Perito defende o uso de engenharia diagnóstica para avaliar as condições dos estádios de futebol

Na opinião de Tito Lívio Ferreira Gomide, qualidade dessas edificações esportivas depende da aplicação das ferramentas de diagnostica e de ações coordenadas de projeto e planejamento

A realização da Copa do Mundo de futebol no Brasil em 2014 está mobilizando a população e as autoridades para as obras e serviços necessários ao evento. As primeiras atenções e preocupações estão voltadas aos estádios, uma vez que as precárias condições de acesso, conforto e segurança são características comuns dessas edificações.

Na opinião do engenheiro perito Tito Lívio Ferreira Gomide, para que os estádios possuam boas condições técnicas, é necessária a realização de ações coordenadas de projeto e planejamento, mas sobretudo do uso das ferramentas da engenharia diagnóstica para a obtenção de informações precisas sobre as reais situações dos estádios. Confira, a seguir, entrevista com Gomide sobre o tema:

Como a engenharia e a arquitetura podem melhorar as condições técnicas dos estádios?
A moderna tecnologia poderá contribuir muito para sanar os problemas técnicos dos estádios, pois a engenharia e a arquitetura possuem ferramentas e recursos para reformar e construir novos estádios, oferecendo o conforto e a segurança necessários para o torcedor se sentir tranqüilo e respeitado, ao invés do atual quadro de irritação e tensão que acabam redundando em violência.

Quais devem ser as primeiras medidas para se obter melhorias técnicas nos estádios?
Projeto, planejamento e ação coordenada são as palavras de ordem para as melhorias, mas com base em informações precisas das reais situações atuais dos estádios. Nesse sentido, a primeira medida é a utilização das ferramentas da engenharia eiagnóstica, que fornecem todas as informações técnicas relevantes para o desenvolvimento do planejamento necessário. Dentre as diversas ferramentas para a obtenção dessas informações técnicas, destacam-se a inspeção e auditoria de engenharia como as mais adequadas para se diagnosticar as condições técnicas dos estádios, pois além das vistorias inerentes a essas duas ferramentas, há a análise ou o atestamento dos fatos com base no conhecimento e experiência do inspetor.

Quais são as especialidades da engenharia dessas inspeções e auditorias diagnósticas recomendadas para os estádios?
Os estádios de futebol são edificações que possuem vários tipos de sistemas construtivos, instalações e equipamentos, recomendando-se, no mínimo, as inspeções e auditorias técnicas das seguintes especialidades: engenharia civil – (estrutura e sistemas construtivos); arquitetura (acessibilidade, habitabilidade, paisagismo e sustentabilidade); engenharia de segurança (rotas de fuga, incêndio, para-raios); engenharia elétrica (cabine primária, quadros e cabeamentos) e engenharia sanitária (sanitários e restaurantes). As inspeções de engenharia em questão devem possuir a visão sistêmica tridimensional, com análises das características, condições técnicas das instalações, idem para as características e condições de uso e também para a manutenção, visando qualidade total. Quanto às auditorias, os atestamentos devem ser balizados nas normas técnicas da ABNT. Em geral, os resultados dessas inspeções e auditorias de engenharia contêm preciosas informações técnicas que possibilitam desenvolver os projetos, planejamentos e ações necessárias para se reparar, reformar, modernizar ou manter os estádios.

Esses diagnósticos técnicos são todos obrigatórios?
O recente decreto nº 6795/2009 estabelece tão somente obrigatoriedade das vistorias das condições sanitárias e de segurança. Tal legislação exclui outros imprescindíveis diagnósticos técnicos indicados para que os estádios possam ser enquadrados, ou não, num padrão mínimo de qualidade. Sem os atendimentos das normas e recomendações de acessibilidade, habitabilidade e sustentabilidade, por exemplo, nossos estádios continuarão desconfortáveis e anacrônicos, em desrespeito ao torcedor e à população.

Como melhorar essa legislação de fiscalização com a engenharia diagnóstica?
Recentemente, foi firmado um convênio entre o Ministério dos Esportes e o sistema Confea/Crea para a elaboração de diretrizes, treinamento e cadastramento de profissionais para realizar as vistorias sanitárias e de segurança nos estádios, o que se considera um primeiro grande passo rumo ao progresso técnico. Porém, tais diretrizes são limitadas e não contemplaram com profundidade os diagnósticos técnicos visando qualidade total, principalmente no tocante à habitabilidade e sustentabilidade. O segundo passo de aprimoramento técnico, portanto, é a inclusão de outras ferramentas diagnósticas nas diretrizes, tais quais as auditorias técnicas de habitabilidade e sustentabilidade, visando acrescentar itens de conforto e respeito sócio-ambiental aos estádios, no foco da qualidade total. O atestamento, ou não, das normas ambientais, de desempenho e outras da ABNT é fundamental para a qualidade total dos estádios.

Como serão utilizadas as informações, análises e atestamentos da Engenharia Diagnóstica?
Com todas essas informações fornecidas pela inspeções e auditorias técnicas de engenharia, pode-se projetar e planejar os serviços de reparos, reformas, retrofits ou manutenção necessários para dispor os estádios de boas condições de acesso, de sustentabilidade, de conforto e de segurança aos usuários, contribuindo para que os mesmos atendam as exigências da FIFA e, principalmente, apresentem condições dignas de uso aos torcedores brasileiros e estrangeiros que pretendam assistir aos jogos da Copa do Mundo de 2014, e também para que tais condições se perpetuem no futuro em todos os estádios de futebol do Brasil.

*Tito Lívio Ferreira Gomide é perito do Gabinete Gomide, membro titular do Ibape/SP e Instituto de Engenharia, e co-autor dos livros Engenharia Diagnóstica em Edificações e Normas Técnicas para Engenharia Diagnóstica em Edificações

Autor: PINIWeb