O leitor, o ouvinte e o telespectador são mesmo clientes do transporte individual?

Em São Paulo, as manhãs dos paulistanos seguem uma certa rotina. A maioria começa o seu dia bem cedo e, antes do sol nascer,sai de casa para realizar a primeira viagem do dia, seja para ir à escola, ao trabalho ou para algum outro local, onde desenvolve sua atividade social, econômica ou de lazer.

Sem se preocupar com o rigor dos números, é possível dividir essa massa de pessoas que se desloca pela metrópole em dois grandes grupos, ou seja, aqueles que se utilizam do transporte individual – carro, bicicleta ou motocicleta – e aqueles que usam o transporte coletivo – ônibus, trem ou metrô– para começar a sua jornada diária.

Até bem pouco tempo atrás, quem se deslocava pela cidade usando o transporte individual, justificando a sua opção pelo conforto e liberdade de escolha do itinerário, tinha por hábito obter informações atualizadas por meio da leitura de um jornal impresso, assistindo a um dos telejornais veiculados nas primeiras horas do dia ou ouvindo os comentários e debates típicos dos jornais matinais,em uma das dezenas de boas rádios difusoras que temos na cidade.

Nesse sentido, era comum constatar que articulistas, editorialistas, âncoras de telejornal e comentaristas das rádios criticavam o transporte coletivo, principalmente, porque seus leitores, ouvintes ou telespectadores, na sua grande maioria, usavam o automóvel para se locomover pela cidade. Nada mais adequado do que escrever, transmitir ou difundir aquilo que o cliente deseja ler, ver ou ouvir.

Por sua vez, ao usuário do transporte coletivo não lhe era dada a oportunidade de receber as notícias do dia, logo pela manhã, de outra forma que não fosse por meio da leitura de um jornal de distribuição gratuita ou pela conversa travada com um amigo ou companheiro de viagem, durante o transcurso do deslocamento ou enquanto ele esperava o ônibus, trem ou metrô, num ponto ou numa estação.

Mas, com as mudanças que estão ocorrendo no mundo da comunicação, principalmente, com a chegada dos “smartphones” e dos “tablets”, os usuários do transporte coletivo passaram a ter acesso a todo tipo de informação, seja ela veiculada pelos jornais impressos, pelas redes de TV ou pelas rádios, com um ligeiro toque na tela dos seus aparelhos.

Assim, basta uma simples observação sobre o comportamento, durante a viagem,dos mais de seis milhões de usuários diários do sistema de ônibus de São Paulo, dos quase quatro milhões de passageiros que usam o metrô todos os dias e de pouco mais de dois milhões de pessoas que, cotidianamente, se utilizam dos trens para constatar uma significativa mudança de hábitos e de costumes. A maioria dos usuários do transporte coletivo realiza a sua viagem, por quaisquer dos modos existentes,de olho na tela e com o aparelho – celular ou tablet – conectado ao seu ouvido.

Por isso, é de se esperar que os formadores de opinião e jornalistas experimentados passem a ter a preocupação não só de comunicar as condições do trânsito das principais ruas e avenidas da cidade; mas, também, de informar como anda o desempenho e as condições operacionais do sistema de transporte coletivo. Afinal, público novo merece, no mínimo, uma adaptação do produto que lhe é oferecido.

Essa constatação abre um novo horizonte e uma nova perspectiva, em termos de clientes e interessados, em tudo o quanto é divulgado e noticiado pelos meios de comunicação. Os especialistas, muito em breve, estarão adequando a linguagem, o conteúdo e o formato da notícia e da publicidade veiculadas, para que esse novo leitor, ouvinte ou telespectador possa receber a informação e as mensagens publicitárias da melhor maneira possível.

Muito provavelmente, esse enorme contingente de clientes, que utiliza diariamente os vários modos de transporte coletivo urbano na cidade de São Paulo, estará mais interessado em saber se chegará ao seu destino na hora prevista do que se a inflação subiu ou desceu meio ponto percentual ou se o Presidente Trump aprontou mais uma estripulia na política internacional.

Francisco Christovam
É presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo – SPUrbanuss. É, também, vice-presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado de São Paulo – FETPESP e da Associação Nacional de Transportes Públicos – ANTP e membro do Conselho Deliberativo do Instituto de Engenharia.