Pacientes paralisados unem as mentes com robô

Robôs controlados por impulsos cerebrais têm sido apresentados em diversas versões ao longo dos últimos anos.

Mas as dificuldades do treinamento da interface neural e a falta de jeito dos robôs para fazerem tarefas úteis do dia-a-dia têm restringido esses avanços ao interior dos laboratórios.

O Dr. José del R. Millán, da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, acredita ter encontrado a solução capaz de colocar os chamados robôs controlados pelo pensamento mais próximos do uso prático: fundir as “mentes” do robô e do usuário.

Este parece ser o melhor de dois mundos, uma vez que as interfaces neurais requerem atenção contínua do usuário, o que as torna cansativas, e a inteligência dos robôs na maior parte das vezes é mais artificial do que inteligência.

Fusão de mentes

Em vez de deixar o controle do robô totalmente a cargo do paciente, o pesquisador criou um sistema híbrido no qual o robô possui um sistema de inteligência artificial que permite que ele navegue razoavelmente por um ambiente doméstico ou de um hospital.

Tão logo o robô encontre uma situação inesperada ou precise tomar uma decisão que parece ser natural para um humano, mas difícil de tomar por um robô, a interface neural entra em ação, e o usuário “diz” ao robô – por meio de um comando mental adequado – o que ele deve fazer.

No restante do tempo, o usuário não precisa se ocupar de nada, e o robô faz tudo o que estiver ao alcance de sua “mente robótica”.

Inteligência compartilhada

O sistema “interface neural/robô parcialmente autônomo” deu resultados melhores do que os previstos.

Em primeiro lugar, o robô move-se de forma muito mais “natural” – próximo ao movimento de um ser humano – não ficando travado quando não sabe o caminho a seguir e nem trombando com as coisas.

Em segundo lugar, o controle do robô semi-autônomo exigiu muito menos dos usuários, que não precisam ficar concentrados o tempo todo.

Em um labirinto de teste, eles demoraram muito mais para conduzir o robô até o final do percurso quando o sistema de navegação do próprio robô foi desligado.

Pacientes paralisados

Mais importante ainda, o Dr. Millán quis testar seu sistema em condições extremas. Para isso, ele contou com a ajuda de dois pacientes que estão paralisados na cama há seis e sete anos.

O controle neural é baseado na leitura dos sinais cerebrais que controlam o movimento motor, dos braços, pernas, pescoço etc. – trata-se essencialmente de um eletroencefalograma em tempo real.

Os cientistas não sabiam se pacientes paralisados – para os quais os robôs podem ser mais úteis, sobretudo em sistemas de telepresença – conseguiriam controlar seus circuitos neurais relacionados ao movimento perdido há tanto tempo.

Mas os resultados foram muito animadores, e os pacientes aprenderam a controlar o robô em seis aulas de uma hora cada uma.

Telepresença

O robô é um modelo comercial chamado Robotino, que recebeu um notebook rodando o sistema de navegação e um aplicativo Skype. A ligação à internet é feita por uma conexão 3G.

O paciente usou um capacete com os sensores não-invasivos para ler seus sinais neurais e um computador com uma câmera, acompanhando o que acontecia com o robô e recebendo as imagens do notebook que ele leva.

Isso permitiu montar um sistema de telepresença completo, que permitiu que os dois pacientes, internados em um hospital, controlassem o robô no laboratório do Dr. Millán, a mais de 100 km de distância.

Autor: Inovação Tecnológica