Sol no laboratório

– Pesquisadores do Laboratório Associado de Sensores e Materiais (LAS) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em parceria com a Orbital Engenharia, de São José dos Campos (SP), desenvolveram um simulador solar com componentes encontrados facilmente no mercado brasileiro, facilitando sua manutenção. 

O equipamento produzido pela empresa, que teve sua primeira unidade entregue recentemente ao Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), simula a radiação solar de modo contínuo por meio de um conjunto de lâmpadas refletoras adequadas às normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). 

“Esse equipamento tem inúmeras aplicações por ser capaz de reproduzir a luz do Sol em escala laboratorial. Ele reproduz tanto a luz solar antes do filtro atmosférico, emitida em ambientes extraterrestres e conhecida por espectro AM Zero, como a luz que chega até a superfície terrestre (espectro AM1,5)”, disse o engenheiro mecânico Célio Costa Vaz, diretor da Orbital, à Agência FAPESP. 

Nomeado Solsim, o simulador solar tem área de iluminação de 14 centímetros por 14 centímetros, enquanto os similares importados têm, em geral, capacidade de iluminar áreas de 10 por 10 centímetros. “Essa é a área útil que pode ser iluminada no plano de ensaio. O Solsim é capaz de iluminar uma área maior, mantendo a uniformidade e a intensidade padrão do espectro luminoso”, explicou. 

Entre as aplicações do simulador com esse tipo de radiação estão a medição do desempenho elétrico de células solares de uso terrestre e de painéis de satélites, avaliação da durabilidade de materiais industriais diversos que sofrem degradação pela luz solar e testes de eficiência de bloqueadores solares dermatológicos. 

“Ele é utilizado, sobretudo, no desenvolvimento de novos materiais em que é necessário verificar a resistência às radiações infravermelha e ultravioleta, na indústria de tintas e vidros para ensaios de envelhecimento dos compósitos e em experimentos diversos em biotecnologia que requeiram continuamente a luz solar”, contou. 

Em termos técnicos, a radiação luminosa gerada pelo Solsim com espectro AM1,5 tem intensidade de 1.000 watts por metro quadrado (W/m2), e de 353 W/m2 para o espectro AM Zero, sendo em ambos os casos com uniformidade no plano alvo melhor do que 10% e estabilidade temporal melhor do que 5%.
“Isso significa que, durante o funcionamento do equipamento, propriedades como a composição espectral e a uniformidade da luz solar não variam em níveis maiores que essas porcentagens limite”, disse Vaz. 

“A qualidade da luz solar reproduzida por esse tipo de equipamento é verificada por meio do desvio do seu espectro, da intensidade e da uniformidade, que são os três parâmetros normatizados do ponto de vista técnico”, explicou.

Geradores para satélite

De acordo com o diretor da Orbital, o Solsim tem custo bem menor se comparado a equipamentos importados equivalentes em termos de características de iluminação, estimados em U$ 50 mil. “Já o simulador nacional custa cerca de US$ 15 mil.” 

A empresa, que atua no setor aeroespacial nas áreas de engenharia de sistemas de produtos aeroespaciais, suprimento de energia e no fornecimento de serviços especiais de engenharia de projeto e fabricação, já recebeu alguns pedidos de cotação para comercialização do simulador solar. 

“Estamos confirmando os pedidos de acordo com a nossa capacidade de produção. A ideia é primeiramente consolidar o equipamento no mercado nacional para depois partir para a exportação”, disse Vaz. Segundo ele, o Solsim é o primeiro equipamento do gênero a ser produzido no Brasil com tecnologia nacional. 

Criada em março de 2001 por Vaz, a Orbital contou com apoio do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) para se tornar a primeira empresa brasileira qualificada a projetar, fabricar, montar e testar geradores fotovoltaicos para aplicações aeroespaciais, tendo produzido painéis solares de três satélites fabricados pelo Inpe. 

Os mais recentes foram destinados ao CBERS-2B (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres) resultado de um programa de cooperação do Brasil com a China. 

“No momento estamos projetando e fabricando painéis solares para os geradores fotovoltaicos que serão utilizados no CBERS-3 e, logo em seguida, no CBERS-4”, disse Vaz.

Autor: Agência FAPESP