Os aproveitamentos hidrelétricos do Rio Madeira

Inicialmente é preciso que se diga que as empresas Furnas e Odebrecht vêm estudando os “Aproveitamentos Hidrelétricos do Rio Madeira”, a montante de Porto Velho, desde o ano 2002.
A primeira hipótese de se construir uma única barragem com aproximadamente 40 metros de altura, criando um reservatório de cerca 1.557 km². Parece ser uma grande área, mas representa apenas 0,106% da área da bacia hidrográfica do Rio Madeira, que tem 1.470.000 km². 

Essa hipótese, apesar de ser a mais econômica e conveniente para nosso pobre país, teve de ser logo descarta logo no início dos estudos, mediante fortes oposições dos movimentos ambientalistas e de outros movimentos sociais. Essas organizações ainda não compreenderam que quanto mais dificultam a construção de “Aproveitamentos Hidrelétricos” racionais e econômicos, mais os custos de energia crescerão no nosso país. É certo que poderíamos ter na Amazônia os melhores e mais econômicos aproveitamentos de energia limpa do mundo, proveniente de recursos naturais disponíveis somente no Brasil (água e grande área territorial). 
Posta esta situação, sobreveio o projeto de partição do grande aproveitamento em duas usinas de baixa queda e praticamente a fio de água, com as localizações no Rio Madeira a montante da cidade de Porto Velho.

Dois Aproveitamentos Hidrelétricos: AHE Jirau com 15,2 metros de queda útil e AHE Santo Antonio com 13,9 metros de queda útil. Dessa maneira, os reservatórios das hidrelétricas serão praticamente inexistentes, levando os projetistas à opção por turbinas do “Bulbo”, próprias para usinas hidrelétricas a fio de água. Na verdade, turbinas desenvolvidas inicialmente para uso em aproveitamento de altas marés na baia de Saint-Malo, França e, hoje, utilizadas em locais onde não é mais possível a criação de reservatórios, no caso, em canais de navegação de países europeus, com áreas das margens densamente ocupadas por edificações.

Desta forma, posto que depois de tantos anos de estudos, as notícias indicam que ainda existem dúvidas sobre a aprovação do “Estudo de Impacto Ambiental – EIA”, o que nos parece absurdo. Assim nem podemos imaginar, hoje, voltar a discutir a irracionalidade dos aproveitamentos de Jirau e Santo Antonio da forma que estão postos. Temos que aceitar o mal menor, que seria: o início mais imediato das obras. Assim, pelo menos em médio prazo, será possível o atendimento das necessidades de energia nas regiões norte e centro-oeste, bem como a interligação das novas usinas ao sistema integrado.

Infelizmente, os órgãos governamentais responsáveis pelo aproveitamento do potencial hidrelétrico da Bacia Amazônica têm se submetido à legislação ambiental brasileira, excessivamente rígida no que se refere ao aproveitamento dos recursos naturais brasileiros, legislação esta que serve muito bem aos países já plenamente desenvolvidos, que já exauriram seus recursos, resolveram há séculos os problemas dos povos indígenas e ribeirinhos. 

É lastimável que não haja esforços para mudança dessa situação. Assim é certo que tenhamos custos crescentes do kWh no Brasil para atender não só a uma população pobre, mas também as atividades industriais já pouco competitivas com outros países como a China, que está construindo 30.000 MW de potência instalada em usinas térmicas a carvão. Mais poluidoras impossíveis.

Engº Walter Coronado Antunes, ex-secretário de Energia do Estado de São Paulo e membro do Conselho Deliberativo do Instituto de Engenharia.

Autor: Engº Walter Coronado Antunes