Veja a entrevista do engenheiro Altair Gonçalves Damasceno sobre o ciclo de palestra BIM

O senhor assistiu a todas as palestras BIM, porque se interessou pelo assunto? 

Foram realizadas 26 palestras de representantes das empresas que atuam no mercado brasileiro, que desenvolveram softwares para todas as disciplinas e implantam também a tecnologia BIM em empresas de consultoria, construção civil, plantas industriais, projetos e obras de infraestruturas etc. 

Nas palestras dadas pelas empresas, foram feitas várias abordagens: o desenvolvimento histórico do BIM, sua situação atual no Brasil e no exterior, os caminhos futuros para o desenvolvimento e aplicação dos processos e tecnologias que o conformam, introduzindo um vasto campo que já se tornou indispensável à produção contemporânea do ambiente assistido. 

O interesse pelo assunto é pelo fato de o BIM ser a mais significativa mudança na execução de projetos e obras da construção civil, e suas consequências são ainda mais profundas do que as da transição que a indústria sofreu, com a adoção das tecnologias do Desenho Assistido pelo Computador (CAD), nas três últimas décadas. O BIM é uma perspectiva internacional. O setor da construção civil no mundo desenvolvido está apressando-se para adotar o BIM como um agente catalisador para ganhar eficiência operacional e como dinamizador dos negócios. A tecnologia BIM está redefinindo e mudando radicalmente a engenharia no século 21. 

Como as palestras e o sistema BIM têm colaborado em sua atividade? 

As palestras contribuíram para o conhecimento e o entendimento da tecnologia BIM, compreendendo as dificuldades e os desafios para implantação do processo e da tecnologia BIM em uma determinada empresa, que terá de compatibilizar o processo convencional e analógico do AutoCad 2D, com o processo de modelagem digital do BIM em 3D, 4D, 5D e 6D. Isso se configura como uma mudança de paradigma. 

A escolha dos softwares mais adequados a determinadas atividades das empresas, e as ações e decisões devem ser tomadas para que o investimento na tecnologia BIM seja viável e produtivo para as empresas. 

Para a implantação da tecnologia e utilização dos conceitos BIM numa empresa, há várias etapas a serem vencidas: 

– Decisão firme da diretoria da empresa para implantação do BIM;
– Definição da equipe;
– Escolha do projeto piloto;
– Mudança cultural;
– Escolha da ferramenta, por exemplo, softwares BIM (Revit X Archicad) etc.;
– Treinamento;
– Implantação e Configuração;
– Integração de modelo em ambiente BIM;
-Interoperabilidade.

Com a implantação do BIM nas empresas, vários são os benefícios: 

– Ferramenta de gerenciamento padrão que garante a consistência das informações;
-Todos os usuários (autorizados) do trabalho, em todos os projetos e disciplinas, tem acesso aos dados em tempo real;
– Alcance global do projeto;
– Redução de custos;
– Aumento da produtividade;
– Redução de erros.

Quais foram os aprendizados? 

Foram diversos os aprendizados e conhecimentos adquiridos nas palestras: 
a) Conhecimento de um novo processo tecnológico, de compatibilização sistemática multidisciplinar entre projetos de várias disciplinas (arquitetura, estrutura, hidráulica-sanitária, elétrica, refrigeração, telefonia e gás etc.); 

b) O BIM-Modelagem da Informação da Construção-, em 3D, é um processo inteligente, baseado no modelo, que serve para todo ciclo de vida do projeto (planejamento preliminar, com definição do projeto básico e layout, projeto executivo e dimensionamento, manutenção e finalização, com visão mais acessível e transparente; 

c) Detecção de erros, imprevistos e pontos de interferências entre os projetos das várias disciplinas, gerando desenhos (cortes esquemáticos) das interferências em 3D; 

d) Maior eficiência na construção, com soluções integradas das informações, com melhores controles nas alterações e execuções dos projetos, minimizando os prazos e custos nas intervenções de alterações e correções dos projetos; 

e) Melhoria no gerenciamento e rastreabilidade das informações, fluxos de trabalhos, revisões de arquivos e coordenação multidisciplinar; 

f) Fluxos de trabalhos digitais, para controle e gestões de serviços de revisões com uso de softwares que possibilitam o trabalho em modelo integrado e padronizado, conectando as várias equipes distribuídas; 

g) Melhoria contínua da qualidade e dos processos (ferramentas de consistência e regras de negócios, ferramentas de análises e gestão de ativos); 

h) O BIM parte de um banco de dados e de um desenho em AutoCAD (2D), gera informações em 3D (modelo), e outras informações em 4D (planejamento e acompanhamento da obra), em 5D (informações sobre cronograma just-time, quantificações e custos), e em 6D (manutenção/Facility Management), com acompanhamento de todo ciclo de vida do projeto. 

