Estado capturado?

O preenchimento dos cargos de confiança das organizações do Estado por critérios distantes dos objetivos das organizações mas coincidentes com os interesses dos políticos e seus parceiros resulta na “Captura” das organizações. 

A “Captura” é uma cultura herdada do Brasil Colônia, vem sendo remunerada através de nomeações , contratos de fornecimentos e de serviços, tráfico de influência, etc. Afinal o “Seqüestro” tem de ser remunerado! A imprensa diariamente denuncia as deficiências das organizações do Estado, que são resultantes da “captura”, mas a sociedade civil tem ignorado a gravidade do problema. 

A ineficácia e ineficiência resultantes do loteamento político dos cargos de confiança impossibilitam as organizações do Estado de cumprirem os objetivos previstos, prejudicando de forma acentuada os programas visando melhor distribuição de renda. 

O crescimento das favelas, Segurança precária, escolas públicas com falta de professores e absenteísmo elevado, centros de saúde e hospitais deficientes, carência de saneamento, transporte público precário, etc.. caracterizam a decadência do sistema. 

Enfim estamos participando do crescimento dos fatores favoráveis à miséria, que é a maior fonte de poluição. 

A existência dos cargos de confiança é um grande estímulo para candidaturas de safados e um impedimento para os candidatos sérios que não contam com a perspectiva de recursos futuros resultantes das capturas. 

A captura das organizações do Estado por uma minoria de políticos e parceiros da sociedade civil desqualificados compromete o processo democrático: O desrespeito à propriedade privada, a falta de segurança, a indefinição de limites entre os Poderes Executivo e Legislativo devido ás negociações envolvendo os cargos de confiança, etc.. estão se agravando. 

Os exemplos dos países desenvolvidos e da iniciativa privada são ignorados. A apatia da sociedade civil que paga a conta dos desperdícios de recursos, da má qualidade dos serviços públicos e dos obstáculos à iniciativa privada, é justificada pela tradição colonial do patrimonialismo: Os ocupantes dos cargos públicos de confiança raramente se preocuparam em servir a sociedade, sempre se serviram das organizações do Estado! 

Como poderá a sociedade civil se organizar para pressionar para que seja possível estruturar e profissionalizar as organizações do Estado? Como pressionar para que aconteçam as reformas Políticas necessárias, se as mesmas dependem dos votos dos interessados em que as mesmas não aconteçam? 

É necessário reconhecer que se trata de processo de mudança de cultura, que exige longo prazo, que é necessário numa primeira etapa reconhecer a imoralidade da existência dos cargos de confiança. 

Temos assistido a manifestações isoladas sobre o problema, que muitas vezes são qualificadas de quixotescas devido aos prejuízos que os manifestantes podem sofrer junto ás organizações do Estado. É necessário que parcela significativa unida da sociedade civil reconheça o problema, estabeleça objetivos de como pressionar o Legislativo, o Executivo e o Judiciário para que no curto, médio e longo prazos sejam eliminados os cargos de confiança, permitindo que as organizações do Estado se estruturem e se profissionalizem, e aconteçam as Reformas Políticas necessárias. 

Reformas Políticas que propiciem a aproximação dos candidatos dos eleitores facilitando o debate e o controle dos programas de campanha que são essenciais para a sociedade civil. 

O crescimento econômico do país depende de sistemas complexos e sofisticados de tecnologia que contrastam com o atraso dos sistemas vigentes nas organizações do Estado. A competência de uma organização resulta da continuidade do aprimoramento da estrutura e da profissionalização da mesma, o que não é possível com a existência dos cargos de confiança. 

Estamos num ciclo vicioso, merecemos um ciclo virtuoso?

Autor: Darcy de Almeida