IE NA MÍDIA – Quem aposta em uma bioeconomia para a Amazônia Brasileira

Restauração florestal e a modernização das práticas de agricultura e pecuária estão na base da bioeconomia

A Amazônia Legal é um mundaréu que abarca cinco milhões de quilômetros quadrados, 58,9% do Brasil. E não é um deserto humano. Há 29,3 milhões de brasileiros, 14% da população vivendo nessa região. A bioeconomia, modelo que propõe a utilização inteligente dos recursos para garantir o bem-estar socioambiental, pode ajudar a Amazônia Legal a manter a floresta em pé e gerar empregos, em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). É disso que trata o caderno especial “Amazônia e Bioeconomia”, apresentado hoje (8), pelo Instituto de Engenharia, uma entidade centenária. “Antes de mais nada, o Brasil precisa imaginar, discutir e escolher que desenvolvimento quer e pode fazer acontecer na Amazônia”, diz Eduardo Lafraia, presidente do instituto.

O estudo mostra a necessidade de investimento em educação e tecnologia, principalmente. A proposta é uma matriz energética menos emissora de gases de efeito estufa, voltada para inovações que permitam a restauração florestal e a modernização das práticas de agricultura e pecuária, em busca de uma maior produção com diminuição da área plantada. O trabalho foi coordenado pelos engenheiros Carlos Nobre, cientista com vários estudos sobre aquecimento global e que em fevereiro recebeu o prêmio de Diplomacia Científica da Associação Americana para o Avanço da Ciência, o primeiro para um brasileiro, e por George Paulus Dias, professor da Fundação Carlos Alberto Vanzolini, instituição mantida pelos professores do departamento de engenharia de produção da Escola Politécnica/USP, e conselheiro do Instituto de Engenharia.

Há na Amazônia Legal uma grande capacidade instalada para a produção de inovações em bioeconomia. São 284 instituições de ensino superior, das quais 16 são universidades federais e 10 são institutos, mais oito universidades estaduais. Apenas nas engenharias são 41 modalidades, entre elas civil, produção, ambiental, florestal e outras.

“Com a interiorização das universidades ocorrida nas últimas décadas, hoje temos a segunda geração formada no interior da Amazônia que tem sido o elemento mais apropriado para a transferência de tecnologia”, diz Tatiana Schor, secretária-executiva de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Amazonas. Fazem parte da região o Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e parte do Maranhão e cinco municípios de Goiás, totalizando 772 municípios.

A cadeia do açaí é um exemplo, fruto que se tornou um produto de consumo em todo o País e também no exterior. O Balanço Social da Embrapa de 2019 mostra que essa cadeia movimentou R$ 3 bilhões na economia da Amazônia. O impacto econômico gerado foi de R$ 144 milhões na produção do manejo de açaí de várzeas e grotas, e de R$ 146 milhões no cultivo de açaí de terra firme. De acordo com a Embrapa, para cada um real investido na pesquisa em manejo de açaizais nativos na Amazônia Oriental, presentes no Amapá e Pará, o retorno para a sociedade é de R$ 44,28. No caso da cultivar de açaí BRS Pará, presentes nos dois Estados mais Rondônia, o retorno é de R$ 36,62.

Futuro de transformações

Para a equipe que realizou o estudo há um falso dilema entre desenvolvimento e sustentabilidade. O projeto Amazônia 4.0, baseado no IEA-USP (Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo) e preconizado por Carlos Nobre, aponta que é possível o País assumir a liderança mundial da economia circular. A tarefa requer instrumentos necessários para a criação de negócios baseados na sociobiodiversidade Amazônica e em sistemas de produção que incorporem as tecnologias da quarta revolução industrial e da engenharia biológica. A velocidade de implementação é o fator mais importante para que as oportunidades da bioeconomia sejam aproveitadas.

“A terceira via Amazônica representa uma oportunidade emergente para desenvolver uma ‘economia verde’ que aproveite todo o valor de uma ‘floresta produtiva permanente’ para, com a ajuda de novas tecnologias físicas, digitais e biológicas já disponíveis ou em evolução, estabelecer um novo modelo de desenvolvimento econômico socialmente inclusivo”, diz Nobre.

O estudo mostra a necessidade de investimentos nos centros de tecnologias e inovação (CT&Is), majoritariamente compostos por universidades, institutos de pesquisa e empresas. Embora o País conte com uma extensa rede, vêm caindo os investimentos em pesquisas através de bolsas de estudo de pós-graduação. O Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), uma das principais instituições de pesquisa da região, é um exemplo. Em 2019, dos R$ 35,76 milhões previstos no orçamento, apenas R$ 24 milhões foram repassados. Em 2018, o orçamento já havia sido de R$ 25,57 milhões, 39,6% menor que os recursos previstos em 2017.

Um caminho apontado é dar às empresas brasileiras incentivos certos para investirem mais em pesquisa e desenvolvimento. Na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), composta por 37 países, entre eles Estados Unidos, França e Alemanha, o investimento do setor privado representa 1,3% do PIB (Produto Interno Bruto). Na China o índice é de 1,2%. Mas no Brasil apenas 0,6% do PIB é destinado à pesquisa e desenvolvimento.

Fonte: Forbes