i) Soluções viáveis para os desafios de prazo, custo, precisão, relevância, possibilidades de trabalho paralelo projeto/obra, coordenação contínua, distinção de funções e melhoria do fluxo de informações multidisciplinares; 

j) O uso da nuvem de pontos do escaneamento a laser no BIM possibilita mais precisão do ambiente construído e alta definição das informações. O escaneamento a laser é utilizado pelas indústrias aeroespacial, petroquímica e automobilística, para levantamentos de dados de campo, topografia e engenharia reversa, por meio de levantamentos indiretos; 

k) Na construção civil, o trabalho é conflitante entre as várias disciplinas e repelido em diversos locais, dispersando recursos e ocorrendo desperdícios, porque todo processo de interpretação de desenhos e memoriais de cálculos são analógicos, por meio de desenhos, fluxogramas, memoriais, ábacos e gráficos etc, gerando documentos, com uso do papel, para disseminar as informações. No ambiente BIM, conectado à internet, o fluxo de trabalho é unificado, gerando responsabilidades, com importação e exportação de dados digitais, que permitem a interação e conexão on-line entre o projeto e a obra, por meio dos tablets, ocorrendo uma substituição do uso do papel e também do processo analógico (AutoCAD) pelo processo digital (tecnologia BIM). Portanto, houve uma transição do processo convencional (analógico) para o processo BIM(digital); 

l) A tecnologia BIM não é apenas a construção de um modelo em 3D, mas também a construção das informações, na qual é fundamental a Gestão do Processo BIM; e a empresa Bentley Systems desenvolveu um software, o Project Wise para Gestão Eletrônica da Documentação, que tem por objetivo a substituição do papel pelo uso do tablet. 

m) A interoperabilidade é a chave para garantir consistência e confiabilidade das informações geradas por todos os especialistas envolvidos, utilizando diferentes softwares e um fluxo de trabalho multidisciplinar; 

n) O processo e a tecnologia BIM não prescindem da experiência do engenheiro projetista e calculista, nem da experiência do engenheiro de obras, que pelas suas experiências adquiridas podem ser de extrema utilidade no processo BIM e agregar valor ao projeto final. 

Qual é a sua avaliação em relação às palestras e aos temas

A Divisão de Informática foi bem sucedida ao promover as palestras de introdução ao uso do BIM porque, além de trazer o conhecimento da inovação da tecnologia na elaboração de projetos de engenharia, mostrou o estado da arte em vários segmentos: imobiliário, construção civil, obras de infraestruturas e plantas industriais etc. 

Além de mostrar a demanda e o interesse do mercado brasileiro para a implantação da tecnologia BIM, principalmente nos anos de 2012 a 2014, com a construção dos estádios de futebol e as obras de infraestrutura, visando os jogos da Copa do Mundo de 2014. As palestras foram muito bem conduzidas pelos engenheiros e arquitetos palestrantes e representantes das empresas mais renomadas, atuantes no mercado brasileiro e mundial que abordaram, de forma prática e objetiva, a contextualização do processo BIM nas mais diversas disciplinas e segmentos de mercado. Além disso, expuseram e demonstraram os softwares desenvolvidos pelas suas respectivas empresas e como esses diferentes softwares de determinado projeto podem ser conectados e compatibilizados pelo software gerador, que uniformiza a linguagem de todos os softwares envolvidos no projeto (interoperabilidade). 

Em todas as palestras foram sempre expressivas a participação de engenheiros e arquitetos, que atuam na elaboração de projetos, em empresas públicas e de consultorias e consultores autônomos, os quais já tinham alguns conhecimentos sobre o processo BIM. 

Os temas abordados foram feitos em forma de apresentação e introdução ao uso do BIM, para os vários tipos de disciplinas e projetos, e conseguiram transmitir os múltiplos benefícios e o fluxo de trabalho adotado para a compatibilização de um projeto BIM, sendo sempre citados cases de sucesso, em projetos desenvolvidos com processo BIM. 

Quais são suas sugestões para 2015? 

O Instituto de Engenharia, por meio da Divisão de Informática, deveria: 
1º) Dar sequência ao Projeto de Introdução ao uso do BIM, fazendo o Projeto de Operacionalização ao uso do BIM (por meio de aulas práticas). 

2º) Promover workshop com participação das empresas de implantação da tecnologia BIM e com apresentação de seus respectivos softwares, para os vários tipos de projetos, inclusive com a participação da ABNT, referente ao trabalho desenvolvido pela Comissão Especial de Estudo (CEE-134) para a normalização da introdução da tecnologia BIM no Brasil. 

3º) Promover cursos para formação de engenheiros e arquitetos habilitados a operacionalizar o BIM, nas empresas de consultorias e projetos, tendo em vista a carência de profissionais que dominam a tecnologia do BIM e a alta demanda pelo mercado imobiliário e construção de obras de infraestrutura. 

4º) A maioria das universidades e faculdades de engenharia e arquitetura, não estão preparadas para formação de profissionais em tecnologia BIM e, em muitas delas, esta tecnologia não é contemplada em suas grades curriculares. 

5º) Fazer workshop da tecnologia BIM, aplicado aos Projetos de Infraestrutura Ferroviária, tendo em vista a demanda atual e futura pelos transportes ferroviários de cargas (agronegócio, mineração e containeres) e passageiros (trens expressos metropolitanos).

Autor: Fernanda Nagatomi