Brasil vai adquirir novo navio oceanográfico

O Moana Wave, que será rebatizado de Alpha Crucis, foi construído em 1973 e tem 64 metros de comprimento por 11 metros de largura. Tem capacidade para levar 20 pessoas e deslocar 972 toneladas.[

A comunidade científica brasileira deverá ganhar em breve um novo navio oceanográfico, que poderá levar a capacidade de pesquisas na área a um novo patamar.

A compra do navio Moana Wave, que pertenceu à Universidade do Havaí (Estados Unidos), faz parte de um projeto de incremento da capacidade de pesquisa idealizado pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP).

O Moana Wave foi construído em 1973 e tem 64 metros de comprimento por 11 metros de largura. Tem capacidade para levar 20 pessoas e deslocar 972 toneladas.

A aquisição agora depende apenas da aprovação do relatório da JMS, empresa norte-americana de engenharia naval contratada para fazer uma vistoria técnica da embarcação. A empresa é responsável por fazer os laudos periódicos para todos os navios de pesquisa financiados pela National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos.

“A vistoria foi acompanhada por uma equipe do IO-USP, que já aprovou a compra. Assim que o relatório for apresentado tomaremos a decisão final para deflagrar a operação de aquisição, que faz parte de uma proposta de levar a pesquisa em oceanografia para outro patamar”, afirmou Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Em abril deste ano, Brito Cruz havia anunciado a intenção de adquirir o melhor navio oceanográfico do mundo.

Navio Alpha Crucis

Se o navio for adquirido, receberá um novo nome, proposto pela diretoria do IO-USP: Alpha Crucis. O nome remete à maior estrela da constelação do Cruzeiro do Sul. Trata-se também da estrela que representa o Estado de São Paulo na bandeira nacional.

“Outro projeto, que deverá ser inserido em chamada do Programa Equipamentos Multiusuários da FAPESP, inclui a compra de um barco oceanográfico com custo na faixa dos US$ 2 milhões. Serão dois instrumentos importantes para proporcionar um salto de pesquisa na área. O Atlântico Sul é pouco estudado e avançar o conhecimento sobre ele tornou-se uma tarefa crítica devido à questão das mudanças climáticas”, afirmou Brito Cruz.

De acordo com o diretor do IO-USP, Michel Michaelovitch, o Moana Wave substituirá o navio oceanográfico Professor W. Besnard, que está sem condições operacionais de pesquisa. O navio, que levou as primeiras equipes de pesquisa brasileiras à Antártica, sofreu um incêndio em 2008 e atualmente não tem capacidade de locomoção.

Essa perda, segundo Michaelovitch, gerou a demanda para a aquisição de um navio que atenda à necessidade de pesquisa oceanográfica no Estado de São Paulo. O Moana Wave representará ainda um incremento das condições de pesquisa em relação à antiga embarcação.

“Em comparação com o Professor Besnard, o salto qualitativo é gigantesco. Uma das principais razões para isso é a diferença de autonomia. Enquanto o Besnard tinha uma autonomia de 15 dias, o Moana Wave tem capacidade para navegar 70 dias”, disse Michaelovitch.

Com a autonomia de 70 dias, os pesquisadores poderão atingir áreas distantes, incluindo não apenas a região do pré-sal – um tema importante atualmente -, mas também outros locais em oceano profundo.

“Isso amplia a capacidade de pesquisas em diversas áreas, como os estudos sobre biodiversidade em águas profundas. Nesse caso, o navio poderá ser útil para cientistas do Programa Biota-FAPESP, por exemplo”, explicou.

O mesmo vale, segundo Michaelovitch, para possíveis parcerias com a Escola Politécnica para desenvolvimento tecnológico em oceano profundo, ou estudos sobre recursos naturais e mudanças climáticas. “Em suma, abre-se um leque de perspectivas de pesquisa que são hoje limitadas pela inexistência de um meio flutuante com capacidade de fazer esse tipo de trabalho”, disse.

Instrumentação

A análise do Moana Wave pela JMS foi realizada nos dias 8 e 9 de novembro, com a presença de uma equipe do IO-USP da qual Michaelovitch fez parte.

“Como pesquisador e usuário do navio oceanográfico, acompanhei pessoalmente a vistoria, juntamente com o atual comandante e o chefe de máquinas do Besnard, além de mais um pesquisador do IO-USP”, disse.

Segundo o diretor do IO-USP, foi feito um levantamento minucioso das condições estruturais, máquinas, equipamentos, instalações e laboratórios, reunindo um conjunto grande de informações. O relatório pautará a decisão final da FAPESP.

“Consideramos que o navio tem boas condições e longa vida útil pela frente. O relatório formal deverá ser enviado em cerca de duas semanas. Se for aprovado, algumas modificações que solicitamos à embarcação serão feitas no próprio estaleiro onde se encontra atualmente, em Seattle. O navio deverá ter condições de chegar ao Brasil em meados de 2011, já em totais condições de operação”, disse.

Segundo Michaelovitch, a FAPESP financiará a compra do navio e a instrumentação deverá ser financiada pelos dois Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) voltados a pesquisas marítimas.

“Vamos pleitear recursos na chamada dos INCTs para complementar a instrumentação do navio, muito embora ele já venha com um conjunto importante de equipamentos. Já é um navio oceanográfico e não precisa de adaptações”, disse.

Navio multiusuário

A manutenção e a gestão do navio ficarão a cargo da USP, segundo Michaelovitch. “O navio pertencerá à USP e não ao IO, embora naturalmente o instituto vá operá-lo. Mas é importante destacar que haverá um compartilhamento das atividades do navio, como sempre ocorreu, no passado, com o Professor Besnard”, disse.

Segundo Michaelovitch, não haverá restrição a projetos de outras unidades ou instituições. “Unidades da USP como a Escola Politécnica, ou o Museu de Zoologia, ou o Centro de Biologia Marinha, têm competências específicas de pesquisa para as quais o navio será muito útil. Projetos ligados a grandes programas – como o Biota-FAPESP – reúnem sempre pesquisadores de várias universidades, como a Unicamp e a Unesp”, disse.

O Brasil tem atualmente três navios oceanográficos em operação, o Cruzeiro do Sul, o Almirante Maximiano e o Ary Rongel – veja também Navios científicos brasileiros partem rumo a novas pesquisas.

Autor: Agência Fapesp