Faltam profissionais de engenharia e estratégias de longo prazo ao Brasil

O presidente do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), Marcos Túlio de Melo, disse em Curitiba, que o Brasil perdeu a cultura de planejamento estratégico de longo prazo. “Isso criou uma geração de lideranças políticas que pensam apenas no curto prazo. Nesse sentido, nós perdemos as décadas de oitenta e noventa e agora precisamos de planos e ações concretas diante de um país que será a quinta economia mundial dentro de dez anos”, afirmou Túlio. Ele participou do seminário Projeto País: Governança e Gestão – Desafios da Infraestrutura, que foi realizado na capital paranaense. O evento, realizado pelo Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), reuniu engenheiros de todo o país para elaborar estratégias que deverão ser entregues aos candidatos à Presidência da República em um congresso nacional da categoria, em agosto.

São vários e graves os problemas de infraestrutura de obras públicas apontados na reunião em Curitiba, entre eles a falta de planejamento, má gestão, aspectos políticos, financeiros e falta de profissionais capacitados. No Brasil formam-se 32 mil engenheiros por ano e o número é considerado modesto em relação à demanda. Jaime Sunye Neto, presidente do IEP, destacou entraves na logística de transportes de cargas. “Para incentivar uma frente agrícola no sul do Maranhão, por exemplo, o governo federal lançou o projeto de construção do Porto do Itaqui em 2002, mas até agora a obra não foi concluída”, observou.”Para tentar corrigir inventaram o vale diesel, que consome R$ 1 bilhão por ano, para que os caminhoneiros possam levar a soja do norte para outros portos do país. Sabemos que o custo do transporte ferroviário equivale a um terço do rodoviário”, esclareceu. “O transporte fluvial custa oito vezes menos que o rodoviário, mas não aproveitamos nossas hidrovias. Enquanto, na Europa, se usa e abusa dos trens em percursos de 400 quilômetros, no Brasil vamos de Curitiba a São Paulo de avião”, disse Sunye criticando o uso inadequado dos meios de transporte no país. “Em 1977 a prioridade número um para o país era a ferrovia. Passados trinta anos, ainda tempo o mesmo problema”, completou.

Seria preciso investir R$ 250 bilhões para resolver o problema de saneamento do país hoje, afirmaram os engenheiros durante o encontro. Segundo Marcos Túlio de Melo, “precisaríamos de R$ 13 bilhões por ano nos próximos vinte anos para resolver apenas o problema atual”. Os dados computados pelo presidente do Confea também dão conta de que a população necessita de pelo menos 14 milhões de habitações. “Se as taxas de crescimento se mantiverem, teremos um déficit habitacional de 27 milhões de residências em 2025”. Diante de todos esses números, o ex-ministro de Minas e Energia, Francisco Gomide, que também participou do seminário, defendeu uma reforma política radical para acabar com o problema de ingerência na infraestrutura. “Brasília é uma vergonha. Se continuarmos assim vamos nos transformar em um balcão de negócios”, declarou. “Temos que aposentar essa turma de incompetentes”, criticou. Com base em levantamentos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o IEP calcula que a má gestão de infraestrutura de obras públicas faz o país perder anualmente US$ 15 bilhões, o que equivale a 1% do PIB.

Luz no fim do túnel

Embora os engenheiros tenham destacado grandes obstáculos, também mostraram alguns avanços no Brasil. “Tenho viajado muito pelo país recentemente e pude ver municípios que elaboram planos estratégicos de longo prazo para 2020 e estados que têm projetos para 2030”, disse Marcos Túlio. “O estado do Espírito Santo, por exemplo, onde há dez anos não havia projeto algum e estava tomado pela corrupção e bandidagem, hoje está completamente diferente”, afirmou. “Na área privada, temos o exemplo incrível da companhia de mineração Vale do Rio Doce, empresa onde o mais recente planejamento estratégico tem um prazo de 200 anos”, revelou. “Em minhas participações em seminários realizados em Cuba, Costa Rica, Venezuela e outros países da América Latina, notei que há grandes expectativas que que o Brasil lidere o processo de desenvolvimento e seja um player numa nova ordem mundial”, complementou.

Autor: Paranashop