Brasil tem potencial de produção de carne para demanda mundial

Para especialista, estudo considera interesses comerciais das economias que importam de países tropicais

Foto: Pixabay

 

 

Estudo da Oxford Martin School, a pedido do Fórum Econômico de Davos, aponta que a produção de carne está no limite da demanda, e a diminuição do consumo salvaria vidas: 2,4% das mortes provocadas por alimentação no mundo poderiam ser evitadas caso houvesse uma redução no consumo de carne, sobretudo de origem bovina. Deixar de comer carne poderia salvar milhões de vidas e reduzir significativamente as emissões de dióxido de carbono. Nos países ricos, nos quais o consumo de carne bovina é mais elevado, o porcentual de vidas que se salvaria seria de 5%, destacou o Fórum Econômico Mundial, que reúne anualmente, em janeiro, as elites econômicas e políticas mundiais no leste da Suíça. Segundo o estudo, a demanda por carne continuará aumentando durante as próximas décadas, já que a população mundial pode chegar a 10 bilhões de pessoas antes de 2050.

Jornal da USP No Ar conversou com o professor Sergio De Zen, do Departamento de Economia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, e pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Em sua análise, De Zen pontua que países da América do Sul e da África vão na contramão desse estudo, que foca nos países da Europa e nos EUA e Canadá: “Esses produtores estão muito longe do seu limite de produtividade que poderia estar englobado neste estudo. Eles não se aprofundaram nessas regiões e, por isso, chegaram a essa conclusão que — no meu ponto de vista — não é a mais correta. O Brasil tem uma capacidade de aumento de produtividade muito grande. E isso ocorre de um processo de adoção de tecnologia e de gestão, que nesses países são muito mais complexos do que nos países de clima temperado”.

Uma das discussões no cenário nacional é sobre o meio ambiente e seu uso para a produção de gado, questionando se isto é correto ou não. O professor pondera, afirmando que há estudos feitos com bancos de dados no Brasil e que é comparado com outros países do mundo, que permitem com que o agronegócio assuma uma postura de liberar terras para outras atividades ao invés de demandar para sua produção. “É errado dizer hoje que a pecuária é o principal vetor do desmatamento. A pecuária já não é, porque houve um aumento de produtividade tão grande do fator terra que fez isso.” De Zen ainda afirma que existem interesses comerciais na discussão de produção e do consumo de carne, mas há regiões em que a sua presença é indispensável.

No quesito da qualidade da carne bovina, o especialista aponta que naturalmente, com o aumento da produtividade, cresce também a melhora no caráter do produto. Contudo, há também as carnes de baixa qualidade. E o Brasil, segundo ele, tem  potencial para atender uma forte demanda de carne, oferecendo, por exemplo, para a China.

Fonte Jornal da USP