Salitre ameaça estruturas e exige orientação técnica nas construções

O Centro de Convenções da Bahia (CCB) está interditado para que as suas 5.500 toneladas de estrutura de aço recebam novo banho de tinta. A medida aplicada a este gigante da engenharia de Salvador é um indicativo do risco que a ação corrosiva da maresia representa a estruturas de base metálica – de obras complexas a construções como as lajes de casas populares.

Diante do CCB, do qual foi autor do projeto estrutural, o engenheiro civil Carlos Emílio Meneses Strauch lembra que o aço utilizado ali é sete vezes mais resistente à corrosão que o aço comum. Com 360 metros de comprimento e 45 metros de largura, o centro de convenções foi construído na década de 1970.

Como engenheiro estruturalista, Strauch não hesita em considerar o salitre como “nosso grande problema”. Sua explicação parece simples: “O ferro, na natureza, só existe oxidado (como óxido de ferro, semelhante à ferrugem). Só depois de passar por altas temperaturas é que o minério é fundido e se converte em aço. Mas, em contato com o oxigênio, ele tende a voltar a ser óxido de ferro”. Ou seja, tudo o que se tem a fazer é impedir o contato do aço com o oxigênio, presente no ar e na água.

Nos locais próximos à costa, influenciados pela maresia, que transporta partículas de sal, a corrosão das estruturas de ferro é mais intensa. Conforme explica a coordenadora do Laboratório de Química Analítica da Universidade Federal da Bahia, Tânia Tavares, o salitre, em contato com o ferro, promove uma reação elétrica e desencadeia o processo de oxidação e formação da ferrugem.

Lajes “à migué” – Uma preocupação de Strauch são as obras feitas sem orientação técnica, principalmente nas áreas de baixa renda, onde os pedreiros fazem as vezes de engenheiro estrutural. “É o caso daquelas lajes feitas à migué, sem revestimento adequado”, observa. Segundo ele, o revestimento de concreto sobre as estruturas de ferro devem ter, pelo menos, dois centímetros de espessura para impedir a oxidação.

O uso de ferro nas estruturas de concreto requer cálculos específicos para determinar a quantidade de material a ser usado que garanta a segurança da construção. “O engenheiro estruturalista calcula a quantidade de ferro que deve levar cada peça e a espessura do revestimento de concreto para não ser atacado pelo salitre”, diz.

E o que explica a resistência das construções antigas, que podem ser vistas no Centro Histórico de Salvador, com 300 e até 400 anos? “Não têm ferro”, responde, taxativo, o engenheiro e professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Antigamente, as obras eram feitas com pedra e madeira, materiais que não estão sujeitos à ação corrosiva do salitre.

Assistência – Para evitar que, por falta de condições para contratar arquitetos e engenheiros, as pessoas de baixa renda corram risco de ter obras condenadas por falhas estruturais, serviços gratuitos são oferecidos. Em Salvador, pela Secretaria de Desenvolvimento Habitação e Meio Ambiente e, em Lauro de Freitas, pela Unime.

Autor: A Tarde