Cientista brasileira da NASA diz que setor assiste a “uma onda de mulheres”

A cientista brasileira Rosaly Lopes, que trabalha como investigadora sénior no Jet Propulsion Laboratory (JPL) da NASA em Pasadena, Califórnia, diz que há "uma onda de mulheres" a entrarem na área das ciências planetárias

Cientista brasileira Rosaly Lopes

A investigadora falou à Lusa à margem da 42ª Assembleia do Comité para a Investigação Espacial (COSPAR, na sigla inglesa), que decorre em Pasadena até 22 de julho e da qual é vice-presidente do programa científico.

“Realmente estamos vendo uma onda de mulheres jovens entrando nessa área. Agora quase que não se nota muita diferença em ciências planetárias”, disse a investigadora, contabilizando em 30% a percentagem de cientistas femininas nesta área na NASA. “Quando comecei tinha muito poucas.”

Rosaly Lopes, que se doutorou em geologia e vulcanologia planetária em 1986, sublinhou que o mesmo não se passa em astrofísica e que, nas áreas técnicas e de engenharia, a percentagem de mulheres é inferior.

“É um pouco mais difícil que em ciências planetárias”, afirmou. “É uma coisa que demora tempo para mudar.”

A cientista deixou recentemente de ser diretora da sessão planetária no JPL e sublinhou que há algumas mulheres em posições de relevo no laboratório da agência espacial norte-americana, tais como assistentes técnicas do diretor.

“Acho que, no futuro, vamos ter talvez uma mulher diretora do laboratório”, considerou.

A divulgação de exemplos é importante para aumentar o número de mulheres que investem em carreiras científicas, acredita Rosaly Lopes, citando os bons resultados do programa de edução de Sally Ride, astronauta norte-americana que criou um plano de edução para adolescentes.

“É importante para as mulheres verem que existem outras mulheres trabalhando nessas áreas”, sublinhou. “Só meninas vendo mais e mais mulheres dá um incentivo a elas”.

No seu caso, Rosaly Lopes foi inspirada pelo programa Apollo, pela série televisiva “Star Trek” e pelo filme “2001: Odisseia no Espaço, além do trabalho de Frances Northcutt, a única mulher envolvida na missão Apollo 13.

“Queria ser astronauta, mas entendi muito cedo que sendo brasileira e ainda por cima míope ia ser muito difícil”, afirmou. “Resolvi seguir astronomia e depois ciências planetárias e trabalhar para a NASA ajudando na exploração do espaço”.

Envolvida num projeto de investigação de vida extraterrestre na lua Titã, do planeta Saturno, a cientista diz que gostaria de trabalhar numa missão de colonização, apesar de não saber se haverá alguma antes de se reformar.

Mas acredita que o futuro passará por ter colónias noutros planetas e na lua.

“Não sei se vai ser para muita gente morar lá realmente”, disse, “mas a maneira que eu penso é como nós termos bases na Antártica”. Bases na lua e em Marte, a acontecerem, terão como “principal razão” a pesquisa científica.

“Acho que nós vamos inventar maneiras da Terra poder sempre ser um lugar bom para os seres humanos”, concluiu.

Fonte RTP Notícias