Brasileira do balé Bolshoi é aceita para estudar engenharia no MIT

Uma estudante brasileira, bailarina da Escola do Teatro Bolshoi, foi aceita para estudar engenharia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, uma das instituições de ensino mais conceituadas do mundo. Luana Lopes Lara, de 17 anos, recebeu a notícia de sua aprovação em Salzburgo, na Áustria, onde apresenta “O Lago dos Cisnes” com a turma do Bolshoi, de Joinville (SC), única filial do mundo da famosa companhia russa. A jovem que já fez parte do corpo de balé do Theatro Municipal do Rio deverá trocar as sapatilhas pelos cálculos em robótica. Luana quer levar a leveza do balé para o movimento dos robôs.

Para realizar o sonho de ser engenheira e estudar no exterior, Luana vai ter de abandonar o Bolshoi, sua paixão. Ela está na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil desde 2011, quando teve de se mudar para Joinville (SC). Luana nasceu em Minas Gerais, mas morava no Rio de Janeiro com os pais e a irmã. A mãe se mudou com ela para Santa Catarina.
Desde janeiro Luana está com a companhia na Áustria para uma temporada de oito apresentações do espetáculo “O Lago dos Cisnes”. Fica por lá até dia 8 de abril. Por isso, não estava junto com a família quando recebeu o ‘sim’ do MIT. Ela pretende estudar engenharia elétrica, o pai e a irmã também são engenheiros.

“MIT era o que eu mais queria por ser a melhor na área de engenharia, mas não tinha esperança de ser aprovada”, diz a estudante que também foi aprovada no curso de engenharia elétrica da UFRJ, com a nota que tirou no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Levei um susto quando vi, chorei, me emocionei, liguei para meus pais, mas ainda me pergunto como consegui, não tenho olimpíadas internacionais, mas acho que deve ter sido o balé e o fato de eu estudar muito focada.” 

Os planos iniciais da bailarina são de trabalhar com robótica. “Adoro movimento e quero deixar o movimento dos robôs mais naturais, mais orgânicos. O balé vai me ajudar nisso. Sempre tive vontade de deixar minha marca no mundo através dos meus sonhos e acho que é por meio da engenharia que vou pode concretizar.” 

Deixar o Bolshoi não vai ser fácil, mas a brasileira pretende participar dos grupos de dança da universidade ou procurar escolas de balés próximas aos campi. “Adoro dançar, mas fazer engenharia e estudar fora sempre foi meu maior sonho.”
Para dar conta da rotina puxada que envolvia estudos e ensaios no ano passado, Luana dormia muito pouco. Teve semana que chegou a dormir somente 7 horas.

“Não consigo fazer nada mais ou menos, tinha de ir muito bem na escola, no balé. Tive de abrir mão de algumas coisas, mas sabia que se eu me dedicasse, iria valer a pena.” 

Mesmo longe de ter o estereótipo, Luana não escapou da fama de nerd na escola. “Os meus amigos falavam de brincadeira e eu encarava mais como elogio. Nunca levei para o lado ruim. Tenho uma vida normal, saio com meus amigos, gosto de ver TV, assistir futebol e comer pizza.”
MIT chama outros dois brasileiros 

O resultado dos brasileiros aprovados no MIT saiu na na última sexta-feira (14), Dia do Pi, quando, tradicionalmente, um dos institutos de tecnologia mais importantes do mundo, divulga o nome dos estudantes aceitos. As aulas começam em agosto. Além de Luana, outros dois brasileiros foram chamados: Pedro Franceschi, 17, e Rodrigo Sanches Angelo, 18, ainda não sabem se vão estudar no MIT porque dependem do resultado dos outros applications (processo seletivo americano) que deve sair até o fim do mês. Outros dois brasileiros ficaram na lista de espera.

Os estudantes brasileiros ainda esperam o resultado dos applications (processo seletivo americano) de outras universidades, entre elas Harvard, que deve sair até o fim do mês. Outro determinante para a matrícula, que ocorre até maio, é o valor da bolsa de estudo que será concedido pelas instituições. Estudar em uma universidade de ponta dos Estados Unidos pode custar até R$ 500 mil os quatro anos, incluindo hospedagem e alimentação, e a bolsa é oferecida a partir da condição socioeconômica da família. 

Pedro Franceschi mora em Botafogo (RJ) e desde criança já fazia programações no computador. Aos 12, foi trabalhar em uma empresa de tecnologia, e no ano passado, aos 16, abriu uma própria empresa de pagamentos pela internet. “Comecei a programar com 8 ou 9 anos e nunca mais parei. As pessoas achavam curioso, mas não sei dizer de onde veio. Nasci com isso, paixão não é algo que se cria, nasce com a gente.” 

O brasileiro optou por estudar engenharia da computação nos Estados Unidos por conta do empreendedorismo que é muito fomentado lá fora. “No MIT, por exemplo, há laboratório para montar start up e transformar em negócio rentável. O meio acadêmico te dá forma de transformar a ideia em negócio.” 

O lado ruim, segundo ele, da vida longe do Brasil, será a distância da família e dos amigos. “Mas quando isto ocorre por um ideal, as coisas mudam um pouco de figura. Em Boston faz menos dois graus no inverno, no Rio 30 graus, a diferença é brutal. Mas tudo bem, ruim vai ser ficar longe da família, mas a tecnologia pode ajudar a matar as saudades. Vai dar para levar.”

Matemática e computação 

Para Rodrigo Sanches Angelo, morador de São Paulo, o forte de sua candidatura foi a participação em olimpíadas de matemática. Ele diz que não conta as medalhas que já recebeu “porque cada uma tem um valor diferente”, mas só de competições internacionais foram duas. Uma de prata, na Olimpíada Internacional de Matemática (a sigla em inglês é IMO), na Colômbia, no ano passado, e uma de ouro, na IMO, de 2012, na Argentina. 

Rodrigo participa de olimpíadas desde os 14 anos, e foi nesse universo que descobriu que gostaria de fazer faculdade nos Estados Unidos. Mas neste ano também chegou a prestar o vestibular da Fuvest, foi aprovado no curso de ciências da computação da Universidade de São Paulo (USP). 

Fora do Brasil, Rodrigo pretende estudar algo entre matemática e ciências da computação, também não descartar trabalhar com pesquisa em matemática. Nos Estados Unidos o estudante pode escolher o curso em que quer se graduar só depois de dois anos. Neste período, o aluno pode optar por disciplinas que mesclem diversas áreas do conhecimento. 

“Agora é aguardar os outros resultados, mas foi muito bom ver a aprovação no MIT, fiquei bastante emocionado. Vai ser difícil ficar longe da família, dá uma insegurança, mas acho que vou ter muito apoio, também por parte da universidade.” 

Os três brasileiros aprovados receberam apoio e orientação da Fundação Estudar durante a candidatura das vagas nas universidades estrangeiras.

Autor: G1