“Superferrovia” corre contra o tempo

O Dr. Juquinha, apelido pelo qual é conhecido no setor ferroviário o presidente da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias, José Francisco das Neves, não sabe como fará para cumprir a nova tarefa que lhe foi dada: passar da construção de 10 quilômetros de linhas ferroviárias por ano para novos 5,5 mil quilômetros de ferrovias que serão preparadas para o uso até o ano de 2012. “Vou ter que fazer uma reestruturação completa, remanejar gente, não sei ainda. 

Estou negociando com o ministro Alfredo [Transportes] o que poderemos fazer. Agora, veja você a minha situação, 1.200 quilômetros já têm de começar em agosto a ser entregues até o fim deste ano”, contou ao DCI. 

De acordo com Neves, o desafio do chamado Plano de Viação Nacional (PVN) é grande, mas trará bons frutos para o setor ferroviário brasileiro, que verá mais disputas, a exemplo do interesse de empresas estrangeiras no trem-bala que ligará São Paulo e Rio de Janeiro. A diferença é que desta vez elas devem apostar nos cerca de 5,5 mil quilômetros de malha que estarão nas mãos da Valec a partir de 2009. 

“Quando privatizaram o setor não perceberam que precisava de uma estatal para garantir a estruturação. O papel da Valec será de construir e passar para a iniciativa privada. Isso será algo inédito”, disse Neves. 

A Valec era antes responsável apenas pela construção da Ferrovia Norte-Sul (FNS). 

Especialistas calculam que cada quilômetro ferroviário custa por volta de R$ 3 milhões, ou seja, os mais de cinco mil precisariam de R$ 16,5 bilhões para serem estruturados, mais um indício da necessidade de uma parceria público-privada. Com a nova configuração, a Valec deixa de se uma empresa exclusiva do governo, passando a uma estatal comum, admitindo mais parcerias com o ambiente privado. 

Entre os trechos que serão assumidos pela Valec, o mais concorrido promete ser o que está entre as cidades de Belo Horizonte e Curitiba, com mais 1,1 mil quilômetros e que passará pelo interior paulista, onde especialistas apontam a viabilidade da implantação de um segundo Trem de Alta Velocidade (TAV), a exemplo de São Paulo e Rio de Janeiro. 

As outras interligações, no total são 12, possibilitam ligar a Norte-Sul aos portos, uma boa possibilidade de escoamento de cargas, tanto industriais, como de commodities agrícolas, de acordo com o perfil de cada região, podendo chegar à Transnordestina na região do Estado da Bahia. O projeto inclui um ramal que chega à Região Norte.
Trem-Bala 

A Valec só se envolverá com o projeto do trem-bala Rio-São Paulo a partir do momento em que for finalizado o estudo de viabilidade econômica e de demanda, processo que o presidente da estatal acredita que vai demandar muito trabalho. 

“Não estamos falando de uma concessão rodoviária, e sim de um projeto complexo que envolverá alta tecnologia que terá que ser implantada desde seu início”, disse ontem, após sair de uma reunião, o ministro dos Transportes. Neste momento, o projeto encontra-se em estudo de viabilidade, coordenado pelos ingleses do Halcrow Group, em parceria com as brasileiras Sinergia Estudos e Projetos e Balman Consultores Associados, vencedores de uma licitação que envolveu a participação de diversas empresas estrangeiras. O trabalho deve ser finalizado até o final do ano e está sob a coordenação do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 

Neves deixou claro que após o recebimento do estudo serão necessárias discussões com profissionais do segmento para chegar a uma licitação adequada, passo previsto para o próximo ano.
Disputa 

A exemplo da concorrência para a realização do estudo pré-licitatório, as empresas estrangeiras que quiserem se envolver no projeto de US$ 9 bilhões do TAV Rio-São Paulo terão de encontrar parceiras nacionais se quiserem fazer parte do negócios. 

Por isso, desde já, uma corrida de empresas estrangeiras, que desejam apresentar suas soluções de trens-bala, a autoridades e empresários brasileiros se estabeleceu, a última delas, ontem, de executivos japoneses das corporações, Kawasaki, Toshiba, Mitsubishi e da consultoria Mitsui & Co, que estiveram esta semana tanto no Rio quanto em São Paulo, para apresentar o esboço de um TAV que custaria US$ 11 bilhões e transportaria 17 milhões de pessoas por ano, entre Campinas e a capital fluminense. 

Outra que assumiu como prioridade a participação no trem-bala brasileiro foi a Siemens, por meio de seu diretor de Sistemas de Transporte, Nelson Branco Marchetti, que declarou, em recente entrevista ao DCI, que a empresa está preparada para atender a qualquer projeto do segmento e quer trazer ao Brasil o Velara, segundo o executivo o trem mais veloz do mundo, implementado pela Siemens em Madri. “Somos o único player que tem capacidade de fornecer tecnologia a todas a áreas que a implantação do trem de alta velocidade envolve”, afirmou. 

O Brasil já recebeu a sinalização de empresas coreanas, italianas e francesas, interessadas no projeto.

Autor: DCI – Crislaine Coscarelli e Fabíola Binas