USP prevê desenvolver até 2021 uso de insetos, vírus ou fungos como alternativa ao agrotóxico

Criação de defensivos 'vivos' é foco de centro de pesquisa inaugurado nesta terça (11) em Piracicaba. Lançamento de insetos por drone nas lavouras garante alimentos 'mais limpos'.

Laboratório de pesquisa sobre controle biológico na USP de Piracicaba — Foto: Gerhard Waller

Um centro de pesquisas inédito que realizará estudos para combate de pragas na agricultura com uso de insetos, fungos, bactérias e vírus foi inaugurado nesta terça-feira (11) em Piracicaba (SP).

A aplicação destes agentes de controle biológico nas lavouras poderá ser feita por meio de drones ou como se fossem inseticidas. Segundo pesquisadores, a técnica pode garantir alimentos “mais limpos”, já que substituiria o uso de agrotóxicos.

Com sede na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), o São Paulo Advanced Research Center for Biological Control (SPARCBio) pretende lançar produtos no mercado até 2021, segundo um dos pesquisadores.

O controle biológico é uma tecnologia que é estudada desde o século 20 para combate de pragas no campo com uso dos predadores naturais dessas pragas, como uma alternativa natural aos agrotóxicos. Entre os exemplos, está a soltura de insetos predatórios em uma cultura específica para combater algum inseto prejudicial à plantação.

Entre os objetivos do centro de pesquisas inaugurado em Piracicaba está trazer aprimoramentos e inovações para a técnica. De acordo com o SPARCBio, o ineditismo está no fato de ser a primeira unidade voltada especificamente para este tipo de estudo no país.

Outra intenção é estimular a produção em larga escala, já que hoje não há agentes de controle biológico suficientes para todas as lavouras do Brasil no mercado.

Como funciona?

  1. Em laboratório, pesquisadores avaliam macro ou micro-organismos (insetos, fungos, vírus ou bactérias, por exemplo) que possam controlar determinadas pragas em plantações
  2. Após a definição sobre qual agente utilizar, ele é solto naquela plantação
  3. Se for o fungo, vírus ou bactéria, por exemplo, ele é liberado como se fosse um inseticida
  4. Se for um inseto, há hoje em dia a possibilidade de soltá-lo com drone

Mais acessível

O SPARCBio tem como objetivo incentivar as pesquisas sobre essa tecnologia para tornar acessível aos produtores. Segundo o diretor e um dos maiores especialistas em controle biológico do Brasil, José Roberto Postali Parra, hoje cerca de 2% da produção utiliza a técnica para combate de pragas.

José Roberto Postali Parra, diretor da SPARCBio em Piracicaba — Foto: Gerhard Waller
José Roberto Postali Parra, diretor da SPARCBio em Piracicaba — Foto: Gerhard Waller

De acordo com um dos pesquisadores que vai atuar no SPARCBio, José Mauricio Simões Bento, as pesquisas serão voltadas principalmente para as culturas que causam mais impacto econômico no Brasil. “Podemos listar citros, cana-de-açúcar, soja e milho”, exemplificou.

A intenção principal é fazer com que o controle biológico seja cada vez mais presente no combate às pragas e se torne acessível aos produtores.

“A gente imagina que com esse centro o país vai ganhar muito, porque nós vamos poder melhorar a qualidade dos nossos produtos e tornar mais competitivos, não só para o mercado interno como para a exportação”, afirmou.