Indústria inova para depender menos da nafta

A Braskem vai inaugurar na próxima semana (dia 25) a Petroquímica de Paulínia (SP), novo complexo industrial da companhia, construído em parceria com a Petroquisa (braço petroquímico da Petrobras).
Com a nova unidade, sonhada há anos pela Braskem, a companhia segue uma tendência marcante no setor: a diversificação da matriz de matéria-prima. 

A Petroquímica de Paulínia, que ampliará em 350 mil toneladas a capacidade produtiva de polipropileno (PP) da Braskem, utilizará o gás propeno de refinaria para fabricação de resinas, diminuindo o craqueamento de nafta. As operações começaram no dia 28 de março, mas a inauguração oficial será no próximo dia 25, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

O Comperj, maior projeto petroquímico do País que começa a ser construído no Rio de Janeiro e com início de produção previsto para 2012, segue a mesma linha de diminuir a dependência da nafta. 

O complexo do Rio de Janeiro irá utilizar uma tecnologia inovadora desenvolvida no Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes), pela qual processará petróleo pesado (abundante no Brasil), para obtenção de eteno e propeno – atualmente, as centrais utilizam a nafta para produção de eteno. A nafta é encontrada em melhor qualidade e quantidade no petróleo leve, produzido principalmente no Oriente Médio. 

O Comperj irá aumentar em mais de 35% a produção nacional de eteno, principal matéria-prima do setor petroquímico. O complexo terá uma capacidade instalada de 1,3 milhão de toneladas de eteno por ano. Hoje, as três centrais petroquímicas do País, localizadas nos pólos de Triunfo (RS), Capuava (SP) e Camaçari (BA), possuem, juntas, uma capacidade produtiva anual de, aproximadamente, 3,3 milhões de toneladas do insumo.

Escassez de nafta
Solange Stumpf, diretora da Maxiquim (consultoria especializada do setor petroquímico), afirmou que o Comperj atenderá um crescimento do mercado petroquímico da América do Sul. 

Segundo Solange, os pólos petroquímicos do País já utilizaram suas potencialidades de expansão. “O mercado petroquímico precisa de um projeto deste porte [Comperj] para atender seu desenvolvimento. As expansões das centrais já foram feitas, chegou o momento de ser ter um novo pólo no País”, destacou Solange.
Para Solange, a utilização de petróleo pesado no Comperj segue uma tendência mundial que visa diversificar o uso de matérias-primas diante da escassez de nafta. As centrais consomem cerca de 10 milhões de toneladas de nafta por ano. Deste total, 3,5 milhões de toneladas já são importadas atualmente. 

“A nafta é uma matéria-prima cada vez mais em falta no Brasil e no mundo. Diante disso, a Petrobras desenvolveu uma forma de diminuir esse peso da nafta e ao mesmo tempo valorizar sua produção de óleo pesado”, completou a consultora. 

O Comperj, que já tem como parceiros a Petrobras, o Grupo Ultra e o braço de participações em empresas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDESPar), terá capacidade de processar 150 mil barris de petróleo pesado. 

Uma das dúvidas do projeto é em relação ao modelo estrutural, que pode integrar ou não a primeira e segunda geração petroquímica em um mesmo módulo industrial. 

Formato do Comperj
De acordo com o diretor de abastecimento e refino da Petrobras, Paulo Roberto Costa, a empresa tratará primeiro da criação da Companhia Petroquímica do Sudeste (CPS), em parceria com o Grupo Unipar, para depois analisar o formato e a conjuntura societária do projeto. 

“A definição dos sócios não está demorando. O que acontece é que priorizamos, no ano passado, a reorganização do setor petroquímico nacional. E esse procedimento é extremamente complexo”, afirmou Costa.
Roberto Garcia, presidente da Unipar, uma das possíveis sócias da estatal no Comperj, segue o discurso de Costa. 

“Nós ainda não nos aprofundamos no assunto Comperj. Este projeto, no entanto, será discutido com profundidade, já que se trata de uma oportunidade de crescimento na Região Sudeste”, destacou Garcia.
Paradas de manutenção 

A Copesul, central petroquímica da Braskem, do Pólo Petroquímico de Triunfo (RS), está parada desde o dia 31 de março para a manutenção da Planta 1. 

A paralisação acontece a cada seis anos e dura, em média, 30 dias. A companhia possui duas plantas com capacidade total de 1,2 milhão de toneladas de eteno por ano. 

Em maio, outra central da Braskem, do Complexo Petroquímico do Nordeste (Copene), localizado em Camaçari (BA), parará pelos mesmos 30 dias. 

A unidade tem capacidade anual de 1,28 milhão de toneladas de eteno. Por fim, em agosto, a Petroquímica União (PQU), central de matérias-primas do pólo petroquímico de Capuava (SP), controlada pela Unipar, ficará em manutenção por 45 dias, 15 dias a mais que a média. Essa parada acontece em função dos ajustes para o start-up da expansão da unidade em 250 mil toneladas de eteno, resultando em uma produção total de 750 mil toneladas por ano no pólo paulista. 

Neste projeto de expansão, a PQU produzirá cerca de 120 mil toneladas de eteno a partir do gás de refinaria da Refinaria de Capuava (Recap), também diminuindo assim seu processamento direto de nafta.

Autor: DCI – Guilherme Arruda