Isolux vence leilão e estréia em rodovias

Conhecida pelas vitórias em licitações de linhas de transmissão de energia elétrica, a espanhola Isolux marcou ontem sua entrada no segmento brasileiro de concessão de rodovias, ao arrematar, em consórcio, o trecho de 680,6 quilômetros que liga a divisa entre Minas Gerais e Bahia à base naval de Aratu, que fica a 40 minutos de Salvador. 

A vitória no leilão, ocorrido na Bolsa de Valores de São Paulo, veio em poucos minutos, mediante lance em que o consórcio Rodobahia, que a Isolux lidera com participação de 75%, se dispôs a cobrar tarifa de pedágio de R$ 2,212, que representou um deságio de 21% sobre o teto estabelecido pelo governo, de R$ 2,80. Além da Isolux, integram o Rodobahia as brasileiras Engevix (20%) e Encalso (5%). 

Apesar da vitória inédita, não é a primeira vez que a Isolux, há 10 anos no Brasil, tenta a concessão de uma rodovia por aqui. Ao lado da Encalso, saiu derrotada de rodadas anteriores de licitação de rodovias federais. 

No segmento de energia elétrica, entretanto, a história é diferente. De 1999 para cá, a empresa já levou, sozinha ou em consórcio, nove concessões de linhas de transmissão, e participa de 15 sociedades concessionárias, segundo seu diretor, Francisco Corrales. 

Após o primeiro êxito, os espanhóis querem mais. Devem disputar os próximos trechos de rodovias federais que serão licitados até junho próximo, segundo previsões do governo. O principal alvo da empresa é o trecho de 817 quilômetros que liga a divisa entre Bahia e Minas Gerais a Juiz de Fora, um investimento orçado em R$ 3,5 bilhões. “É a continuação do trecho conquistado hoje”, justificou Corrales.
Além deste trecho, o governo planeja leiloar no primeiro semestre os 301 quilômetros da BR-381 que ligam Belo Horizonte a Governador Valadares (MG). O investimento, neste caso, foi projetado em R$ 2 bilhões. Também está nos planos a licitação de 937 quilômetros da rodovia BR-040, ligando Juiz de Fora (MG) a Brasília. 

Para novembro, estão previstos outros três leilões. O maior deles, de 791 quilômetros, será na BR-101, em território baiano. Na mesma rodovia, mas no Espírito Santo, será licitado outro trecho, este de 458 quilômetros. Por fim, ainda será leiloada a concessão de um trecho de 359 quilômetros da BR-470, em Santa Catarina. 

Questionado sobre o deságio oferecido, Corrales atribuiu o lance a “estudos de tráfego” realizados pela empresa, que apontaram grande potencial econômico no trecho licitado. Segundo ele, os estudos viabilizaram a redução da tarifa de pedágio sem alterar a taxa de retorno do empreendimento, calculada pelo governo em 8% quando da definição do preço teto. 

“Os estudos mostraram as grandes oportunidades que teremos, com um retorno de investimento razoável. Pensamos que esse deságio era suportável para nós. Será uma das vias principais de transporte do país”, explicou. 

Apesar da importância dada ao trecho, apenas mais um grupo empresarial entrou na disputa. Formado pelas empresas Heleno e Fonseca Engenharia, LBR e CRA, o consórcio Companhia Brasileira de Rodovias se dispôs a cobrar R$ 2,517 de pedágio, preço 10,11% inferior ao teto. 

Representantes do grupo afirmaram que o lance estava no “limite” financeiro e que a crise financeira afetou o processo de captação dos recursos necessários ao empreendimento.
Já Corrales disse que a turbulência global não teve grande impacto sobre as negociações com os bancos que financiarão parte das obras, previstas para começarem em 90 dias. Ele admitiu, no entanto, que conta com a participação do BNDES no projeto, cujos investimentos totais devem somar R$ 2 bilhões

Autor: Valor Econômico