Tecnologias de despoluição conseguem devolver oxigênio ao Rio Pinheiros

Tecnologias de despoluição aplicadas paralelamente ao programa que busca a universalização do tratamento de esgoto no Estado podem contribuir para devolver o oxigênio ao Rio Pinheiros. Essa é a conclusão de um estudo conduzido pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente obtido pelo Estado.

O trabalho partiu de uma estratégia inédita de avaliar a eficácia das tecnologias candidatas replicando as condições do próprio rio. Assim foram criados seis canais com a água do próprio Pinheiros e o mesmo ritmo de vazão. Em cada um foi aplicada uma das técnicas ao longo de 30 dias. Em um outro canal era mantida a água sem nenhum tratamento, para comparação.

As coletas mostraram que em geral as seis tecnologias foram capazes de aumentar a presença de oxigênio ao mínimo de 2 miligramas de O2 por litro. Na situação atual o rio tem zero de oxigênio. De acordo com o secretário Bruno Covas, essa elevação, juntamente com outras melhorias observadas, colocaria o rio na categoria de “classe 4” – o que seria suficiente para o rio poder desaguar nos mananciais da Billings ou da Guarapiranga sem tratamento adicional.

“É claro que o maior investimento na despoluição do rio é no saneamento. E seguimos trabalhando na meta de universalizar a coleta e o tratamento até 2019. Mas o que vimos é que essas tecnologias podem ajudar”, diz Covas.

“O Pinheiros deixaria a condição de rio morto, hoje ele é praticamente um esgoto, para um rio poluído, mas com oxigênio, sem odor e com aspecto melhor”, complementa o secretário adjunto Rubens Rizek, que coordenou os trabalhos.

Indicadores. Outros indicadores avaliados foram a presença de sulfetos, substâncias responsáveis pelo mau cheiro; de nitrogênio e fósforo, que podem provocar a proliferação de algas; de surfactantes, responsáveis pela espuma; de sólidos suspensos e a geração de lodo. Na maioria dos casos, houve melhoria dos indicadores. Em um dos canais, após a melhora dessas condições, a empresa que fazia o teste chegou a criar peixes no local, a fim de mostrar a saúde da água.

A infraestrutura dos canais, construídos ao lado Usina Elevatória de Traição, a captação da água do rio, os estudos sobre a vazão e a fiscalização dos trabalhos ficaram a cargo de uma equipe multidisciplinar. Sob coordenação da secretaria, reuniu técnicos da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), da Sabesp, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), da Faculdade de Saúde Pública da USP e da Associação Águas Claras do Rio Pinheiros.

Os custos foram pagos pelas seis empresas participantes: Bauer, Beraca, Superbac, DT Engenharia, Engeform e Evonik. Metade delas usou tecnologias biológicas (como uso de fungos, bactérias ou enzimas) e outra metade, físico-químicas (eletrocoagulação, flotação e oxidação).

Os resultados foram entregues nesta quarta-feira, 12, pela secretaria, para o governador Geraldo Alckmin e um grupo de trabalho responsável pelo Plano de Despoluição dos Rios da Região Metropolitana de São Paulo. A pesquisa só investigou a eficácia das tecnologias. É esse grupo que vai avaliar agora sua viabilidade econômica. Os custos de cada uma não foram considerados nesse primeiro momento.

De acordo com Covas, o projeto só vale para o Pinheiros. O Rio Tietê não poderia se beneficiar dessas tecnologias por conta da diferença da poluição dos dois principais rios que cortam a capital paulista. Enquanto no Pinheiros prevalece a chamada poluição difusa (que vem dos dejetos levados ao leito pela chuva), no Tietê, o maior impacto é do esgoto despejado irregularmente. Neste caso, a despoluição depende mais fortemente da melhora do tratamento de esgoto.

Malu Ribeiro, especialista em recursos hídricos da SOS Mata Atlântica, lembrou que não existe mágica para solucionar a poluição além de tratar o esgoto e evitar o lançamento de efluentes na fonte. “Mas quando a situação é crítica e incomoda muito a população, como é a questão do odor do rio, e considerando que o tratamento de esgoto é uma coisa lenta, é positivo ter ações complementares que melhorem a oxigenação. Mas desde que não se distanciem da estratégia macro, que é o tratamento do esgoto e o combate à poluição na origem”, alerta.

Autor: O Estado de S.Paulo