Diariamente, 12 carretas com 10 automóveis cada partem da fábrica da Fiat em Betim (MG) para um percurso de 3,2 mil quilômetros. Atravessam São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, quase sempre enfrentando estradas ruins, até chegar ao destino, a Argentina. São 10 dias, entre viagem e trâmites alfandegários. Por navio, levaria de 25 a 30 dias, boa parte por causa da falta de infraestrutura dos portos nacionais.
Desde o início do ano, a Fiat exporta modelos como Palio e Uno para a Argentina, seu maior cliente externo, por rodovias. Também traz o Siena, produzido em Córdoba. Além do ganho em tempo, a operação garante maior integridade à carga. “Na operação marítima precisamos carregar e descarregar os veículos oito vezes”, diz Eduardo de Souza Antunes, supervisor de operação e serviços logísticos. “Por carreta, são só dois movimentos, de carga e descarga.”
Num momento em que tenta recuperar terreno perdido no ano passado, quando as exportações caíram 35% ante 2008, a indústria automobilística se depara com o antigo problema da falta de infraestrutura e burocracia nos portos brasileiros. Paralelamente, enfrenta dificuldades para receber produtos importados, também num período de crescimento de encomendas.
A Ford eliminou as dificuldades com um porto privado na Bahia, o único da montadora no mundo. Instalado próximo à fábrica de Camaçari – responsável por 70% das exportações da marca -, o porto, inaugurado há cinco anos, já movimentou 500 mil veículos. “Uma das vantagens é não ter de enfrentar o congestionamento dos portos públicos”, afirma Edson Molina, diretor de logística da Ford América do Sul.
Alternativa. A General Motors buscou alternativa intermediária. Investiu R$ 30 milhões em uma central de logística no Porto de Suape (PE), onde recebe o modelo Agile produzido na Argentina para ser revendido no Norte e Nordeste. Antes, os carros vinham pelo porto do Rio Grande do Sul e demoravam dez dias para chegar à região, prazo que caiu à metade. Futuramente, deverão desembarcar em Suape os modelos Malibu e Camaro, importados dos EUA e Canadá.
“A infraestrutura e as operações portuárias não têm crescido na mesma proporção que o nosso comércio internacional”, lamenta Paulo Andrade, diretor para o mercado internacional da Marcopolo, fabricante gaúcha de ônibus que exporta 35% de sua produção – 3 mil a 5 mil veículos/ano. “Passamos por momento crítico e damos espaço aos asiáticos que têm logística e custo menores que os nossos.”
Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a logística no Brasil representa 16% do Produto Interno Bruto (PIB). Em países competitivos, não ultrapassa 10%. O preço do frete do Brasil para a América do Sul é mais caro do que da Coreia para o México e o Chile.
Antunes ressalta que a posição geográfica da Fiat dificulta o uso de portos, mas vê vantagem no fato de a fábrica poder despachar caminhões de acordo com as necessidades diárias. Se fosse usar navios, seria preciso reunir grande quantidade de veículos.
Ele diz ainda que a operação rodoviária só é vantajosa se o caminhão que leva carros do Brasil voltar carregado com o modelo fabricado na Argentina. Quando não é possível, a saída é recorrer aos portos de Santos e do Rio.
Segundo Antunes, o ganho principal pela via rodoviária é o menor tempo para o produto chegar ao cliente, custo mais baixo e menos risco na movimentação dos carros. O Siena que vem da Argentina é colocado na carreta em Córdoba e levado ao porto de Buenos Aires. Lá, é descarregado num pátio e depois levado para o navio. Quando chega ao Brasil, vai para o pátio, depois para a cegonha e, finalmente, é descarregado na fábrica. “O risco de avarias é enorme”, diz.
Disputa por espaço. O porto da Ford foi construído pelo governo da Bahia e cedido em concessão de uso como parte das negociações para a instalação da fábrica no Estado, em 2001. Está a 35 km do complexo de Camaçari e serve também para importação de veículos da marca.
O pátio tem capacidade para 6 mil veículos. Os modelos que são produzidos em São Bernardo, no ABC, e exportados via Porto de Santos, disputam espaço no pátio com outras empresas.
O mesmo ocorria quando a Ford usava o porto de Salvador. “A fila para entrar levava até dois dias”, diz Molina. “No nosso porto é só o tempo de liberação aduaneira, de até quatro horas.” A Ford transporta cerca de 2 mil veículos em cada embarque.
Para entender
Estudo do Banco Mundial classifica o Brasil em 34.º lugar em competência logística portuária na comparação com outros países. No quesito logística como um todo, que reflete a competitividade do país, o Brasil está na 126.ª posição. No ano passado, as montadoras exportaram 475,3 mil veículos, ante 734,6 mil em 2008. Neste ano, até maio, foram 288,1 mil, 78,6% a mais que no mesmo período do ano passado.
Autor: O Estado de S. Paulo