Setor automotivo antecipa queda geral da venda de aço

O setor de distribuição de aço já sentiu queda de 10% nas suas vendas, puxada principalmente pela demanda menor do setor automotivo. A previsão do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda) é que a redução das vendas chegue a 30% no primeiro trimestre de 2009, de acordo com o presidente da entidade, Christiano da Cunha Freire em entrevista exclusiva ao DCI. 

A queda é causada pelos impactos provocados pelo arrefecimento da produção da indústria automobilística, que já fez siderúrgicas como a Gerdau e ArcelorMittal anunciarem adequação de produção.

“O consumo das montadoras é o mais imediato. Já no restante da indústria, o processo é mais longo e o mercado ainda não desacelerou”, afirma Freire.

De acordo com o presidente do Inda, ao contrário da indústria de veículos, em que a escassez de crédito já afetou o nível de produção do setor, outros setores que utilizam aço no processo produtivo, como o de máquinas e equipamentos e construção civil, ainda estão movimentados devido à carteira de pedidos dos últimos meses.

Na última semana, a Gerdau já anunciou que se adequará ao mercado, devido à redução da demanda por aços especiais em função da indústria automobilística, que responde por 70% da produção siderúrgica. O corte programado, no entanto, ainda não foi divulgado.

“Nesse momento é difícil saber qual será a demanda, e isso nos impede anunciar qualquer adequação”, afirmou o exemplificou o CEO da Gerdau, André G. Johannpeter, durante teleconferência do anúncio dos resultados do terceiro trimestre da companhia.

Na mesma linha, a ArcelorMittal informou, também na semana passada, ao mercado que irá reduzir em cerca de 35% a sua produção em sua unidade de Tubarão, no Espírito Santo, para “adequá-la ao nível atual de consumo do mercado.

Em relação à oferta de produtos para o mercado doméstico, a siderúrgica informou que durante os meses de novembro e dezembro operará o laminador de tiras a quente (LTQ), que antes trabalhava à plena carga, em cerca de 75 % de sua capacidade nominal, devido à redução da demanda de seus principais clientes. De acordo com o presidente do Inda, o ajuste da produção à demanda corresponde à primeira fase do momento de arrefecimento. No entanto, caso o mercado não reaja, a próxima fase será a de ajuste de preços.

“A indústria automobilística está antecipando os movimentos”, afirma Freire.

Também devido à crise, a velocidade dos investimentos previstos da Usiminas, de US$ 14,1 bilhões, pode ser mais lenta devido à queda de demanda mundial.

Vendas e produção

Mesmo diante da crise financeira internacional, a projeção para o setor siderúrgico da Tendências Consultoria ainda é otimista. Para 2009, o estudo demonstra que o setor verificará um crescimento de 5,2% no volume de produção e de 4,9% de volume de vendas.

“Com o desaquecimento atual vai se tirar a pressão em cima da produção. Antes havia uma preocupação em relação à capacidade de fornecimento da indústria”, afirma o analista de mineração e siderurgia da Tendências, Alexandre Gallotti.

De acordo com o analista, o maior impacto será exatamente no de aços planos, por conta da indústria automobilística. “A gente já previa uma desaceleração do setor automotivo, mas está sendo muito maior do que esperávamos e está havendo um efeito mais forte no mercado”, salienta Gallotti.

De janeiro a setembro, de acordo com levantamento do Inda, a venda de aço para a indústria automotiva em 2008 foi e 319 mil toneladas, um número 21,9% maior do que o registrado no mesmo período de 2007. A expectativa para o último trimestre, no entanto, é que a queda da demanda leve para baixo o total do consumo siderúrgico.

Efeito dominó

Na mesma linha da mineradora Vale, a australiana Rio Tinto vai reduzir a produção de suas minas na Austrália Ocidental em 10%.

A brasileira MMX também anunciou que a suspensão da produção de minério de ferro em Corumbá (MS) a partir de novembro implicará um uma redução da capacidade equivalente a 30% do total atual da companhia.

Autor: DCI