Governo deve reduzir gargalos de acesso aos portos, avalia diretor da Firjan

Para o Brasil crescer ainda mais, é necessário garantir condições para um escoamento adequado da produção nacional. Mas enquanto os portos forem afetados pelos problemas do transporte terrestre essa realidade continuará distante. A avaliação é de Cristiano Prado, economista e gerente da área de Infraestrutura e Novos Investimentos do Sistema Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), em entrevista ao PortoGente.

Na primeira parte da entrevista, Prado destaca que é necessária “uma maior atuação do governo na redução dos gargalos de acesso. A consolidação de um sistema eficiente de transporte de contêineres passa pela qualidade do acesso aos terminais intermodais, tanto portuários quanto ferroviários”. O segundo trecho será publicado na próxima terlça-feira (21).

PortoGente – Como a Firjan trata o modal de transporte (ferroviário, rodoviário e portuário) do estado?
Cristiano Prado – O Rio é um estado de logística. Temos uma posição logística privilegiada, já que 50% do PIB nacional se encontram em um raio de 500 km da cidade do Rio de Janeiro. O transporte, em todos os seus modos, é, portanto, uma das principais forças econômicas do Estado do Rio de Janeiro. O Sistema Firjan entende que a logística é um fator de desenvolvimento econômico essencial no estado e o pleno desenvolvimento do Porto de Itaguaí, a construção do Porto do Açu, a construção do Arco Metropolitano e os demais investimentos irão reforçar, ainda mais, essa importância para a economia fluminense.

PortoGente – O modal de transporte no Brasil, em especial os do Rio de Janeiro, está em boas condições para competir com os portos internacionais e o comércio exterior?
Cristiano Prado – O Rio de Janeiro possui diversos portos com características diferenciadas que atendem não só o estado, mas também Minas Gerais, com sua malha ferroviária e rodoviária os interligando ao resto do País. Ressalto a competitividade do Porto de Itaguaí – com potencial de se tornar um hub port para a América Latina – e do Porto do Açu, ainda em construção, mas que será um dos portos mais modernos e competitivos do Brasil. Entretanto, existem elos faltantes que precisam ser eliminados e investimentos que precisam ser feitos para aumentar, ainda mais, a competitividade portuária. Exemplos de elos que estão sendo atacados são a construção do Arco Metropolitano, as dragagens que estão sendo feitas ou que já estão programadas, a melhoria dos acessos ao porto do Rio. Outros gargalos ainda precisam ser enfrentados como a melhoria do acesso ferroviário e rodoviário ao Porto de Angra, a religação em bitola estreita no Porto do Rio e a reativação do ramal ferroviário no contorno da Baía de Guanabara, de forma a garantir o contínuo ganho de competitividade que os empresários precisam. Em termos de Brasil os portos em geral estão necessitando de grandes investimentos de aprofundamento dos acessos, dragagem, ampliação de suas retroáreas e melhorias nos acessos terrestres rodoviário e ferroviário. Temos grandes desafios pela frente.

PortoGente – Quais os pontos frágeis dos portos do Rio de Janeiro e nacionais?
Cristiano Prado – Existem três grandes focos a serem atacados. O mais grave não está dentro dos portos, mas em seu entorno: os acessos terrestres. A maioria dos portos está localizada em áreas urbanas e isso cria sérios problemas para a movimentação de cargas, especialmente rodoviária. Esse gargalo provoca sérios prejuízos e precisa ser atacado imediatamente para termos uma melhora, significativa, no prazo de três a cinco anos, quando as obras estiverem concluídas. É preciso criar corredores especiais de acesso aos portos ou então ampliar a capacidade viária nas proximidades para que a concorrência do transporte de cargas com o tráfego urbano não cause problemas para ambos, como ocorre atualmente. O segundo grande problema está ligado à burocracia portuária e dos serviços de apoio. É preciso regulamentar o multimodalismo, reduzir a necessidade de procedimentos aduaneiros, dos setores e subsetores que sofrem fiscalização (atualmente são mais de mil) para aqueles estratégicos, como por exemplo, agropecuários, tecnológicos e fármacos. O terceiro problema é estrutural: os portos precisam ser modernizados, terem seu calado aumentado para receber os navios modernos, e há a necessidade de um programa de dragagem permanente.

PortoGente – Como a Firjan vê a expansão do Canal do Panamá para o incremento do setor industrial do Estado do Rio de Janeiro?
Cristiano Prado – Para o comércio exterior com a Ásia, a expansão do Canal do Panamá é vital e vai permitir maior acesso à Costa Oeste americana. Nesse sentido, traz benefícios indiretos já que os Estados Unidos são um grande parceiro comercial do Brasil. A expansão vai de acordo com a tendência observada no mercado naval de construção de uma nova geração de navios, maiores e de maior calado, essencial para a redução do custo logístico. Diretamente, entretanto, os efeitos da expansão demorarão um pouco mais a serem sentidos já que o tráfego de navios maiores irá demandar obras de adequação nos portos brasileiros, em especial de dragagem e ampliação dos berços. Temos que iniciar os investimentos o mais cedo possível, o futuro da logística naval está nos grandes porta-contêineres que já estão sendo construídos.

PortoGente – Quais são os portos que as indústrias do estado mais utilizam para movimentar mercadorias? A maior parte fica concentrada nos portos cariocas? Há cargas direcionadas para portos de estados vizinhos, como Espírito Santo e São Paulo?
Cristiano Prado – As indústrias do Rio utilizam, prioritariamente, os portos do Rio de Janeiro em suas exportações, assim como as indústrias de Minas Gerais. Os portos mais utilizados são o Porto de Itaguaí e o Porto do Rio de Janeiro, este último com um perfil mais focado em cargas de maior valor agregado. É claro que existem determinadas cargas que acabam sendo escoadas por portos de outros estados, a depender de suas características, mas o padrão é que elas saiam pelos portos do Rio. Essa tendência será ainda mais reforçada após a entrada em operação do Porto do Açu, em 2011.

PortoGente – O Brasil conta com terminais especializados. Quantos, especialidades e localidades, são no Rio de Janeiro?
Cristiano Prado – O Brasil possui um grande número de terminais especializados e outros tantos estão em fase de implantação ou estudos. No Rio de Janeiro podemos citar no Porto de Itaguaí os terminais de minérios, de carvão, de contêineres e da Valesul Alumínio; no Porto do Rio de Janeiro os terminais de contêineres, de produtos siderúrgicos, de veículos, papeleiro, de açúcar, passageiros, de granéis líquidos e de combustíveis; e em Niterói os de produtos offshore. Ressalto, novamente, a importância do Porto do Açu, que começará operando com minério de ferro, mas, possui previsão de construção de diversos tipos de terminais.

Autor: Porto Gente