NA MÍDIA – Incêndio no Velódromo não foi fatalidade, diz especialista

O incêndio que destruiu parte do Velódromo do Parque Olímpico do Rio, na Zona Oeste da cidade, na madrugada deste domingo, poderia ter proporções menores. É o que afirma Carlos Cotta Rodrigues, coordenador da divisão técnica de engenharia de incêndio do Instituto de Engenharia. Segundo ele, nem mesmo a possibilidade de ter sido causado por um balão, de acordo com relato de testemunhas nas redes sociais, permite que o acidente seja tratado como fatalidade.

— Quando acontece um incêndio desta proporção é porque houve um conjunto de falhas. Independentemente de qualquer coisa, se não há uma brigada no local capacitada para agir nos primeiros segundos em que a edificação for atingida por uma tocha de fogo, incêndios desse tipo vão continuar acontecendo. Nada substitui o ser humano. Em qualquer prédio, o porteiro, o segurança, deve ser treinado como brigadista. Esse profissionais precisam saber utilizar hidrantes e extintores de forma rápida e eficaz — diz Rodrigues, que é coronel da reserva do Corpo de Bombeiro de São Paulo.
A tecnologia também deve ser utilizada nas ações de combate a incêndios, segundo o especialista:

— Se houvesse no Velódromo uma ronda aliada a um sistema de alarme de detenção de incêndios, a chama não teria esse propagação, então poderia ser apenas um princípio de incêndio. O alerta desse tipo de sistema automático acontece em segundos, o que muda tudo nesse tipo de situação. A possibilidade de pegar fogo é inerente a qualquer construção, sempre haverá um elemento combustível, por isso unir o fator humano a tecnologia é tão importante.

O uso de material ignifugado (que tem a função de retarda a propagação das chamas) em coberturas de edificações também não deve ser descartado para prevenir que balões provoquem incêndios.
— Num país de quinto mundo, como o Brasil, não estamos livres dessa questão do balão, então é preciso se preocupar, já no projeto de arquitetura e engenharia, em usar materiais de acabamento e revestimento que resistam ao fogo e controlem a sua propagação. Se eventos externos não forem previstos no projetos, fica complicado. É mais caro? É, mas vale o investimento. A segurança contra incêndios nasce num bom projeto de arquitetura e engenharia. Se deixar ao acaso, não tem jeito. Só não acontecem mais catástrofes como essa porque, dizem, Deus é brasileiro — conclui Rodrigues.

Moacyr Duarte, especialista em gerenciamento de risco, não avalia o uso de material ignifugado em edificações como imprescindível.
— Em coberturas, não se costuma usar esse tipo de material porque encarece o projeto entre 60 a 80%. Não vale o investimento. O fundamental na prevenção de incêndios é ter alguém tomando conta o tempo todo. A vigilância é decisiva para a proporção que o incêndio terá. Mas o incêndio do velódromo pode ter outra causa, como, por exemplo, um curto-circuito. Só a perícia esclarecerá o que realmente aconteceu — observa Duarte.

O incêndio que atingiu o Velódromo do Parque Olímpico do Rio, caso tenha sido motivado por balões, pode se repetir.
— Nenhum lugar está totalmente livre. Nem o Maracanã, nem a nossa casa – avisa o especialista em gerenciamento de risco.

Em decorrência do incêndio ocorrido nesta madrugada, no velódromo do Parque Olímpico da Barra (RJ), a Autoridade de Governança do Legado Olímpico (AGLO) informa que tomou as medidas legais cabíveis até o presente momento, inclusive com registro de ocorrência na Polícia Federal, uma vez que se trata de crime de âmbito federal.

A autarquia também esclarece que peritos da Polícia Civil estiveram no local e, preliminarmente, a avaliação é de que a causa do incêndio tenha sido externa. Também ficou constatado que, a princípio, não houve qualquer dano de natureza hidráulica ou elétrica; não comprometendo, portanto, o sistema de refrigeração do velódromo, que segue em funcionamento e mantendo a devida temperatura da madeira siberiana que compõe a pista de ciclismo. Ainda de acordo com a polícia, a primeira avaliação é de que os danos internos são decorrentes da queima da cobertura do velódromo e da água utilizada para apagar o incêndio. A Defesa Civil também fez vistoria no local.

Durante a madrugada, o Corpo de Bombeiros já havia liberado acesso às instalações do velódromo para a equipe da AGLO, que no momento coordena as primeiras ações de limpeza e mitigação de danos, com apoio da Comlurb e de servidores municipais, enquanto aguarda o resultado da perícia policial para futura manifestação à imprensa.

O campeonato de karatê que ocorreria hoje (30.07) no local, de iniciativa da Federação de Karatê, foi transferido para o próximo domingo, dia 6, para a Arena 1 do Parque. O velódromo, palco de recordes olímpicos nos Jogos Rio 2016, também sediou um campeonato estadual de ciclismo de pista com 120 atletas no mês de junho, bem como, integrou um evento de passeio ciclístico com mais de 500 ciclistas durante o “Rio Bike Fest”, realizado no mesmo período. Desde sua reabertura, o espaço ainda é utilizado para treinos de atletas de alto rendimento às terças e quintas-feiras, e fins de semana, além de servir para realização de projetos de inclusão social supervisionado.

Autor: O Globo