Braskem usará plástico para gerar energia

A Braskem decidiu reagir às propostas em discussão no país para a substituição de sacolas plásticas por materiais “ecologicamente corretos”. A companhia petroquímica apresentou ontem, em Porto Alegre, um estudo para a construção de uma usina termoelétrica que gera energia a partir da incineração de lixo. 

Baseada em experiências praticadas na Europa, principalmente na Alemanha, e em um projeto-piloto desenvolvido no Rio de Janeiro pela consultoria Usina Verde em parceria com a UFRJ, a empresa quer limpar a imagem do plástico, que vem sendo “vigorosamente” combatido pelos ambientalistas, disse o coordenador de desenvolvimento de mercado da empresa, Otávio Reis Neto. 

“Não acho justas as críticas ferrenhas contra o plástico”, comentou o coordenador. “A questão não é o (material) que se usa, mas o que se faz com ele depois”, completou o executivo. 

O projeto foi apresentado na véspera do debate que será promovido hoje pela Câmara de Vereadores da capital gaúcha sobre um projeto de lei que pode vetar o uso de sacolas plásticas pelos estabelecimentos comerciais na cidade, mas já vem sendo discutido há pelo menos dois anos pela Braskem, afirmou Reis Neto. Segundo ele, a idéia é fechar uma “cadeia de sustentabilidade” no setor, que inclui ainda a produção de eteno e polietileno a partir de etanol de cana-de-açúcar, anunciado pela empresa para começar em 2010 no pólo petroquímico de Triunfo. 

O estudo prevê uma usina com potência instalada de 12,3 megawatts (MW), semelhante à de uma pequena central hidrelétrica, a partir do processamento de 600 toneladas de lixo por dia, o equivalente a cerca de 35% da produção diária de resíduos na cidade de Porto Alegre. 

Conforme o projeto, os sacos plásticos, que não são separados no processo de coleta seletiva porque não têm valor comercial, proporcionam uma geração de calor semelhante à do óleo diesel e serão queimados junto com o lixo orgânico. O investimento necessário é estimado em torno de R$ 100 milhões e pode ser realizado pela Braskem ou por qualquer outro investidor interessado, disse Reis Neto. 

Por enquanto não há garantia de que a própria empresa investirá no projeto. “No momento queremos levantar a discussão”, afirmou o coordenador. De acordo com o executivo da Braskem, para a usina se tornar economicamente viável o operador deverá firmar um contrato de pelo menos 15 anos com a prefeitura de Porto Alegre e assim garantir o suprimento de lixo e a comercialização ininterrupta de energia. A térmica foi projetada para ser construída na zona leste da cidade, de onde hoje o lixo urbano é transportado para um aterro sanitário no município de Minas do Leão, a cerca de 100 quilômetros de distância. Caso a Braskem decida tocar o empreendimento, a geração poderia ser utilizada no pólo petroquímico gaúcho, admitiu Reis Neto.

Autor: Valor Econômico