Álcool combustível avança no Nordeste

O mercado de álcool está aquecido no Nordeste. O consumo médio mensal do combustível saltou de 130 milhões de litros mensais, em 2007, para 180 milhões de litros este ano na região, segundo Renato Cunha, presidente do Sindicato das Indústrias de Açúcar e Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar/PE).

A maior demanda pelo álcool na região reflete os preços mais competitivos do combustível comparados aos da gasolina. O Nordeste responde por cerca de 15% da produção nacional de cana – os Estados de Alagoas e Pernambuco são, respectivamente, os maiores produtores nordestinos.

“Verificamos um aumento significativo do consumo do combustível por conta do aumento da frota de carros flexfuel”, disse Cunha. As vendas de carros flex representam cerca de 90% do total de veículos vendidos no país, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

O incremento das vendas deste tipo de veículo impulsionou o consumo do álcool no mercado interno, sobretudo no centro-sul, onde já está em 1,8 bilhão de litros por mês, em média. São Paulo, maior pólo sucroalcooleiro do mundo, é o maior consumidor de álcool hidratado do país e também concentra a maior frota de veículos que rodam com álcool ou gasolina.

A opção do consumidor depende da relação de preços dos dois tipos de combustível. Se os preços do litro do álcool estiverem abaixo de 70% do litro da gasolina, a opção pelo hidratado é a mais econômica, segundo a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica). E seguindo este raciocínio, os consumidores nordestinos também estão optando pelo álcool. Na semana passada, a relação de preços entre os dois combustíveis estava em torno de 60% em Alagoas e Pernambuco, segundo a ANP (Associação Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

Apesar de trabalharem com rentabilidade negativa nesta safra, as usinas nordestinas não deverão carregar altos estoques para os próximos meses. É que o avanço do consumo na região deverá enxugar o excedente de oferta do combustível durante a safra 2008/09 de cana no Nordeste, que começa a partir de setembro.

No ciclo 2007/08, a produção de álcool ficou em 2 bilhões de litros, dos quais 500 milhões foram exportados. “Temos uma logística privilegiada para exportação, o que nos garante maior competitividade em relação ao centro-sul”.

O mesmo ocorre com o açúcar. Das 4,6 milhões de toneladas produzidas na safra 2007/08, as usinas do Nordeste exportaram 2,9 milhões, ou 63% do total. “Pernambuco é o maior produtor de açúcar refinado [com produção de cerca de 480 mil toneladas]”, afirmou Cunha.

Na safra 2007/08, a colheita de cana atingiu 61 milhões de toneladas, com um crescimento de 9% sobre o ciclo anterior. Para 2008/09, Cunha não se arrisca a fazer previsões. “Poderíamos crescer muito mais, se os preços dos insumos não estivessem tão altos e a rentabilidade do setor não estivesse tão baixa”, afirmou.

A expectativa é que a produção deverá crescer 5%. “Temos investido no aumento da produtividade por hectare”, afirmou. No centro-sul, a produtividade média é de 85 a 100 toneladas por hectare. No Nordeste, oscila de de 57 a 67 toneladas por hectare.

“Há cinco anos, a média girava em torno de 52 toneladas por hectare”. Os avanços nesta área ocorrem por conta de pesquisas desenvolvidas por Ridesa (Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro), Cetene (Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste) e do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), com sede em Piracicaba (SP).

Autor: Valor Econômico