Os custos da submissão da técnica

Nem bem esfriaram as discussões sobre o acidente do Metrô de São Paulo e as obras retomaram seu ritmo, outro acidente ocupa as manchetes dos jornais.
A gravidade dos fatos, apesar de não envolver vidas desta vez, não é menor, muito pelo contrário, evidencia algo que é dito há muito tempo sem que nada seja feito. A engenharia brasileira, a despeito de todos os avanços propiciados pela tecnologia, está regredindo.
A culpa disto, apesar das justificativas bem redigidas e embasadas, é de todos e o motivo é um só, o desrespeito à técnica na busca pelo custo mais baixo. 

O governo, com sua legislação falha, não têm condições, nem competência para gerir processos licitatórios realmente seletivos, que impeçam empresas desqualificadas técnica e financeiramente de conquistar contratos de obras. 

O mesmo governo, em sua política errática de gestão de pessoal, afastou ao longo dos anos os melhores quadros técnicos, privilegiando indicações políticas e servidores de baixo custo, todos com pouca experiência e conhecimento limitado.
As empresas, segundo os conceitos de administração, buscam obcecadamente o custo mínimo, usando técnicas de otimização e gestão de recursos humanos e equações matemáticas que não consideram variáveis como: Curva de aprendizado, experiência acumulada ou capacidade de identificação e solução de problemas. 
Ou seja, contribuições previdenciárias, salários nominais, horas extras e indenizações trabalhistas são os fatores que definem quem serão os responsáveis pelos mais importantes projetos e obras brasileiras. 

As Universidades, transformadas em máquinas de produção de diplomas, sem qualquer comprometimento com a formação dos jovens, vem criando especializações mercadologicamente segmentadas, sem sequer transmitir os conhecimentos básicos que sustentam os cursos criados.
Critérios fundamentais para a formação de um engenheiro, como grade curricular, carga horária, conteúdo programático, são manipulados pelas instituições, com o objetivo único de lotar as salas de aula. O governo, novamente, faz vista grossa autorizando cursos por critérios no mínimo incompreensíveis. 

Mas as leis da natureza, diferente daquelas elaboradas pelo homem, não podem ser desafiadas sem punição. Um túnel mal construído desaba. Um prédio, um carro ou um circuito mal projetado não cumprem seus papeis com a precisão desejada, necessitando correção ou substituição, gerando custos muitas vezes superiores àqueles cortados do salário de um engenheiro mais experiente. 

A sociedade brasileira precisa aprender a respeitar e remunerar adequadamente o conhecimento técnico. O jeitinho brasileiro há muito excedeu sua competência e não pode (nem deve), ser aplicado a qualquer situação, sob pena de nos remeter ao passado, desperdiçando, em duas gerações, tudo aquilo que levamos séculos para construir. 

Por isso o Instituto de Engenharia, nos dias 8 e 9 de novembro, realizará o evento Reconstruindo a Engenharia Brasileira, num passo fundamental para assegurar à sociedade brasileira que sua engenharia não será abandonada. Que grandes acidentes são acontecimentos pontuais e extraordinários, que a boa técnica não será submissa à má gestão.
Participar é obrigação de todos.

Autor: Edemar de Souza Amorim