Estímulo à cana no oeste da Bahia

A Agropecuária Xingu, braço da Multigrain, deu início neste mês ao plantio de algumas mudas de cana-de-açúcar no viveiro de sua fazenda na região de Correntina, no oeste baiano. O objetivo é ter 30 mil hectares dedicados à cultura em um prazo de três anos. 

A empresa também já começou a construir uma usina de álcool próxima à fazenda. Esse empreendimento, aliado a bons resultados de pesquisas realizadas com a cana no oeste e um recente decreto do governo do Estado – que concede incentivos fiscais às atividades das usinas de álcool até 2020 – poderá atrair outros produtores e usineiros. 

“A cana tem futuro na região. A terra é boa, a quantidade de água também e a topografia do cerrado é bastante favorável”, afirma Paulo Garcez, presidente da Multigrain do Brasil, uma joint venture entre a brasileira PMG Trading, a japonesa Mitsui e a cooperativa americana CHS. 

A Secretaria Estadual da Agricultura da Bahia estima que nos próximos cinco anos 20 usinas deverão se instalar no interior do Estado, especialmente no sul e no oeste – que por ser uma área de cerrado hoje é dominado por soja, algodão e milho. A expectativa é que o investimento total chegue a R$ 8 bilhões e que sejam produzidos anualmente 7,2 bilhões de litros álcool. Hoje, há duas usinas no Estado que, juntas, produzem 120 milhões de litros de álcool por ano, bem abaixo do consumo local (800 milhões de litros). 

Pesquisas da Fundação Bahia indicam em uma fazenda experimental sustentam que o futuro da cana pode ser promissor pela qualidade que oferece. No Estado, diz a fundação, o teor de açúcar é mais elevado que em São Paulo, Minas e Goiás. “Nossa preocupação é ter uma matriz diversificada”, diz Sérgio Pitt, vice-presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). Para isso, porém, é preciso melhorar as condições de transporte. “Pesquisa e incentivo fiscal já temos. Agora precisamos de infra-estrutura”. 

A aposta dos fazendeiros é na construção de uma ferrovia que corte o Estado horizontalmente. Em outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, com o governador Jaques Wagner (PT), que o governo federal pretende fazer a ferrovia Oeste-Leste em cooperação com o Estado. O investimento estimado é de R$ 2,5 bilhões. Por meio dessa via, será possível escoar a produção do oeste e sudoeste da Bahia até ao Porto de Aratu, perto de Salvador. 

Enquanto a obra não sai do papel, o governo estadual concedeu um benefício fiscal a quem quer produzir álcool. No fim de fevereiro, um decreto determinou que, até 2020, as unidades produtoras de álcool poderão lançar crédito fiscal de ICMS nas saídas internas e interestaduais do álcool produzido por uma usina instalada na Bahia. 

Se a usina estiver nas regiões do semi-árido e do oeste e produzir álcool etílico anidro, o crédito sobre o valor da saída será de 18%. Nas demais áreas, o percentual será de 12%. Se a produção for de álcool etílico hidratado e na região oeste e do semi-árido, os percentuais de crédito são 14% para saídas internas e 7% para saídas interestaduais. Nas demais regiões, o crédito é de 11,5% nas saídas internas e 4,5% nas interestaduais. 

“Sem a isenção, fica mais barato abastecer cidades como Salvador e Barreiras com álcool vindo do Tocantins e de Goiás, Estados com programas próprios de isenção, do que na própria Bahia”, afirma Antonio Cansanção, fazendeiro da região. 

“A notícia é ótima, mas a cana demanda investimento maior na implantação. Eu não vou dar o primeiro passo. O bom é que nem todo mundo pensa assim”, revela Walter Horita, sócio da Horita Empreendimentos Agrícolas. Por ora, ele prefere continuar com grãos.

Autor: Valor Econômico