Faixa Azul aguarda liberação para mais 200km em São Paulo

Evento realizado pelo Instituto de Engenharia avaliou os resultados e debateu detalhes para a ampliação do projeto na cidade

Chefe do Departamento de Banco de Dados e Acidentes da CET, Luiz Fernando Devico. Foto: Deka Carvalho

A Faixa Azul deve ser expandida para mais 200km em São Paulo até o final de 2024. Com o sucesso da iniciativa – que zerou o número de mortes e reduziu drasticamente a quantidade de acidentes graves envolvendo motociclistas nas duas vias implantadas –, as autoridades responsáveis já buscam a autorização necessária.

A ampliação, aliás, esteve entre os temas abordados durante o evento Faixa Azul e Faixa Azul Segregada – Balanço da Experiência em Vias do Município de São Paulo, organizado pelo Instituto de Engenharia, na capital paulista, na noite do dia 15 de junho.

Na ocasião, autoridades e especialistas debateram os impactos positivos da ação e, consequentemente, destacaram a importância em conseguir implementar a iniciativa em outras vias para pacificar o trânsito e, com isso, preservar vidas.

Toda a sociedade deve ter consciência em fazer a sua parte para termos uma cidade sempre melhor”, destacou José Eduardo Frascá Poyares Jardim, presidente do Instituto de Engenharia.

Essa união de forças destacada por Jardim faz todo o sentido quando observamos os números. Atualmente, aproximadamente 1,3 milhão de motociclistas trafegam por São Paulo, com a média de uma morte por dia nas vias, segundo dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).

Dados relevantes da Faixa Azul

A Faixa Azul teve início em janeiro de 2022 na Avenida 23 de Maio. Na sequência, houve a implantação na Avenida dos Bandeirantes. Nesse período, a ação zerou o número de mortes de motociclistas nos dois trechos.

Dos acidentes registrados, foram 8 com feridos graves, 51 com ferimentos leves e 44 sem feridos.

Ainda de acordo com dados da CET, o risco de acidentes para quem usa a Faixa Azul reduziu cinco vezes na Avenida dos Bandeirantes. Por sua vez, caiu em três vezes na Avenida 23 de Maio. Isso sem contar com a redução de até 27% na lentidão nas duas vias.

A sequência da iniciativa depende agora da autorização da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), que acompanha o projeto experimental. A Prefeitura de São Paulo já encaminhou ao órgão responsável a solicitação para a ampliação da Faixa Azul para outras vias.

Na lista das vias em estudo para ampliação estão: Avenida Ipiranga, Avenida Senador Queirós, Avenida dos Estados, Avenida Rangel Pestana, Viaduto Dona Paulina, Rua Maria Paula, Viaduto Jacareí, Viaduto 9 de Julho, Avenida São Luís, Avenida 23 de Maio, Avenida Rebouças, Rua da Consolação, Radial Leste, Avenida Washington Luís, Avenida Rubem Berta, Avenida Teotônio Vilela, Avenida Guarapiranga, Avenida Aricanduva, Avenida Eliseu de Almeida, Avenida Francisco Matarazzo, Avenida Salim Farah Maluf, Avenida Edgar Facó e Avenida Inajar de Souza.

Desafios para a implantação

Como não existe “receita de bolo” para o trânsito, a ampliação da Faixa Azul exige um estudo de cada uma das vias para a identificação da possibilidade ou não de implantação.

As ruas e avenidas apresentam particularidades. Algumas, por exemplo, têm o tráfego de veículos leves e pesados. Já outras exigem um cuidado maior com as conversões e demais acessos.

Outro ponto importante é não reduzir a capacidade do tráfego de automóveis onde o projeto é implantado. Com isso, é feita a readequação dos espaços.

Algumas vias suportam essa adaptação, o que agiliza a implantação. Já outras vão precisar de algumas obras complementares para a readequação dos espaços.

Esse é o caso, por exemplo, da Radial Leste. Chefe do Departamento de Banco de Dados e Acidentes da CET, Luiz Fernando Devico explicou que a via abriga o segundo maior volume de motocicletas na cidade, registrando um número elevado de acidentes.

Entre os desafios do projeto estão as Marginais do Tietê e do Pinheiros. Em uma análise superficial, é possível imaginar que as pistas locais são o caminho para a implantação da Faixa Azul. Entretanto, Devico lembra o problema da transposição com a via expressa, o que significaria um grande volume de automóveis cortando a Faixa Azul. “Essa não seria a melhor alternativa.

Mas, então, como solucionar esse problema? A solução encontrada tem como base uma iniciativa utilizada na Malásia, local que há cerca de 50 anos adota ações para pacificar o trânsito, por conta do grande volume de motocicletas por lá.

Em visita técnica ao país, funcionários da CET visualizaram a possibilidade de adotar para as marginais a Faixa Segregada, que seria construída em pilares sobre o talude dos rios.

Por isolar completamente o tráfego de carros e motos, essa opção permite trabalhar com velocidades diferentes nas vias, garantindo mais segurança para todos.

Além disso, garante o acesso das pistas sem o conflito entre os diferentes modais. “De um lado, a pista das bicicletas. Do outro lado, você colocaria a moto segregada, com sobe e desce com espiral nas pontas”, explicou o vereador Ricardo Teixeira (DEM), ex-secretário municipal de Mobilidade e Transporte e integrante do projeto Faixa Azul.

Por se tratar de uma área de responsabilidade do governo do Estado, Teixeira destacou que já apresentou a proposta para os responsáveis. “Lá é território estadual. Levamos o projeto e agora está com eles”, finalizou.

Para assistir à gravação do evento Faixa Azul e Faixa Azul Segregada – Balanço da experiência em vias do Município de São Paulo, acesse o site do Instituto de Engenharia.

Fonte: Estadão Blue