NA MÍDIA – Chuvas no Sul e no Sudeste evidenciam mudança no clima, diz professor da USP

As fortes chuvas que atingiram o Sul e o Sudeste do Brasil nos meses de seca provocaram estragos inesperados, apontaram falhas nos sistemas de contenção de enchentes e evidenciaram os impactos do crescimento acelerado das cidades e da ocupação do solo no clima. Segundo o professor Augusto José Pereira Filho, do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciência Atmosféricas) da USP (Universidade de São Paulo), as chuvas e o calor de julho, agosto e setembro foram excepcionais e mostram que o clima já mudou consideravelmente em algumas cidades do país.

“A urbanização em São Paulo, por exemplo, deixou a temperatura da cidade dois graus mais quente, diminuiu a umidade relativa do ar, a incidência de garoas e brisas marítimas e ainda provocou o aumento de tempestades, granizos, raios, rajadas de vento e até tornado. O número cada vez maior de veículos também fez com que a poluição aumentasse, apesar da adoção de combustíveis menos poluentes, como o etanol”, disse Pereira Filho durante o seminário “Enchentes na Região Metropolitana de São Paulo”, realizado no Instituto de Engenharia na terça-feira (10).

Para os próximos meses de verão, afirmou ele, a inversão dos fenômenos El Niño e La Niña deve provocar seca no Norte e muito calor no Sul e Sudeste, o que deve trazer pancadas de chuvas ainda mais intensas.

Em São Paulo, a chuva deve elevar o número de enchentes na capital, que já tem, segundo ele, uma média histórica de 17 alagamentos por ano.

Na opinião do professor, essa mudança no clima exige uma modernização da tecnologia usada para conter enchentes e para monitorar emergências. Ele acredita que um novo radar, que está sendo testado em Barueri (Grande São Paulo) e deve ser instalado em Mogi das Cruzes (interior de São Paulo), pode ajudar a minimizar os impactos das enchentes nas populações. “Ele é capaz de prever os eventos e seus efeitos com pelo menos uma hora de antecedência”, explicou.

Piscinões 

Enquanto o sensoriamento remoto não está disponível para todas as regiões, o jeito é esperar que os piscinões, construídos para reter a água por algumas horas antes de ela chegar aos rios, funcionem com as chuvas excepcionais que andam atingindo as cidades.

“A enchente é inevitável quando há uma precipitação catastrófica, nesse caso é culpa de São Pedro, mas não quando é uma chuva normal, de acordo com a série histórica, aí é culpa do governo”, defendeu o engenheiro civil Julio Cerqueira Cesar Neto, do Instituto de Engenharia de São Paulo.

Para ele, o governo deve organizar o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) para que sejam construídos no prazo de cinco anos os 91 piscinões que faltam para garantir a capacidade de vazão.

Cesar Neto acredita que os piscinões são “um mal necessário” e, no caso do rio Tietê, em São Paulo, são a única alternativa para evitar os alagamentos constantes. “Não há mais espaço para atuar no processo de urbanização e ninguém vai se propor a aumentar as calhas do rio”, disse.

No entanto, argumenta ele, no rio Pinheiros e nos afluentes da cidade, por exemplo, onde ainda há espaço para obras alternativas, o melhor seria investir na ampliação da capacidade das galerias e dos canais.

“A Prefeitura usa os piscinões como se eles fossem a única solução possível, mas eles não são indicados quando há opções, porque introduzem na cidade uma instalação de grande porte, que ocupará um espaço do subsolo e da superfície, além de exigir desapropriação e apresentar problemas sanitários”, explicou.

Autor: UOL