Exército no céu: alpinistas europeus dão forma à cobertura do Beira-Rio

Eles trabalham a 30 metros de altura e vestem roupas especiais. São de diferentes nacionalidades e precisam se comunicar em inglês. Em boa parte formados pelos exércitos ucranianos e alemães, o grupo de quase cem alpinistas industriais é responsável por dar o toque de charme ao novo Beira-Rio. Referendados por um curso especial para a função, eles sobem ao céu todos os dias para instalatem as membranas que irão compor a cobertura da casa colorada.

O Globoesporte.com visitou o interior do estádio para conhecer de perto a atividade. As tarefas são dividas por times. Existem as equipes que montam a película no chão, outro grupo que é responsável pelo içamento da peça em um guidaste e aqueles que atuam quando a membrana é aberta e tem a colocação finalizada no encaixe das folhas metálicas. Quem está por trás das funções é supervisor de produção, Nicolas Fiedler, que também atuou na instalação da cobertura do Maracanã, no Rio de Janeiro. A organização das tarefas é o principal segredo para o êxito, garante ele.

– Os times são coordenados por três “capitães” que, aqui, são alemães. Normalmente, nosso trabalho começa às 6h30m e vai até as 19h. Mas, se há alguma membrana que começou a ser aberta, é preciso finalizar, e aí a gente vai até 20h, 21h. Antes de terminar o dia, é preciso se certificar que está tudo bem encaixado. Pois, se ventar ou chover, não haverá risco.

s roupas utilizadas pelos profissioais são praticamente as mesmas dos operários. Alguns equipamentos, no entanto, diferem por serem adaptados do esporte, como, por exemplo, o chamado “gri-gri”, um instrumento de segurança que ajuda a controlar a velocidade de locomoção. A outra diferença são os capacetes – embora seja pertido usar proteções comuns, os alpinistas, normalmente, têm os seus próprios. 

A tarefa que exige maior cuidado está no ponto mais alto do estádio, mas não existem etapas mais complicadas ou mais fáceis, segundo Nicolas. Quando é necessário chegar ao topo, os trabalhadores utilizam uma escada que fica na parte interna do estádio, em frente ao gramado. Já quem atua nas partes mais baixas sobe em gruas para se aproximar das membranas. Independentemente da ação, ser experiente é fundamental na profissão. 

– A maioria deles aprendeu a escalar no exército, pois muitos que estão aqui serviram ao exército em seus países. Outros praticam o esporte. Só que todos têm o curso necessário para a atividade – aponta. – Quem está lá em cima tem que caminhar em cima do ferro, então tem mais risco. Mas não existe mais difícil ou mais fácil. Em cima também é bem quente, mas, aqui, particularmente, tem um vento e uma brisa boa que vêm do rio (lago Guaíba).

Em Porto Alegre, os alpinistas moram em hotéis ou no próprio alojamento da obra. Nos tempos de folga, acontecem churrascos da equipe de reforma. Um dos pontos turísticos visitados pelos estrangeiros foi o Parque Marinha do Brasil, próximo ao estádio. O trabalho passou a ficar intenso no segundo semestre deste ano, quando começaram a ocorrer os testes e as reuniões para definição de como colocar a membrana. A primeira peça foi instalada no dia 20 de novembro. A previsão de conclusão é final do mês de dezembro.
– Eles estão adorando a cidade – resume Nicolas.
Parte translúcida

A membrana translúcida começou a chegar a Porto Alegre nesta segunda-feira. As peças, menores e que ficarão localizadas entre as folhas principais, devem começar a ser instaladas nesta semana. A parte com transparência tomará lugar onde hoje estão as redes verdes, que servem para proteger alpinistas e a obra, caso algum objeto escape.
A nova etapa não irá interromper a abertura de outras partes da membrana principal – ambos os processos ocorrerão de forma simultânea. Enquanto a película menor permitirá a iluminação interna do estádio, a membrana opaca tornará possível que a cor vermelha brilhe no Beira-Rio à noite, como previsto no projeto. Basta que lâmpadas rubras sejam colocadas por dentro e por fora do local.
O que é a membrana?

A membrana é feita de uma mistura de tecido de fibra de vidro com Teflon. O material é flexível como um cartão de crédito e sua durabilidade é superior a 30 anos. A película é imune à radiação ultravioleta e a agentes corrosivos e é capaz de suportar enormes variações de temperatura (de – 200 ºC a 260°C). Tem características autolimpantes, eliminando resíduos apenas com a água da chuva.
A película luminosa não será exclusividade do Beira-Rio para a Copa. Em maio, a empresa Hightex encerrou a instalação da peça no Maracanã. O grupo também é responsável pelo material da Arena das Dunas, em Natal.

* Paula Menezes sob supervisão de Paulo Ludwig

Autor: globoesporte.com