Um plano B para o abastecimento de água para São Paulo

Por José Eduardo Cavalcanti*

Este artigo saiu publicado na Folha em dezembro de 2014 na sessão Tendências e Debates mas dada sua atualidade, tendo em vista o Projeto Novo Pinheiros em implantação pelo Governo de São Paulo, torna-se útil reproduzi-lo neste espaço.

Diante do esgotamento dos parcos mananciais próximos à Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), que aliás enfrenta atualmente uma crise sem precedentes de abastecimento de água, a solução natural adotada tem sido sistematicamente a busca por outras fontes de suprimento de água cada vez mais distantes das bacias do Alto Tietê.

Exemplo disso foi a implantação do sistema Cantareira, que vem proporcionado nos últimos 40 anos o aporte de quase 50% do suprimento total de água para uma região carente deste recurso.

Outro exemplo foi o início das obras para a transposição de água do rio Juquiá situado a mais de 100 km da zona oeste da Capital que trará a partir de 2018 pouco mais que os modestos 15% da água fornecida pelo Cantareira o que desde já é considerado insuficiente para a demanda requerida pela RMSP.

É flagrante pois a vulnerabilidade que cerca a RMSP em termos de abastecimento de água, pois antes mesmo desta estiagem que nos assola, oferta e demanda praticamente se equivaliam e as soluções adotadas pela Sabesp, estão de longe defasadas no tempo pois se desenvolvem em ritmo incompatível com as urgentes necessidades da metrópole.

É urgente que as autoridades sanitárias do Estado implantem um plano B visando reduzir a insegurança hídrica. Este plano B se baseia na adoção de tecnologias de tratamentos avançados para a purificação de águas de mananciais não protegidos localizados dentro da própria RMSP que por esta razão estão com qualidade de água incompatível com as técnicas convencionais ainda adotadas de tratamento de água.

Esta situação se configuraria na prática como um reuso indireto de água só que programado, ao contrário das práticas corriqueiras de reuso indireto não programado.
Nestas condições, tendo em vista a configuração hídrica da Bacia do Alto Tietê uma nova tomada d’água se daria na represa Billings em um ponto próximo ao reservatório das Pedras de modo a se aproveitar dos efeitos de autodepuração deste manancial, cujas águas seriam acrescidas das do Rio Pinheiros com o reforço do efluente tratado da ETE Barueri e de parte das águas do Tietê a montante.

A reversão do esgoto tratado da ETE Barueri somente poderia ser realizada após um tratamento terciário do efluente secundário. Esta intervenção seria feita com a substituição dos decantadores secundários por membranas de ultrafiltração o que propiciaria também a liberação de áreas para expansão.

Com tal grau de qualidade, esta reversão se daria por recalque com a tubulação seguindo em sentido contrário pelas margens do rio Tietê em direção à embocadura do Pinheiros por onde adentraria a este rio através das estruturas hidráulicas já existentes.
O tratamento ao nível terciário das águas revertidas à Billings (rio Pinheiros + efluente da ETE Barueri), é estimado atualmente em 22 m3/s, antes da entrada no reservatório das Pedras.

A captação na Billings próxima ao reservatório das Pedras submeteria a água a tratamentos avançados incluindo tecnologia de membranas complementada com eventuais processos oxidativos.

A água tratada seria revertida preferencialmente aos reservatórios dos sistemas produtores Rio Grande, Alto Tietê e Cantareira ou mesmo distribuída diretamente.
Esta solução traria como vantagens além da elevação da segurança hídrica da metrópole a melhoria da qualidade das águas do rio Pinheiros, da Represa Billings e poderia ainda reforçar a geração em Henry Borden quando as condições hídricas forem favoráveis para o prioritário esforço de abastecimento de água à população.

Atente-se, entretanto, que a adoção desta solução tal como proposta ou suas variante, como de resto todas as soluções de reuso potável e não potável devem ser antecedidas de exaustivos estudos de tratabilidade em escala técnica.
Só então é que se poderia iniciar a implantação desta alternativa.

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*José Eduardo W. de A. Cavalcanti

É engenheiro consultor, diretor do Departamento de Engenharia da Ambiental do Brasil, diretor da Divisão de Saneamento do Deinfra – Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), conselheiro do Instituto de Engenharia, e membro da Comissão Editorial da Revista Engenharia

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*Os artigos publicados com assinatura, não traduzem necessariamente a opinião do Instituto de Engenharia. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo