Tratamento de esgotos nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro

De início, deve ser salientado que o tratamento de esgotos nestas duas macro metrópoles está muito distante da universalização acarretando graves problemas de saúde púbica nestas cidades. Este quadro se repete praticamente em todo o Brasil, sendo raras as cidades que possuem sistema de esgotos com tratamento e as que possuem estão longe de atender a demanda. 

Nestas duas grandes metrópoles não se conhece sequer o real percentual de esgotos tratados e os números apresentados muitas vezes não correspondem à realidade o que pode induzir a erros de planejamento e se subestimar a verdadeira dimensão do problema. 

Existem de fato vários índices para medir o percentual de esgoto tratado de uma cidade, sendo o mais comum aquele que relaciona esgoto tratado com esgoto coletado induzindo a interpretações equivocadas, uma vez que a maior parte do esgoto gerado não é coletada em rede de esgotos que se encaminha à uma depuradora (ETE). De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações de Saneamento – SNIS, na RMSP, o percentual de esgoto tratado em relação ao volume coletado atinge atualmente cerca de 62 % e com um índice de 80% de esgoto coletado. No Grande Rio, ainda segundo o SNIS, o percentual de esgoto tratado em relação ao coletado é de cerca de 85%. 

Entretanto, uma melhor estimativa destes percentuais poderia ser feita a partir do estabelecimento de um balanço hídrico delineado da seguinte forma: A Região Metropolitana de São Paulo com uma população de 19,7 milhões de habitantes (2010) trata atualmente em suas 5 estações de tratamento ( Barueri, ABC, Novo Mundo, São Miguel e Suzano) 15,7 m3/s (media de 2010), ou o equivalente a 7,5 milhões de pessoas, de acordo com medições da carga orgânica realizadas no esgoto afluente à cada ETE. Em termos de vazão, o percentual tratado seria de 32%, considerando uma geração de esgotos de 49,6 m3/s estimado com base na produção de água tratada de 67 m3/s levando-se em conta o percentual, medido pela Sabesp, de 26% de perdas físicas de água tratada. Estas estimativas não levam em conta, contudo, a parcela de água captada do sub solo, estimada em 10 m3/s, principalmente pelas atividades agrícola e industrial.(Parte desta água é oriunda do aqüífero freático, cuja recarga parece em grande parte ser suprida pelas perdas de água oriundas do sistema adutor metropolitano, uma vez que tem sido constatado que não há ocorrência da variação de nível de água do aqüífero na região). 

Se, entretanto, a base de cálculo for a população da RMSP o percentual tratado atingiria 38%. Todavia, este número também agrega parte dos despejos industriais pré – tratados e a parcela correspondente à poluição difusa lançada na rede. Por esta razão o percentual obtido pelo balanço hídrico (32%) parece ser o mais realista no âmbito das duas bases apresentadas. 

Já a Região Metropolitana do Grande Rio, com uma população de 11,7 milhões de habitantes (2010), trata atualmente em seu sistema de esgotos sanitários, constituído de 9 estações de tratamento (Penha, Alegria, Ilha do Governador,Acari. Pavuna, Sarapuí, Icaraí, Toque Toque e Barreto) e 2 emissários submarinos (Ipanema e Barra), quase todas localizadas na Capital, um total de 13,2 m3/s (media de 2010), ou o equivalente a 6 300 000 pessoas. Em termos de vazão, o percentual tratado seria de 44 %, considerando-se uma geração de esgotos da ordem de 30 m3/s estimada com base na produção de água tratada de 43 m3/s levando-se em conta o percentual de 30% de perdas físicas de água tratada estimado com base em dados do SNIS. 

Se, por outro lado, a base de cálculo for a população do Grande Rio o percentual tratado atingiria 42 %, percentual similar àquele calculado com base no balanço hídrico (44%). 

Por estes dados pode-se perceber quão alta é a carência de tratamento de esgotos nas duas maiores cidades do Brasil o que remete a necessidade de se encetar esforços no sentido de se elevar a capacidade de tratamento e principalmente estender a rede de coleta e ligações prediais. Por mais paradoxal que possa parecer, a maior parte dos sistemas de tratamento existentes em ambas as cidades opera com ociosidade (12.8% em SP e 47% no Rio)