IE NA MÍDIA – Menor número de antenas de celular pode explicar altos índices de isolamento social nas periferias

Um deslocamento só é registrado quando um aparelho muda de uma torre para a outra. Por outro lado, os movimentos para uso de serviços essenciais acabam diminuindo a sensação de obediência da quarentena. Apesar de imprecisões, especialistas ouvidos pela CBN consideram o modelo adequado.

Na última semana, os distritos de Marsilac e Parelheiros, no extremo sul da capital paulista, registraram as maiores taxas de isolamento da cidade: 79 e 70%. Ermelino Matarazzo, na Zona Leste, aparecia em terceiro, com 66%. Os índices estão bem acima da média do estado de São Paulo, 48%, e também do considerado ideal pelas autoridades de saúde, que seria de 60 a 70%.

Uma das explicações pode estar no menor número de antenas de celular nessas localidades, que historicamente sofrem por falta de infraestrutura, segundo a Abrintel, Associação Brasileira de Infraestrutura para as Telecomunicações.

Funciona assim: todo celular ligado emite sinais para a torre mais próxima. Se ele permanecer na mesma área de cobertura durante todo o dia, tecnicamente o dono dele está cumprindo o isolamento social. Acontece que essa área de cobertura, que em média varia de 200 a 300 metros, pode ser maior nas regiões com menos antenas.

Logo, segundo o engenheiro eletrônico Julian Portillo, o aparelho terá que percorrer uma distância maior para que o deslocamento seja registrado:

“Podemos ter as duas situações: você nem registrar a aglomeração e muito menos a questão do deslocamento. Se ela andou 100 metros, 200 metros, 500 metros, às vezes até um quilômetro, pode ser que você não detecte essa movimentação”.

Julian explica que o monitoramento por GPS seria mais preciso, mas nesse caso a amostra seria menor, já que o usuário teria que manter a função habilitada.

O pesquisador Alessandro Santiago dos Santos, do IPT, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas, alega que o importante é adotar sempre o mesmo critério para efeito de comparação:

“Acho que a questão de precisão, nesse caso, não é o ponto fundamental. Não adianta você perceber se a pessoa andou um centímetro, dois, 10, 20, 200 metros. É assumir algum critério. Nesse caso aqui nós estamos usando o critério de 200 metros”.

Como a média de cobertura de cada antena é de 200 metros, uma pessoa que foi a um mercado ou a uma farmácia mais distante, tecnicamente, quebrou a quarentena.

Governos como o da Coreia do Sul sabem exatamente aonde os moradores foram, mas na avaliação da engenheira Flávia Cruz, coordenadora da Divisão Técnica de Telecomunicações do Instituto de Engenharia, isso seria impossível no Brasil:

“A gente tem uma legislação que protege bastante a privacidade das pessoas. Isso, se for feito, é uma quebra de legislação, com certeza, no Brasil. Aqui eu não vejo como fazer isso”.

E o presidente do SindiTeleBrasil, sindicato que representa as empresas de telefonia, Marcos Ferrari, garante que os governos estaduais e federal não têm acesso às informações dos clientes:

“Não se sabe qual é a operadora da pessoa, não se sabe o número da pessoa e nem quem é a pessoa. O que se avalia é justamente o comportamento estatístico de aglomerações”.

Na semana passada, a secretária de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Patrícia Ellen, disse à TV Globo que uma pesquisa feita pela Fundação Seade apontou que mais de 70% dos moradores consideram que estão em quarentena.

Veja a taxa de isolamento e o número de habitantes por Estação de Rádio Base (torre com antenas) em algumas regiões de São Paulo

Bairros com maiores taxas de isolamento (23/04):

Marsilac, Zona Sul
Isolamento: 79%
Estações: 2
Habitantes por estação: 4.129

Parelheiros, Zona Sul
Isolamento: 70%
Estações: 12
Habitantes por estação: 18.740

Ermelino Matarazzo, Zona Leste
Isolamento: 66%
Estações: 7
Habitantes por estação: 18.936

Bairros com menores taxas de isolamento (23/04):

Vila Nova Conceição, Zona Sul
Isolamento: 33%
Estações: 97
Habitantes por estação: 1.489

Alto da Boa Vista, Zona Sul*
Isolamento: 37%

Vila Leopoldina, Zona Oeste
Isolamento: 42%
Estações: 34
Habitantes por estação: 2.078

*Não há nenhuma Estação de Rádio Base (torre com antenas) cadastrada no bairro Alto da Boa Vista, no entanto, olhando no mapa, é possível ver ao menos 6 estações em Santo Amaro, Jardim Cordeiro, Jardim Flórida e Jardim dos Estados que promovem cobertura na região.

Fonte: Sistema de Monitoramento Inteligente do Governo de São Paulo e Abrintel (Associação Brasileira de Infraestrutura para as Telecomunicações)

Fonte: Rádio CBN