Por baixo do colapso

Em determinadas regiões, grande quantidade de edificações – mesmo aquelas bem projetadas e construídas com materiais de boa qualidade – apresenta fissuras e trincas em paredes e pisos. A culpa pode ser dos chamados solos colapsíveis: aqueles que, submetidos a uma determinada tensão e grau de umidade, sofrem redução significativa em sua capacidade de carga. 

O fenômeno, que começou a ser estudado no mundo há menos de três décadas, tem sido intensamente pesquisado por um grupo de professores do Departamento de Engenharia Civil (DEC) do campus de Ilha Solteira da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Os resultados dos estudos estão sintetizados no livro Solos colapsíveis: identificação, comportamento, impactos, riscos e soluções tecnológicas, que acaba de ser lançado. 

De acordo com o professor José Augusto de Lollo, organizador da obra, os estudos sobre solos colapsíveis realizados no DEC por mais de 20 anos capacitaram o grupo para a produção do livro. 

Nesse período, cinco dissertações de mestrado e três teses de doutorado de docentes do departamento e a orientação de 25 iniciações científicas e sete outras dissertações de mestrado – grande parte com bolsa da FAPESP – foram defendidas no âmbito de 12 diferentes projetos de pesquisa.
Os estudos também levaram à implantação de um Campo Experimental de Fundações, implantado em 1993. Lollo coordenou o projeto “Avaliação de degradação do meio físico por áreas de empréstimo em Ilha Solteira (SP) usando geoindicadores e sistema de informações geográficas”, de Auxílio a Pesquisa – Regular, apoiado pela FAPESP e encerrado em janeiro. 

“O livro tem uma abordagem abrangente, procurando contemplar todos os assuntos como a identificação dos solos colapsíveis, a descrição de suas características, impactos ambientais e variações de risco, por exemplo”, disse o pesquisador à Agência FAPESP. 

Os outros autores são os professores Adriano Souza, Antonio Anderson Silva Segantini, Jair Camacho e Paulo Cesar Lodi e os pesquisadores Roger Augusto Rodrigues e Cíntia Magda Gabriel de Oliveira – todos do DEC. “Todos esses temas foram objeto de pesquisa de mestrados e doutorados no DEC. 

Alguns desses pesquisadores depois se tornaram orientadores de outros estudos”, disse Lollo.
Segundo ele, o problema da existência de solos colapsíveis havia sido identificado há muito tempo, apesar de ter começado a ser estudado há pouco mais de 20 anos. Os moradores de determinadas cidades percebiam, nas paredes das casas, trincas tão pronunciadas que era possível enxergar através delas – e o problema aparentemente não se devia a defeitos na construção. 

“O que se percebeu, com o tempo, é que o problema estava relacionado às características do solo. Eventualmente, ele não surgia após a construção, mas apenas quando era feita uma manutenção ou havia ruptura em redes de água ou esgoto, ou ainda após infiltrações causadas por chuvas muito intensas. Então, o solo, que em condições normais suportava o peso da construção, perdia a resistência – isto é, a chamada capacidade de carga”, explicou Lollo. 

Quando os engenheiros passaram a estudar o fenômeno, notaram que cerca de 70% do território 
paulista apresentava esse comportamento de perda de resistência quando umedecido.
“O processo foi identificado em todo o oeste do estado, de forma marcante em localidades como Ilha Solteira, São José do Rio Preto e São Carlos, por exemplo. Mas o fenômeno também ocorre em locais como Brasília e cidades do Mato Grosso do Sul, Goiás e Paraná”, disse.

Curso de extensão

Esse tipo de solo, segundo Lollo, é comum em regiões de clima tropical, mas também é recorrente nas proximidades do Mediterrâneo, em especial na Espanha e no norte da África. “Hoje, as pesquisas realizadas no Brasil e na Espanha são as principais referências na área de solos colapsíveis”, apontou. 

O professor da Unesp destaca a importância do estudo do colapso de solos, uma vez que muitos profissionais da engenharia ainda desconhecem o problema, dada a pouca importância que o fenômeno costuma receber em parte dos cursos de graduação em engenharia civil. 

“Com essa preocupação, eu e outros colegas resolvemos formular um curso de extensão para alunos de graduação e pós-graduação voltado a todas as áreas que pudessem se interessar, a fim de divulgar o tema e torná-lo mais acessível”, disse.
Lollo explica que os riscos ambientais e os problemas de segurança ocasionados pelos solos colapsíveis tornam o conhecimento do tema importante também para pesquisadores de outras áreas do conhecimento, como geologia, engenharia ambiental, engenharia agrícola, engenharia de minas e arquitetura. 

O livro foi lançado por meio do Programa de Apoio à Produção de Material Didático da Pró-Reitoria de Graduação da Unesp. “O preço do livro se destina exclusivamente ao pagamento das despesas de produção e os recursos retornarão à universidade para investimentos em outras obras didáticas. O apoio do programa foi importante para que a obra cumpra sua função de divulgação”, afirmou. 

• Solos colapsíveis: identificação, comportamento, impactos, riscos e soluções tecnológicas
Organizador: José Augusto de Lollo
Lançamento: 2009
Mais informações e vendas: http://www.dec.feis.unesp.br/colapso

Autor: Agência FAPESP