Projeto de ponte completa 59 anos

Há cerca de 60 anos, a ligação seca das duas margens do Porto de Santos, entre o Saboó e a Ilha Barnabé, já era prevista. Um projeto similar ao apresentado pela Prefeitura de Santos e pela Codesp, na semana passada, constava do Plano Regional de Santos, idealizado pelo arquiteto e ex-prefeito de São Paulo Prestes Maia, em 1950. 

Naquela época, Francisco Prestes Maia defendia que a ligação fosse feita por uma ponte. Hoje, esta é uma das opções avaliadas pela comissão formada pela Prefeitura e pela Codesp. Há, ainda, a possibilidade um túnel submerso. 

Seja qual for a alternativa, o traçado de conexão dos dois lados do cais agora desenvolvido começa na entrada de Santos, na sequência da Via Anchieta, percorre as margens do Rio Saboó, que desemboca no Canal do Estuário, e vai até a Ilha Barnabé, pelo seu lado São Paulo e por trás, ligando-se à estrada de acesso ao local e, por consequência, à Rodovia Cônego Domênico Rangoni (antiga Piaçaguera-Guarujá). 

O projeto atual pouco difere do vislumbrado por Prestes Maia. Na verdade, a proposta dele era mais ambiciosa, pois incluia a reserva de espaço na ponte para a instalação de trilhos, unindo os dois lados do estuário por ferrovia, inviável atualmente por conta da ocupação das áreas do entorno. 

Quando o plano de desenvolvimento da região foi lançado, sequer havia a instalação de terminais na Margem Esquerda (Guarujá) do Porto. Segundo o arquiteto Luiz Nunes, que estudou a obra do ex-prefeito em sua dissertação de mestrado, a ponte era tratada como uma forma de viabilizar a implantação dos novos terminais nesta região. 

“Ele (Maia) via a ponte com três pistas, uma em cada sentido e a terceira reversível, mais a linha férrea. Era uma coisa muito mais voltada à integração regional, porque fazia com que a ferrovia viesse de São Vicente mais ou menos na mesma linha que a Avenida Nossa Senhora de Fátima, chegando ao Porto e com distância para subir na ponte”, explicou Nunes. 

Mas, se por um lado a ponte idealizada por Maia tinha o objetivo de desenvolver a Margem Esquerda ­ que na década de 70 começou a ser ocupada sem a tal ligação ­, por outro inviabilizaria, naquela época, a utilização do Canal de Piaçaguera para operações portuárias. Tudo porque a ponte seria baixa, para dar inclinação suficiente à passagem das composições, segundo Nunes. “Pensando assim, não haveria o terminal da Cosipa, por exemplo”. 

VANTAGENS DA LIGAÇÃO 

Conforme escreveu Prestes Maia no Plano Regional de Santos, a escolha do local entre o Saboó e a Ilha Barnabé para receber a ponte ­ ele chegou a cogitar um túnel, mas sugeriu a primeira opção, por ser mais barata e mais agradável para os usuários ­ se deu por “ser o ponto mais estreito do canal e, também, unir as duas ilhas (de São Vicente e Santo Amaro) aproximadamente na direção dos seus centros de gravidade”. 

Outros motivos foram “captar facilmente em Santos tanto o tráfego comercial, como o turístico e as correntes diretas da Via Anchieta” e “cair, do lado de Santo Amaro, em pleno centro da cidade portuária, e daí irradiar nas direções importantes: Guarujá, Perequê, Bertioga e Cabrão”. Também considerou o local por “estar mais ao abrigo de eventuais ataques externos e acarretar menos consequência ao Porto em caso de acidente”, e ainda por “ser trecho reto e não curvo, logo menos perigoso à navegação”. 

De acordo com o secretário de Assuntos Portuários e Marítimos de Santos, Sérgio Aquino, que possui um dos poucos livros ainda existentes sobre o plano de Maia, a tendência é seguir as premissas do plano regional de 1950 no que se refere à ligação. Ele salienta, contudo, que o projeto atual vinha sendo desenvolvido ainda sem conhecimento do que o ex-prefeito paulistano propôs. “Quando tivemos acesso ao livro, reforçamos a conclusão que tivemos com as discussões do grupo técnico. Acho que ele (Maia) era um planejador. Deveríamos, no passado, ter seguido esse planejamento a sério”. 

PONTA DA PRAIA 

Outro projeto, recém-lançado pelo Governo do Estado, é o de uma ponte entre os bairros da Ponta da Praia, em Santos, e Santa Rosa, em Guarujá. Este, ao contrário do Saboó-Ilha Barnabé, será voltado apenas ao tráfego de veículos de passeio. Apesar disso, em 1950, Prestes Maia condenava sua execução. 

“Com o caráter fixo, é dispensável, desde que exista a anterior”, consta no livro. E, ainda, “qualquer ponte estaria aí mal colocada, porque dela, sim, então dependeria todo o porto. A sua maior exposição aumentaria a tentação para ataques em caso de guerra, e navios de mastreação excepcional estariam sempre impedidos de penetrar”, continua na publicação. 

Na Ponta da Praia, Maia avaliava que seria mais vantajoso implantar um serviço de balsas (como existe atualmente), mas que tivesse um caráter turístico e não logístico.

Autor: A Tribuna