Salvar as maritacas, proclamar a República

O MUNDO GIRA, A LUSITANA RODA 

Esta frase é de uma empresa paulista de transportes. Como nada tem do “glamour” inútil, dispendioso e efêmero das publicidades modernas, ficou eterna. 

Nela pensei ao ler sobre a velocidade da Terra girando em torno de seu eixo, de sua velocidade de translado em torno do Sol e de sua velocidade de translado em torno do centro da galáxia. Se, “de todas as coisas certas a coisa mais certa é a dúvida”, concluí só haver velocidade de um corpo quando relacionado a outro corpo e assim, se tudo se move, tudo está parado e, se me coloco como centro do mundo, posso afirmar que todo o universo gira em torno de meus grisalhos cabelos. 

Olho o sinal fechado e penso: “sou o centro do universo e não consigo sequer atravessar em segurança esta rua de bairro”. Vejo a faixa zebrada que nossos diligentes urbanistas instalaram no asfalto para me alertar que é por ali, e só por ali, que eu poderei cruzar o território dos carros, mesmo assim apenas quando o “hominho verde” surgir. No trajeto que devo percorrer, vejo degraus nas calçadas, vejo bem planejada muralha de postes e outros “imobiliários” urbanos e, sem uma estatística muito rigorosa, 25 postes nas quatro esquinas desta outrora tranqüila rua de bairro. Para os que me lêem em descuido, repito: 25 postes, cuidadosamente instalados nesta agressiva paisagem, tornando o trajeto dos pedestres uma pista de corrida de obstáculos. 

Finalizando minha conversa com as maritacas que povoam os coqueiros e as árvores do bairro, filosofei concluindo que “poste é símbolo de subdesenvolvimento”. E, como se, para tanto, nada mais fosse necessário, esta “floresta de árvores secas” disputa o espaço das calçadas como uma variedade multicolorida de placas de informações, quando não desnecessárias, fatalmente inúteis. 

O alarido das barulhentas aves confirma meus devaneios.

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