O risco do presente estar na contramão do futuro

Pesquisa realizada pelo Ministério do Trabalho dos EUA revela que 65% das crianças da escola primária daquele país irão trabalhar, quando adultos, em serviços que ainda não foram inventados ou sequer desenvolvidos. 

São números assustadores, especialmente se confrontados com os números nacionais, em qualquer área da educação e do conhecimento humano. Como parâmetro dessa preocupação, destaca-se a 

Pesquisa do Instituto Paulo Montenegro que aponta possuirmos índices na contramão do conhecimento futurista, pois 60% dos brasileiros, na faixa etária dos 14 aos 45 anos, não conseguem executar cálculos rotineiros do dia a dia. São, portanto, classificados como “analfabetos científicos”. 

Quanto àqueles que possuem algum conhecimento científico, a situação não é melhor. O Brasil ocupa a 58ª posição (conforme ranking da OCDE- Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). 

Aprofundando-se nos números norte-americanos, encontra-se que entre as oito futuras prósperas atividades apontadas pelo “Programa Estudos do Futuro“, quatro delas (50% portanto) estão relacionadas à medicina e saúde no trabalho e ao bem estar humano; duas dedicam-se ao meio ambiente e outras duas à tecnologia e inovação. 

Isto é, a inovação e o conhecimento científico são as óbvias ferramentas de interligação às melhorias sócioambientais e de responsabilidade social, objetivos finais em qualquer época da idade humana. 

Ou seja, a inovação e as carreiras do futuro, não estão circunscritas a qualquer modelo do entendimento humano atual, mas a um ideário a ser descoberto, desenvolvido e atingido.
Ora, esta avaliação das perspectivas futuras é uma notícia mais devastadora do que a cruel realidade atual do Brasil, que possui 60% de “analfabetos científicos” na faixa etária produtiva. 

Se as carreiras do futuro não estão circunscritas a nada ainda existente no conhecimento humano, o que pensar daquela parcela da população que hoje imagina-se habilitada cientificamente no sentido “lato sensu”, e que se prende a qualquer tipo de ideologia, vivendo emparedadas em pré-conceitos do passado ? 

Por exemplo: um jovem brasileiro na faixa de 25 anos hoje, quando atingir 40 estará competindo com um norte americano que ingressará no mercado de trabalho com 20 ou 25 anos, para executar uma tarefa absolutamente inovadora (segundo a pesquisa citada no início). A chance de sucesso estará de qual lado? 

É, ou deveria ser ainda mais assustador, perceber que grande parte dessa população(habilitados cientificamente), está engajada em posturas ideológicas desenvolvidas há quase 200 anos, e que no presente não comprovam o mínimo resquício de resultado prático quer seja econômico, cultural, social e humano em qualquer parte do planeta. Ainda mais diante do futuro esperado. E do futuro inesperado? 

Este risco ideológico, que não é de hoje, já tinha em Epicteto (135DC -filósofo grego) um agregador pois afirmava que “Os homens são movidos e perturbados não pelas coisas, mas pelas opiniões que eles têm delas”. Considerando-se a lógica deste pensador, não é possível começar a aprender aquilo que se presume saber. 

Retornando à nossa pesquisa, temos no Brasil 60% de “analfabetos científicos” ladeados com outros tantos “analfabetos” do pensamento lógico e de visão futura. Quantos sobram conscientes? Não sabemos… 

A certeza atual e minimamente plausível indica que o futuro promissor é daqueles que inventarem uma nova realidade desamarrada totalmente dos conceitos presentes. Por conta da pesquisa norte americana, pode-se prever que as conquistas socioambientais consistentes, estarão no centro dessas realizações. Referendando esta tendência já hoje em dia, está que o perfil do consumidor em mercados avançados, é de um indivíduo que valoriza a espiritualidade, sem se interessar portanto se o princípio econômico daquele mercado foi desenvolvido por Keynes há quase cem anos ou menos ainda por Karl Marx há quase 200 anos. 

Estes grupos desconhecerão a palavra “Ideologia”, pois estarão irmanados com os resultados práticos sociais inabaláveis. Estarão centrados em promover produtos e serviços voltados à economia criativa e circular, onde os produtos serão desenvolvidos, para serem transformados logo em seguida. 

Como ficará o Brasil diante desta realidade da concorrência global, se ainda patinamos na capacidade de transformar a mente do cidadão “cientificamente” habilitado? E as empresas? A Gestão Pública e a sociedade? 

Um futuro socialmente melhor, somente será construído quando o entendimento humano desprezar a fé inabalável em dogmas e artifícios formatados no conhecimento presente ou do passado. Alcançar este futuro, que parece estar no presente fisicamente mais próximo, contudo paradoxalmente, mais distante do previsível, significará desnudar-se de ideologias que limitam a percepção holística e abrangente, obrigando o ser humano desenvolver um olhar de 360°. 

Portanto, não há fé inabalável ou ideologia que possa encarar a razão, frente a frente, em todas as idades da humanidade. 

“Para o ser racional, apenas o que é contrário à razão é insuportável”. 

(Epicteto)