A nova problemática para o abastecimento de água da RMSP

Com relação à qualidade das águas o Professor Ivanildo Hespanhol lembrou em recente palestra no Instituto de Engenharia dois conceitos antigos que sempre nortearam as preocupações com a garantia da potabilidade da água distribuída às nossas populações: um deles, “mananciais protegidos” que precisaria ser mantido, foi abolido há já alguns anos e em contrapartida “tratamentos convencionais” que já deveriam ter sido superados e ainda persistem. 

Os mananciais desprotegidos mais a completa ausência de uma política de uso e ocupação do solo expõe os nossos mananciais a uma ocupação desordenada de suas bacias hidrográficas. 

Nesta região, cada setor de atividade é livre e independente para fazer o que bem entende para atingir os seus próprios objetivos. Ninguém se preocupa com os objetivos da população como um todo. É uma verdadeira “colcha de retalhos”. 

No entanto, dispomos, desde 1997, da Lei Estadual nº9866 que estabelece a Política de Proteção e Recuperação de Mananciais, que até o final de 2006 não produziu nenhuma eficácia nesse sentido permitindo que o processo de degradação dessas áreas prosseguisse como se ela não existisse. 

Os tratamentos convencionais ainda não abolidos continuam a ser empregados entre nós embora não sejam capazes de reter os produtos emergentes tóxicos que a indústria química moderna vem distribuindo e já se encontram presentes nos nossos mananciais. 

Os poluentes já estão à nossa disposição, precisamos agora construir os tratamentos avançados para retê-los. Ainda não começamos a faze-los. 

A nova problemática para o abastecimento de água na RMSP
envolve decisões e providências importantes todas urgentes e de grande porte e complexidade. Além da necessidade da ampliação da capacidade dos mananciais para diminuir a incidência de rodízios e racionamentos ainda será preciso pensar na implantação dos processos avançados nas estações de tratamento, monitoramento dos mananciais, no estabelecimento de padrões de qualidade para os produtos emergentes e na promoção de estudos epidemiológicos. Tudo urgente. 

Esses tratamentos avançados certamente permitirão o uso para abastecimento de águas de qualidade inferior. 

Assim poderíamos pensar que não precisaremos mais nos preocupar com a proteção dos nossos mananciais. 

Se trata de uma alteração profunda de mentalidade muito além daquela que aboliu o conceito antigo de mananciais protegidos. 

Evidentemente estamos frente a um problema que não poderá ser resolvido pelas autoridades de plantão sem a participação ativa da sociedade.

Autor: Julio Cerqueira Cesar Neto