O empresário João Augusto Amaral Gurgel, que sonhou e ergueu uma fábrica de carros 100% brasileira, morreu em São Paulo, na sexta-feira, aos 83 anos. Ele sofria de Alzheimer havia uma década. A Gurgel Motores, que ele fundou nos anos 60, fabricou 40 mil veículos – alguns deles rodando até hoje pelas ruas brasileiras.
Na primeira metade dos anos 90, sempre com a concorrência acirrada das montadoras estrangeiras, a Gurgel acabou enrolada em dívidas e brigou feio com o sindicato de trabalhadores. Uma fábrica projetada no Ceará não saiu do papel. A falência foi decretada em 1996.
Persistência foi uma das características mais marcantes da vida do empresário. Nascido em Franca (SP), em 1926, formou-se em 1949 como engenheiro mecânico-eletricista pela Escola Politécnica da USP, onde desenhou o protótipo de um carro em vez do projeto original de um guindaste.
Depois de chefiar a área de locomotivas a diesel da Cobrasma, ingressou na General Motors, na qual obteve uma bolsa de estudos nos EUA, formando-se engenheiro automotivo. Lá teve chance de conhecer a fibra de vidro – um plástico reforçado – usado nas carroçarias do Chevrolet Corvette.
De volta ao Brasil, depois de uma passagem pela Ford, fundou a própria empresa, a Moplast, que fornecia luminosos plásticos às grandes empresas. Vendeu-a para juntar dinheiro e abrir a Macan, que fabricou karts de competição e miniveículos.
Em 1969, já com a fundação da Gurgel Motores, começou a produzir um bugue utilizando a plataforma de um Fusca, o Ipanema. Dele, derivou o Xavante, o primeiro sucesso comercial da Gurgel. Novos modelos surgiram ao longo dos anos 70, em sua fábrica em Rio Claro (SP), incluindo um carro elétrico.
Nos anos 80, Gurgel achava o Proálcool um desperdício de dinheiro público porque, na sua opinião,
subsidiava fazendeiros para produzir combustível, em vez de alimentos, numa época de petróleo barato.
O sonho do empreendedor materializou-se em 1987, no dia 7 de setembro – Dia da Independência – quando lançou o BR-800, o primeiro carro inteiramente nacional. Amaral Gurgel conseguiu convencer o governo a reduzir o IPI do veículo, que montado em fibra de vidro e com motor de 800 cilindradas, rodava 15 quilômetros por litro. A façanha antecipou a era dos carros populares na década de 90.
Autor: Valor Econômico