregado reciclado e ampliar e diversificar os mercados de reciclagem.
Carina – A reciclagem em si já é um negócio atrativo por várias razões: o próprio ideal da reciclagem já é um grande atrativo; empresas têm buscado qualificações ambientais tal como selo verde para transmitir uma imagem de companhia ambientalmente correta. Além disso, é possível fazer desta atividade um negócio lucrativo, e assim deve ser inclusive para estimular a reciclagem. Temos muito o que melhorar nos nossos sistemas produtivos atuais, e para dar um passo à frente é preciso romper também as barreiras do preconceito com a matéria prima reciclada. Além disso, a diversificação dos produtos gerados em uma usina de reciclagem permite uma flexibilidade em épocas de baixo consumo de determinado produto.

O que o poder público poderia fazer para incentivar esse mercado? 

Ângulo – O poder público precisa usar seu poder de compra para estimular a reciclagem. A disponibilidade de mercado consumidor é um ponto-chave para consolidar economicamente as empresas do mercado.
Carina – As administrações municipais deverão criar normas que incentivem o uso de material reciclado e, por outro lado, apoiar a iniciativa e facilitar a implantação de novas usinas. Investidores de capital privado passarão a investir nesta atividade de motivados por interesses ambientais e econômicos.

Para mais informações sobre a Conferência acesse o site: http://rcd08.pcc.usp.br

Autor: PINIweb – Kelly Carvalho