TXAI Amazônia 2025: a bioeconomia saiu da teoria e entrou em campo

Quatro dias de debates em Rio Branco mostram como ciência, engenharia e saber tradicional se encontram para destravar um novo ciclo de desenvolvimento na Amazônia

[Painel de abertura do evento com integração do olhar indígena para bioeconomia]

Uma convergência rara

Com a participação do Instituto de Engenharia, de 25 a 28 de junho, o espaço eAmazônia da Universidade Federal do Acre virou um laboratório vivo de bioeconomia. Gestores dos nove estados amazônicos, empresários, pesquisadores, artistas e lideranças indígenas dividiram o mesmo auditório para discutir negócios florestais, finanças verdes e políticas públicas. O seminário, gratuito, foi promovido pelo Instituto SAPIEN em parceria com o governo do Acre e outras 25 instituições, somando quinze painéis e mais de 160 atrações culturais, gastronômicas e de negócios.(txaiamazonia.com.br)

Marky Brito abre a conversa olhando para dentro – e para a engenharia

O primeiro painel da manhã de abertura foi mediado por Marky Brito, diretor de Desenvolvimento Regional da SEPLAN/AC. Sem rodeios, Brito estruturou a maior parte de sua apresentação no estudo “Uma Base de Conhecimento para a Estratégia Nacional de Bioeconomias”, produzido pelo Grupo de Trabalho Bioeconomia Nacional do Instituto de Engenharia. Segundo ele, o documento oferece “o mapa e a bússola” para transformar ativos da floresta em valor social e econômico – especialmente no Acre, estado que reúne condições únicas para testar as recomendações do relatório. A fala ganhou peso porque o Acre está finalizando seu Plano de Bioeconomia Estadual ancorado justamente nesse material.

Na mesma mesa, Brito lembrou que o PNDBio hoje em debate no governo federal se apoia nesses mesmos fundamentos e representa “a oportunidade estratégica de converter diretrizes em medidas concretas de mercado, ciência e inclusão produtiva”.

[Marky Brito durante a exposição sobre o Plano Nacional de Bioeconomia]

O estudo resumido do IE – coordenado por George Paulus Dias, Eduardo Lafraia, Cristina Leme Lopes, Carlos Nobre e Mario Humberg – identifica as prioridades para uma estratégia nacional, entre elas governança participativa, infraestrutura de logística verde e marcos regulatórios para créditos de carbono. Essas recomendações apareceram nos slides de Brito quando ele detalhou gargalos de financiamento e logística que o Acre enfrenta para escalar cadeias de castanha, látex e óleos vegetais.

Quando o agro senta à mesa da bioeconomia

O debate vespertino “Bioeconomia e Agro: o quanto o Agro pode ser Bioeconomia e o quanto a Bioeconomia pode ser Agro” fechou o primeiro dia e reuniu vozes plurais do campo e da floresta. Entre elas, o engenheiro de produção George Paulus, coordenador do mesmo GT do Instituto de Engenharia que originou o estudo citado por Brito. Paulus defendeu que “bioeconomia não é antônimo de agro”, apontando que intensificação sustentável, rastreabilidade e certificações podem aumentar a renda do produtor sem a necessidade de desmatamento. O painel foi complementado por falas de representantes da Embrapa do Pará e do Acre.

[Painel “Bioeconomia e Agro”, com participação de George Paulus]

Assista a apresentação completa do Eng. George Paulus

Cultura, ciência e mercado no mesmo corredor

Além dos painéis técnicos, o TXAI ofereceu à plateia uma Mostra Cultural de Bioeconomia com biojoias, cosméticos naturais, utensílios de madeira e alimentos originários, reforçando que conhecimento tradicional é parte da equação de valor, não item folclórico. Concertos de carimbó, forró de seringal e o FestCine Originários mantiveram o auditório cheio mesmo fora do horário dos debates.

Por que isso importa para a engenharia

O protagonismo do Instituto de Engenharia foi visível: seu estudo serviu de base metodológica para o Acre, pautou perguntas nos demais painéis e, ao final do evento, norteará a minuta de recomendações que será encaminhada ao governo federal e à Comissão Nacional de Bioeconomia. O resultado prático é que a engenharia abandona o papel de espectadora e assume o de integradora – ligando política pública, pesquisa e negócios.

Próximos passos

Ao término do TXAI, a coordenação anunciou que a “Carta de Proposições”, construída coletivamente durante os quatro dias, será publicada em julho e remetida ao Ministério do Desenvolvimento Regional, à OTCA e ao comitê preparatório da COP-30; o documento subsidiará o Plano Nacional de Bioeconomia e os debates rumo a Belém, enquanto o Acre se comprometeu a estrear, ainda em 2025, um programa estadual de compras governamentais de insumos e serviços bioeconômicos – projeto-piloto alinhado ao Sistema de Incentivos a Serviços Ambientais (SISA do Acre) e às diretrizes técnicas do Instituto de Engenharia.

 [Encerramento e entrega simbólica da carta de recomendações]