Um debate sobre a agricultura orgânica e a convencional

O acesso a produtos saudáveis é uma preocupação constante para consumidores e profissionais que atuam na produção de alimentos. Diante da importância do tema, na sessão plenária do Confea realizada de 24 a 26 de junho, foi aprovada a inclusão do Projeto de Lei nº 273/2007, do deputado Ciro Pedrosa (PV/MG) na Agenda Parlamentar do Conselho Federal. O projeto dispõe sobre o incentivo ao sistema orgânico de produção agropecuária, ao financiamento de projetos de conversão e à certificação de produtos orgânicos e a Agenda é composta por projetos de lei prioritários que recebem apoio direto do Confea.

Na cadeia produtiva, o engenheiro agrônomo é um dos responsáveis pelas atividades relacionadas à agropecuária, devendo acompanhar o processo produtivo de alimentos de origem vegetal e animal, além da conservação, transformação e aproveitamento racional e sustentado dos recursos naturais e renováveis. Com ampla formação técnica e científica, este profissional pode atuar em vasto mercado de trabalho, como empresas de biotecnologia aplicada à agricultura, mercado de sementes, adubos, máquinas, meio ambiente, entre outros.

Na profissão, um dos debates da atualidade é o uso de agrotóxicos para combater pragas ou doenças que aparecem nas culturas agrícolas. Com o relatório divulgado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) neste ano, o debate se intensificou. O documento mostrava que, das 17 culturas monitoradas – entre elas, pimentão, tomate, uva, morango, mamão, laranja, cenoura, alface -, várias apresentavam percentual elevado de amostras insatisfatórias. Os resultados referiam-se aos ingredientes ativos de agrotóxicos acima do limite máximo de resíduos permitido ou resíduos de ingredientes ativos não autorizados para a cultura em análise.

O uso de agrotóxicos na cultura de pimentão, por exemplo, foi a que teve o índice considerado mais alarmante. Das 101 amostras analisadas, 64,36% apresentaram irregularidades. Nas amostras, foram identificados 22 ingredientes ativos, sendo 18 não autorizados para a cultura e quatro acima do limite máximo de resíduos. A divulgação dos dados levou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, a afirmar que ele próprio cortaria o consumo do pimentão em sua casa.

Nesse cenário, surge a agricultura orgânica como uma solução para o problema. O presidente da BrasilBio – Associação de Produtores e Processadores Orgânicos do Brasil, José Alexandre Ribeiro, comenta que agricultura orgânica trabalha com três pilares fundamentais: a saúde, o meio ambiente, e a inclusão social. “A qualidade de vida em relação à alimentação é uma exigência do próprio consumidor”, afirma. Segundo ele, a agricultura orgânica tem um sistema de manejo no qual a microbiodiversidade está em equilíbrio e, como 90% da produção é proveniente da agricultura familiar, é um fator importante de inclusão social.

O coordenador do GT Meio Ambiente do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), conselheiro federal Pedro Shigueru Katayama, comenta que a palavra-chave da agricultura orgânica é o equilíbrio. “Os produtos fitossanitários provêem de matéria orgânica produzida dentro de um equilíbrio com a natureza. Toda a parte vegetal que se decompõe é incorporada ao solo e, assim, evita-se a utilização de insumos agrícolas”.

Por outro lado, Katayama comenta que apenas a agricultura orgânica não é capaz de abastecer toda a população. “Ela possui limitações quanto à área de produção. As pessoas acham que a agricultura orgânica possui uma técnica fácil, mas não é”, afirma. De mesma opinião, o presidente da Confederação dos Engenheiros Agrônomos do Brasil, Antônio de Pádua Angelim, diz que o Brasil tem campo para todos os gostos: agricultura tradicional, orgânica e natural.
Para Angelim, o primordial para a discussão sobre o tipo de agricultura é a questão econômica. “Eu não vejo um benefício maior da agricultura orgânica para o consumidor. Não vejo conflito entre os dois tipos, não condeno nenhum. O que vejo é um problema econômico”, afirma, lembrando que é a agricultura convencional que sustenta o país atualmente. “Quem tem dinheiro compra o que quer”, conclui.

Na visão do coordenador das Câmaras Especializadas de Agronomia do Sistema Confea/Crea, Fernando César Julliati, “a agricultura orgânica é uma atividade como outra qualquer, é um sistema de produção e há nicho de mercado”. Sob seu ponto de vista, existe uma distorção na forma como são divulgadas as informações sobre o tomate e o pimentão, por exemplo. Segundo ele, as técnicas adequadas e os profissionais competentes existem. “O que acontece é que, muitas vezes, os maus técnicos fazem uso inapropriado dos agrotóxicos”, afirma. A esse respeito, Angelim comenta que o necessário para uma boa agricultura é a tecnologia, a obediência à carência do produto e a existência de um bom profissional para acompanhar todo o sistema produtivo.

Apesar da observação de que as duas formas de agricultura podem ser saudáveis e satisfatórias para os consumidores, observa-se que o espaço para a agricultura orgânica ainda é bem menor e o alto custo dos produtos acabam prejudicando o seu crescimento. Tendo em vista essas considerações, Katayama comenta que o Sistema Confea/Crea tem buscado incentivar a ampliação do mercado orgânico, já que a agricultura convencional é consolidada e a agricultura familiar, de forma geral, demanda mais apoio de políticas específicas.

Autor: Assessoria de Comunicação do Confea