Faltará peça brasileira para navios de estatal

Para atingir a meta de absorver até 80% dos R$ 112 bilhões em investimentos que a Petrobras anunciou para os próximos cinco anos, o Brasil terá de desenvolver o setor de máquinas e equipamentos da indústria naval. 

O vice-presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, afirma que, apesar dos avanços no setor, hoje a indústria naval brasileira só está preparada para a produção dos cascos dos empreendimentos offshore anunciados pela Petrobras – que incluem 144 navios de grande porte, 146 barcos de apoio, 14 plataformas de produção e outras 40 para exploração das camadas do pré-sal. 

Segundo a Abimaq, existem hoje 400 empresas aptas para a produção das chamadas navipeças. 

Com um nível de utilização de 86% da capacidade instalada e crescimento de 30,3% nos quatro primeiros meses do ano, em relação ao mesmo período de 2007, a indústria nacional de máquinas e equipamentos está aquecida. Segundo Velloso, no entanto, a produção de navipeças (como bombas, válvulas, compressores, tubos e guinchos) ainda tem uma participação modesta no contexto econômico. “É uma indústria incipiente, não muito contemplada.” 

Veloso vê nas encomendas da Petrobras uma chance de os fabricantes de navipeças saírem valorizados. Estas peças representam 30% nos custos de uma plataforma e de 35% a 40% nos navios de grande porte, de acordo com Veloso. “Mas o setor carece de desoneração da cadeia produtiva e de redução de juros para se desenvolver”, afirma. 

Para o executivo, as novas condições de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) são um passo importante neste processo. “A ampliação dos prazos de cinco para dez anos, proposta na Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), foi um gol de placa. Espera-se uma avalanche de novos investimentos, mas que devem estar associados a um menor custo de produção”, afirma Velloso. 

O presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto, acredita que a indústria de máquinas e equipamentos já tem capacidade instalada para atender à demanda, mas espera por definições concretas dos investimentos da Petrobrás. “Não podemos correr riscos. Em 2001, durante a crise do apagão, por exemplo, o governo anunciou a construção de 35 novas usinas térmicas, mas somente uma saiu do papel”, diz Neto. 

Ele acredita em um crescimento forte na produção interna, caso se cumpram os investimentos anunciados pela Petrobrás. Segundo a Abimaq, hoje existem no País 32 estaleiros e canteiros, responsáveis pela construção de navios e plataformas petrolíferas. 

Estrutura pronta
Para a construção das quatro refinarias anunciadas pela Petrobrás, o vice-presidente da Abimaq afirma que a indústria nacional já está estruturada. “Apesar de fazer quase 30 anos desde a construção da última, as reformas nas refinarias existentes mantiveram o setor em atividade”, diz o executivo. 

Serão construídas novas refinarias no Rio de Janeiro, Ceará e Maranhão – a quarta unidade ainda não tem local definido pelo governo. 

Voltada para produtos premium destinados à exportação, a refinaria do Maranhão é especialmente importante. Com capacidade de produção prevista para 600 mil barris de petróleo/dia (contra 180 mil barris/dia de refinarias convencionais), a unidade maranhense pode se tornar a maior do mundo no refino de petróleo. 

Balanço favorável 
Ontem, a Abimaq divulgou um balanço positivo dos primeiros quatro meses do ano. Em relação ao mesmo período de 2017, o setor de bens de capital mecânicos registrou um faturamento total de R$ 23,5 bilhões. O consumo aparente (que calcula o faturamento, que adiciona as importações e exclui o percentual exportado) subiu de R$ 20,3 bilhões no primeiro quadrimestre de 2007 para R$ 28,3 bilhões em 2008 – o aumento, de 39,4%, foi puxado por um total de R$ 10,8 bilhões nas importações, contra os R$ 6 bilhões em máquinas e equipamentos exportados. 

Nos primeiros quatro meses de 2008, a balança comercial na venda de equipamentos e máquinas apresentou um déficit total de US$ 2,7 bilhões. A China, com R$ 630,2 milhões, e a França, com R$ 276,6 milhões, foram os países que tiveram maior crescimento no volume brasileiro de importações, com 88%. 

O presidente da Abimaq afirmou que os baixos custos de importação da China não são favoráveis. “É um tipo de importação que, além de não gerar impostos e empregos, não traz competitividade à indústria nacional. A importação boa é aquela que traz inovações tecnológicas, de qualidade”, disse Neto. 

A soma das exportações no quadrimestre foi de US$ 3,48 bilhões, com variação positiva de 8,4% em relação ao mesmo período de 2007. 

Boa vizinhança
Segundo Luiz Aubert Neto, quanto aos principais destinos das exportações de máquinas e equipamentos, tem havido uma mudança nos últimos anos . “Existe um foco maior sobre os países vizinhos. Na Venezuela, por exemplo, há US$ 2,5 bilhões em negociação para a construção de 60 fábricas”, afirma Neto. 

Segundo dados da Abimaq, o principal destino de exportação hoje ainda são os Estados Unidos, mas neste quadrimestre houve uma queda de 8,4% em relação aos quatro primeiros meses de 2007, resultado da desvalorização cambial.

Autor: DCI