Como os aviões detectam e atacam veículos na guerra moderna?

Enquanto os rebeldes líbios continuam a luta para retomar as principais cidades do país, as forças da coalizão permanecessem limitadas a atuar em ataques aéreos contra as tropas mecanizadas e os blindados de Kadaffi. Mas como é possível atingir de forma precisa e segura alvos móveis a quilômetros de distância?

Os primeiros caçadores de tanques surgiram na Segunda Guerra Mundial. Os Ju-87 Stuka do lado alemão empregavam táticas de bombardeio em mergulho, e dominaram o início do conflito. Depois, os IL-2 Sturmovik russos e os Typhoon ingleses passaram a confiar na potência de seus canhões de grosso calibre em vôo rasante para pôr fora de combate os Panzers do inimigo.

Com o surgimento da Guerra Fria, o cenário para um combate entre aviões e blindados passou a ser um só: a invasão do centro da Europa pelas forças comunistas do Pacto de Varsóvia. Nesse contexto, os Exércitos da OTAN estariam invariavelmente sob inferioridade numérica ante dezenas de milhares de tanques, blindados e canhões da artilharia soviética. Aviões lentos e pesados capazes de caçar calmamente veículos inimigos seriam um atestado de suicídio num céu dominado por aviões, radares e mísseis hostis. A solução, para a OTAN, foi o aperfeiçoamento de aviões de ataque talhados para missões de apoio em altitudes abaixo da cobertura de radar, como o A-10 Warthog e o Harrier, e o surgimento dos helicópteros antitanque capazes de aproveitar as características do terreno para se esconderem. Eles serviriam como multiplicadores das forças terrestres, e seriam materializados na forma dos famosos AH-1 Cobra e AH-64 Apache americanos.

Em 1989, porém, a Guerra Fria acabou. Dois anos depois, a primeira Guerra do Golfo iria alterar radicalmente todos os procedimentos e táticas das potências ocidentais. Logo nos primeiros dias da operação Desert Storm, a Força Aérea Iraquiana foi posta fora de combate, e seus radares e mísseis antiaéreos deixaram de funcionar. A superioridade aérea total, inimaginável num confronto com os soviéticos, permitiria aos aliados atacarem as poderosas Divisões Blindadas iraquianas bem do alto, evitando vôos a baixas altitudes em campo aberto, onde até um fuzil 7,62 pode acabar sendo fatal.

O problema é que todas as armas antitanque à disposição de americanos, ingleses, franceses e árabes haviam sido desenvolvidas justamente para lançamentos à baixa altitude. Acima do teto planejado de operação, elas perdiam alcance e principalmente precisão. Num misto de sorte e oportunidade, o principal vetor antitanque acabou sendo o F-111 Aardvark, um avião de ataque veloz e pesado, feito para atacar os alvos estratégicos mais bem-defendidos, e que jamais havia sequer treinado para combater pequenos veículos blindados.

Ocorre que o F-111 era um dos poucos aviões capazes de utilizar bombas guiadas (no caso, bombas guiadas a laser) com seu próprio casulo designador, o Pave Tack – a esfera no ventre do F-111 acima. Este sensor possuía câmeras infravermelhas capazes de detectar o calor dos alvos, e um emissor de laser cuja função é marcar alvos até que as bombas guiadas pelo reflexo desse raio atinjam seu destino. No início da campanha, oficiais da USAF perceberam que o Pave Tack conseguia identificar tanques iraquianos parcialmente enterrados no meio do deserto, mesmo de noite, pois a temperatura da areia caía mais rápido que a temperatura do metal.

Na primeira missão real, dois F-111 voando à média altura com pods Pave Tack soltaram oito bombas GBU-12 Paveway. Sete blindados foram atingidos. Imediatamente os bombardeiros foram retirados das funções estratégicas para assumir a tarefa conhecida como tank plinking. O general americano Norman Schwarzkopf planejava destruir ou inutilizar 50% do Exército Iraquiano com ataques aéreos, antes que a invasão terrestre começasse de fato. Resultado: ao longo da campanha, uma única ala de F-111 foi responsável pela destruição de inacreditáveis 920 (você leu certo) blindados iraquianos. A batalha terrestre da Desert Storm acabaria sendo um passeio para os aliados.

Terminados os combates, a USAF e as outras Forças Aéreas envolvidas perceberam que, além de disseminar a utilização de armas ar-solo guiadas, era preciso criar bombas menores e mais flexíveis. Os mísseis Maverick guiados por infravermelho ou TV que equipavam os A-10 eram caros demais e de operação complicada, os mísseis TOW e Hellfire foram desenvolvidos para helicópteros atacando a baixa altura, e as GBU-12 Paveway utilizadas pelos F-111 eram bombas de 227 kg, peso muito maior que o necessário para a maioria das missões.

Ao longo da década de 90, uma nova tecnologia de guiamento se popularizou: o GPS, baseado no posicionamento global por satélites, e capaz de uma precisão de poucos metros mesmo em áreas urbanas: basta saber as coordenadas do alvo. As bombas JDAM americanas seriam largamente empregadas em Kosovo e na Bósnia. Combinado a um sistema de navegação inercial, o GPS faz a triangulação entre a posição exata da aeronave lançadora, a localização do alvo e a análise de acelerômetros e giroscópios do artefato, e permite que bombas e mísseis sejam guiados em quaisquer condições atmosféricas, ao contrário do laser, prejudicado por nuvens, fumaça ou neblina. Outro armamento que surgiu com guiamento combinado GPS/inercial foi a SDB (Small Diameter Bomb), uma bomba com metade do peso da GBU-12, ideal para evitar danos colaterais.

O problema é que, para acertar comboios em movimento, tanto a JDAM quanto a SDB precisariam estabelecer um elo de dados (datalink) com algum radar ou sensor externo para receber informações atualizadas sobre a posição do alvo. Isso já foi testado, e funciona, mas custaria bem caro. Uma solução mais simples e efetiva foi a instalação das conhecidas cabeças buscadora de laser e infravermelho para a guiagem terminal de precisão nas chamadas LJDAM e SDB II desenvolvidas nos últimos anos.

No Afeganistão e no Iraque, ao longo da década de 2000, a oposição de blindados foi relativamente pequena, e os ataques aéreos geralmente consistiram em aeronaves e helicópteros voando em apoio aproximado, conforme as solicitações dos combatentes em terra. Na Líbia, pelo menos por enquanto, não há forças terrestres aliadas, mas assim como no Iraque a superioridade aérea já é total. Os ataques a comboios e concentração de tropas também estão sendo feitos à média altura, a uma distância segura do fogo de metralhadoras e canhões antiaéreos inimigos. Os caças americanos utilizam bombas a laser da série Paveway e JDAM em quantidades maciças, e nada os impede de testarem em combate os protótipos funcionais das LJDAM e SDB II.

Outra arma que pode estar sendo empregada é a bomba de cacho CBU-97. Apesar de não-guiada, ela se desmonta no ar e libera 40 pequenos projéteis com sensores chamados de skeets. Os skeets cobrem uma área de 460 por 150 metros, e quando detectam alvos blindados, disparam seus foguetes rumo ao solo. A simples carga cinética desses projéteis é capaz de destruir um tanque em sua zona mais vulnerável: o teto. Já os skeets que não detectam nenhum alvo desativam sua espoleta automaticamente.

Autor: GizModo