IE NA MÍDIA – Ponte na Raposo Tavares tem pilares deteriorados e preocupa motoristas; DER prevê reparos

Imagens de falta de concreto e aço exposto viralizaram nas redes sociais; DER afirma que não há danos estruturais e que prepara licitação para obras no local

PIRAJU (SP) – Uma ponte na Rodovia Raposo Tavares (SP-270), em Piraju, no interior de São Paulo, está com avarias aparentes na estrutura, o que tem preocupado moradores da região e usuários da estrada. Os problemas são mais visíveis na parte inferior da Ponte Jurumim, que passa sobre o Rio Taquari (no km 295,3) e tem 215 metros extensão, em trecho de pista simples.

Parte do concreto se desprendeu entre os pilares e também na estrutura, expondo parte do aço que sustenta a ponte. O trecho não é concedido e está sob administração do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), que prepara uma licitação para obras no local. O órgão disse que realizou vistorias e não há danos estruturais.

Segundo o Ministério Público do Estado de São Paulo, um inquérito civil sobre o caso está em andamento. A instituição relatou ter recebido imagens da delegacia local na segunda-feira, 10, para que a promotoria de Justiça de Piraju tome as “eventuais providências”.

Para especialistas ouvidos pelo Estadão, a ponte está em deterioração e precisa passar por uma recuperação ou reforço. Segundo eles, os dados disponíveis até o momento, porém, não apontam que a estrutura esteja necessariamente prestes a ruir.

O corretor de imóveis Marcelo Teruel, de Bauru, registrou em vídeo as fissuras ao passar de barco sob a ponte, quando navegava no lago formado pelo represamento do Taquari. Segundo ele, as imagens postadas no último dia 1º tiveram mais de um milhão de visualizações em diferentes plataformas (como TikTok, Instagram e Facebook).

Teruel conta que a estrutura fazia um barulho, como estalos, conforme fluía o tráfego na parte superior. “Vi aqueles pilares deteriorados, com o ferro (aço) exposto”, comenta. O corretor diz ter passado outras vezes no local, mas que o nível da água estava mais elevado e, portanto, não era visível a desagregação do concreto. “O negócio está feio demais”, descreve.

Nesta segunda-feira, 10, a reportagem esteve no local e constatou que a situação segue a mesma. Quatro dos cinco conjuntos de pilares estão com concreto desagregado. Em um deles, a armadura (estrutura de aço essencial para a sustentação) do pilar está exposta. No tabuleiro da ponte, as juntas de dilatação apresentam desníveis, o maior deles com quatro centímetros.

O DER informou que vai publicar edital de licitação para o reparo da ponte nas próximas semanas, em data ainda não definida. Segundo o departamento, foram realizadas diversas vistorias no local, incluindo subaquática, que não detectaram danos estruturais na ponte. “Os dados colhidos nessas vistorias estão servindo para a confecção do processo licitatório”, informou.

De 2019, uma norma da ABNT (NBR 9452) prevê a inspeção anual de pontes, viadutos e passarelas de concreto no Brasil. Em nota, o CREA-SP diz estar ciente do caso após ter recebido denúncias, ter acionado as autoridades responsáveis para que realizem a manutenção e recuperação e que acompanhará a situação.

Reparos precisam ser feitos a curto prazo, dizem especialistas

Especialistas ouvidos pelo Estadão avaliam que a estrutura precisa passar por reparos ou reforço em um curto prazo, a depender do que for avaliado em uma inspeção técnica. “É um problema urgente. Necessita de recuperação, pelo estado de degradação. Mas não apresenta risco de segurança, a princípio”, afirma o engenheiro civil Rafael Timerman, especializado em estruturas e diretor do Instituto de Engenharia. Para ele, não há risco de colapso iminente.

Timerman explica que a avaliação e recuperação da estrutura neste momento, em que está emersa, é mais barata e fácil. Quando fica abaixo do nível da água, também é necessário mobilizar equipes de mergulho e, por vezes, usar outras técnicas e materiais, como aponta o também engenheiro civil Tiago Carmona, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Carmona destaca que a avaliação técnica é necessária em diferentes pontos da ponte para identificar a demanda por reforço ou recuperação. Pelas imagens, avalia que o concreto pode ter passado por um processo erosivo causado pela água, o que ocorre especialmente quando o material não tem resistência adequada para o ambiente e, por isso, talvez seja preciso realizar intervenções em mais trechos da estrutura.

Na inspeção, é possível, por exemplo, aferir se a parte superior (o “gabarito”) segue segura para o tráfego ou se é preciso fazer alguma restrição, como proibição temporária do tráfego de veículos pesados ou limitação das faixas disponíveis, dentre outros. Ele afirma que não é comum a identificação de estampidos ou outros sons nestes tipos de estrutura.

“Tem de ser feito o quanto antes, não dá para esperar o período da seca”, ressalta. “A situação não é adequada, pode ser classificada como situação de risco. Ações de remediação têm que ser tomadas a curto prazo. Quem for fazer inspeção vai avaliar a urgência.”

Situação preocupa motoristas que utilizam a ponte

O caminhoneiro João Batista Sanches Brito, de Ourinhos (SP), passa várias vezes na semana pela ponte e percebe que a estrutura balança muito quando o caminhão está carregado. “No sentido capital, tem uma saliência que causa um impacto no sistema de amortecimento do veículo. Aliás, todas as juntas estão com saliências e causam sacolejo no veículo. Fizeram a manutenção da estrada, mas não mexerem na ponte”, disse.

Também motorista de caminhão, José Roberlei carrega areia há 30 anos em um porto, ao lado da ponte, e passa diariamente pelo local. Ele conta que viu o vídeo postado por Teruel e se assustou. “A gente percebe que tem algum problema por causa dos solavancos no caminhão, mas não imaginava”, disse.

Roberlei contou que outra ponte, no km 314 da Raposo, também está com problemas. “É a ponte sobre o Rio Paranapanema, que tem a mesma dimensão desta”, disse. A reportagem constatou que, sob a estrutura dessa outra ponte, há folga entre as placas de concreto, por onde vaza a brita do asfalto, e alguns blocos estão fixados com parafusos. Segundo o DER, o local também foi vistoriado, não havendo situação de risco.

Fonte: Estadão